Meus caminhos, agora, são outros.
Não mais os sonhos
nem mais as esperanças.
Distante de ontem,
permaneço-me neste hoje
que é meu amanhã.
Afastei de mim todas as ambições
para fixar-me
na moldura da minha infância:
menino descalço, correndo pelas ruas,
subindo nos muros dos quintais floridos
colhendo frutos
na sede de matar a fone...
A fome que ficou com outros meninos,
que morreram nas estradas,
sepultados nos caminhos.
Não. Ficar só, estar só.
Como o padre histórico
das lendas longínquas,
escrever poemas na areia,
rugas na face da terra umedecida
com a tinta d’água salgada,
molhada de lágrimas.
Ficar só. Olhar a história
que ouvia em criança,
olhando outros meninos,
enxergando outros homens.
Ficar. Parar aqui. Beber vinho
das minhas emoções,
e banhar-me com a luz das estrelas.
Ficar. Ficar na terra,
devolvido para ela,
e ficar no silêncio das coisas esquecidas.
Sim, meus caminhos, agora, são outros.
* Paulo de Tarso Moraes. “Retratos do meu Eu” (inédito).