Como em todos os anos, o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem ampla repercussão no país. Na tarde desse domingo (5), primeiro dia das provas do Enem 2023, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou o tema do texto dissertativo exigido pelo exame: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua 2022, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, enquanto os homens utilizam 11,7 horas. Ao detalhar a proporção do trabalho doméstico entre as mulheres, a pesquisa verificou que as pretas têm o maior índice de realização das tarefas (92,7%), superando as pardas (91,9%) e brancas (90,5%).
Essa situação, na avaliação de especialistas ouvidas pela reportagem, pune, excessivamente, as mulheres, principalmente negras, criando barreiras para entrada no mercado de trabalho em igualdade de condições, bem como para a participação na vida pública e em outros espaços sociais ainda dominado por homens.
“É uma realidade para a qual não se presta muita atenção, há uma naturalização de que a tarefa de cuidar das pessoas é algo que compete às mulheres, algo que se entende como uma natureza feminina. Isso tem a ver como uma forma que se organiza as tarefas de gênero na sociedade, a provisão de recursos, o que sobrecarrega as famílias”, aponta a socióloga Laís Abramo (foto), secretária nacional de Cuidados e Família, órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS).
Para ela, que está à frente de um grupo de trabalho (GT) para elaborar a Política Nacional de Cuidados, o tema ter sido cobrado na redação do Enem é algo muito necessário. “Sabemos da importância dessa prova em termos de democratização do acesso ao ensino superior e de que todos os temas colocados na redação são momentos de reflexão. Quando vi, fiquei muito contente”, comentou em entrevista à Agência Brasil.
A expectativa de Laís Abramo é que, em maio do ano que vem, o governo federal apresente propostas de um marco normativo que reconheça efetivamente o direito ao cuidado, e os direitos de quem cuida, além de fomentar a ampliação de políticas públicas já existentes e, até mesmo, a criação de novos direitos.
A jornalista e pesquisadora Ismália Afonso, oficial para os temas de gênero e raça do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil, também destaca o alcance que o assunto ganhou ao ser cobrado na prova do Enem, “que tem uma força para pautar do debate público”. “Além disso, o tema da redação parte da ideia de que a gente olha para desigualdade, não se discute se o problema existe ou não. Isso nos coloca em outro patamar de discussão”, observa.
Autora do livro Nem trabalha nem estuda? Desigualdade de gênero e raça na trajetória das jovens da periferia de Brasília (Appris, 2018), a pesquisadora também argumenta que a invisibilidade do trabalho de cuidado feito por mulheres, não apenas no Brasil, é uma expressão da desigualdade de gênero, ou seja, da estrutura social que valoriza homens e mulheres de maneiras diferentes. “Homens não são preparados para naturalizar certos tipos de trabalho, enquanto mulheres são socialmente construídas para isso. Ainda que haja legislações que remunerem mulheres pelo trabalho de cuidar, a gente precisa fomentar uma mudança cultural”, defendeu em entrevista à Agência Brasil.
Referências internacionais
A retomada das políticas sociais por igualdade de gênero no país, que foram descontinuadas nos últimos anos, também busca colocar o Brasil no patamar de outros países latino-americanos que avançaram nos últimos anos. Um decreto editado pelo governo argentino, em 2021, passou a reconhecer o cuidado materno como tempo de serviço considerado para a concessão de aposentadoria.
“Estamos, desde o começo dessa discussão, olhando muito para as experiências internacionais. Existem vários países da América Latina que estão mais avançados na estruturação de políticas nacionais de cuidado”, aponta.
Laís Abramo cita uma experiência de Bogotá, capital da Colômbia, que instituiu os chamados Quarteirões do Cuidado, que são equipamentos públicos como lavanderias coletivas, cozinhas solidárias e restaurantes populares concentrados em um raio territorial pequeno, como forma de mitigar o tempo e o esforço do trabalho de cuidado.
No Brasil, a secretária nacional de Cuidados e Famílias destaca, por exemplo, o pagamento adicional de R$ 150 aos beneficiários do programa Bolsa-Família com crianças até 6 anos de idade, que foi instituído em março. “O cuidado é um direito humano. Todas as pessoas precisam de cuidado. E a gente entende que o cuidado é um trabalho, que implica muitas horas diárias ao longo da vida inteira. Você não pode fazer com que a provisão desse cuidado recaia sobre as mulheres de maneira não remunerada”, argumenta Laís Abramo.
Na próxima quarta-feira (8), em Brasília, o governo federal vai sediar um seminário internacional, com altas autoridades da área de assistência social dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), justamente para debater o fortalecimento de políticas públicas sobre o cuidado. O evento ocorre no contexto da presidência temporária do Brasil à frente do bloco regional sul-americano.
Propostas em debate
Entre as propostas que estão em debate no GT criado pelo governo federal está a ampliação da licença-maternidade para mães que estão fora do mercado de trabalho. A licença-paternidade, atualmente de apenas 5 dias para trabalhadores com carteira assinada, é considerada insuficiente por especialistas. Também está em estudo a ideia de instituir uma licença-parental, que seria um período de afastamento a ser dividido entre os pais ou responsáveis legais da criança.
Há, também, metas na área da educação que têm impacto direto na mitigação desse trabalho não-remunerado, como a meta de ampliar o acesso à creche para 50% das crianças de 0 a 3 anos. Atualmente, essa cobertura está em 35%. A ampliação da escola em tempo integral desde o ensino fundamental também é considerada medida fundamental para evitar que mulheres tenham que abdicar de trabalho ou carreira para cuidar dos filhos durante o turno em que não estão na escola.
Para Ismália Afonso, enfrentar esse desafio requer um leque amplo de medidas, inclusive um novo pacto social. “Precisamos atuar tanto do ponto de vista das políticas públicas quanto do ponto de vista de um novo acordo social, sobre quem faz o quê dentro das famílias, dentro do mundo do trabalho não remunerado e dentro da estrutura social que atribui poderes diferentes para homens e mulheres”, diz.
Prefácio ao livro “Simplesmente Crônicas”, de Vítor Gonçalves Neto, uma seleção “post-mortem” feita pelo escritor caxiense Quincas Vilaneto [Joaquim Vilanova Assunção Neto].
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Se ler, como diz a Etimologia, é um ato de juntar, escrever é a arte de cortar.
Reunir palavras é leitura. Escrever é incisão, supressão – corte e costura.
Está aí algo em que era alfaiate, cirurgião e mestre Vítor Gonçalves Neto, o mais maranhense dos piauienses, o mais caxiense dos teresinenses.
Como a reconfirmar que “nos menores frascos, as melhores fragrâncias”, as crônicas contidas do Vítor perfumista da palavra são assim textualmente curtas... e olfativas. E táteis. Auditivas. Visíveis. Sensitivas.
Repare você nas crônicas “vitorianas” a concisão rima e recurso de precisão. Os períodos breves – e os prolongados sentidos, como gotas de essência odorando o ar, sem se volatilizar.
“Simplesmente Crônicas”, esta nova obra “post-mortem” de Vítor Gonçalves Neto, sai sob o esforço e a responsabilidade do escritor Quincas Vilaneto, que não é outro senão o caxiense de boa cepa e ótimas letras Joaquim Vilanova Assunção Neto.
São 28 textos que trazem um Vítor cronicando sobre o crônico urbano que é política, problema e paisagem e sobre a paisagem que é natural, política, social, cultural, artificial. E coisa e tal. Leia-se, por exemplo, as/nas crônicas “O Bairro”, “Necessidade”, “Questão”, “Trânsito”, “Mudez”, “Crepúsculo”, “Beco”, “Vereança”, “Chatice”, “Surpresa”, “Açúcar”, “Tragédia”, “Giro”...).
São 28 textos que trazem do Vítor uma amostra de seu escrever poético e espírito bem humorado. As sacadas de gênio. Comparações. Analogias. Construções. “Finesse”. “Humour”.
Sinta-se como Vítor descreve a necessidade de um amigo: “(...) lhe faltava qualquer coisa. Que (...) não existia nas vitrinas. Nos prostíbulos nem nos bares. Nem mesmo nos olhos puros das crianças. (...) Faltava-lhe paisagem. Coisa de que seus médicos não haviam cogitado (...). E que o curou radicalmente após quatro crepúsculos vespertinos num campo muito verde aonde garças muito brancas brincavam de cegonha. (...)”.
Vítor mostra que no vinho não há apenas verdade (“In vino veritas”), mas também humor. Humor de verdade. Na crônica “Inocência”, o “humour” “vitoriano” mostra-se, leve, enométrico: “Fui ver o falado filme ‘Marcelino, Pão e Vinho’. Mais por causa este último que esse negócio de Pão não interessa muito... e Marcelino muito menos. Todavia percebi decepcionado logo de início que o Vinho lá é muito pouco”.
O talentoso Vítor, adestrador da língua, sem o academicismo da Linguística, comete crônicas metacrônicas, metajornalísticas, metaliterárias, metalinguísticas. Como em “Sistema”: “Difícil é tão somente o começar. Aquele namoro íntimo com as palavras buscando um título”.
E em “Seriedade”: “Meu desejo mesmo era mudar o rumo deste bate-papo diário para coisa que valesse. (...) Falar de coisa séria como reforma cambial ou a energia atômica. (...) Não! Diabos me carreguem se isso tudo não for pura embromação para encher tempo e espaço... e saco também”.
Em “Insistindo”, Vítor esclarece sobre seu próprio espaço no jornal em que escrevia: “Quero contudo insistir junto aos leitores na diversidade do que vai acima e abaixo do nome deste que lhes escreve. (...) Não se espantem quando eu escrever acima um necrológio e abaixo publicar um samba de Carnaval. Ou vice-versa”. (...)
Mas, além do humor às vezes sereno e muitas das vezes sarcástico – ou sacana –, é na palavra poética, na metáfora singular, que Vítor Gonçalves Neto se revela domador de palavras, sentidos, sensações, sentimentos. A pouquidade deste livro recomenda contenção nos exemplos. Eis alguns momentos em que este “Simplesmente Crônicas” é simplesmente poesia:
“Um livro aberto lê para meus olhos um poema de saudade”. (Nesta crônica, “Tristeza”, Vítor subverte a condição “natural”, resultando que, ao invés de os olhos lerem um poema do livro, é este – o livro aberto -- que “lê” para os olhos).
“Agora dentro em mim o silêncio – cresce feito espiga”. “Galos em atraso na hora”. (“Mudez”)
“Um silêncio de peixe morto invade as águas da memória”. (“Solidão”)
“O sol espia o ocaso com um longo olhar de suicida”. (“Crepúsculo”)
“Vento sem pátria nem fronteiras que baila e assovia e é quente e frio e é brisa e aragem e furacão. Vento danado que vem do céu”. (“Inveja”)
“Quem conhece de perto a emotividade de sua gente. A ternura de seu povo. Só quem viveu a vida daquelas vielas. Quem vadiou aquelas ruas e percorreu suas ladeiras”. (“Tragédia”)
E para parar: “Agora a noite chega de manso como um ladrão ciente. Lá vem a aragem do acabar da tarde mais doce que a esperança. Mais presente que a saudade. O céu nesta hora visto é muito mais belo que a ternura. E dentro em nós perdura um tanto a poesia do anoitecer”. (“Suavidade”)
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Bom seria se os textos de Vítor Gonçalves Neto fossem tão de todos quanto o são de tudo. Que fossem de conhecimento do mundo como são dos amigos e conhecidos.
Ao trazer a público mais uma mancheia de textos “vitorianos” enfeixados em livro, Quincas Vilaneto contribui para relembrar e realumbrar o grande escritor que é Vítor Gonçalves Neto.
Caxias e o Maranhão e o Brasil poderiam fazer mais pelo Vítor, o cronista, o poeta. No dia 23 de junho de 1989, às duas e meia da madrugada, meu amigo Vítor Gonçalves Neto mudava de vida. Assim, discreto.
Ou, como (d)escreveu em “Tristeza”, crônica aqui incluída, morreu “um tanto assim muito de manso”.
Saudades, Vítor.
LIVRO DO MAIS CAXIENSE DOS PIAUIENSES COMPLETOU 50 ANOS DE LANÇAMENTO EM 2013 E 60 ANOS DE ESCRITO EM 2014
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Vítor Gonçalves Neto escreveu, em 1954, romance "Roteiro das 7 Cidades", publicado em 1963
O jornalista e escritor Vítor Gonçalves Neto completaria 89 anos em 8 de novembro de 2013, mas faleceu há 25 anos, em 23 de junho de 1989, em Caxias. Ele dirigiu por décadas os jornais caxienses “Folha de Caxias” e “O Pioneiro”.
Nascido no Piauí (Teresina) em 4 de novembro de 1925 e calejado por andanças e fazimentos por todo o país, Vítor Gonçalves é autor de “Roteiro das 7 Cidades”, livro que completou – sem repercussão – meio século de lançamento em 2013. O romance, cheio de referências da realidade da época, como protagonista o Assunção, "poeta, jornalista, escritor, filósofo, boêmio, doido" e tem como majestoso cenário as Sete Cidades, formações rochosas que se estendem entre os municípios piauienses de Piracuruca e Piripiri.
Na ilustração, a capa do livro. Em (re)lembrança, colocarei aqui alguns textos para os que se interessarem em conhecer mais e melhor a vida e obra(s) de Vítor Gonçalves Neto, que, quando eu tinha 13 ou 14 anos de idade e era menor estagiário do Banco do Brasil em Caxias, me convidou para escrever no jornal “O Pioneiro” (eu à época era diretor cultural da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e redigia o jornal da –entidade, "O Sabiá", de cujas edições o Vítor – que vez ou outra visitava a agência bancária -- deve ter tomado conhecimento; daí o convite).
Vítor Gonçalves Neto faleceu em Caxias em 23 de junho de 1989. Só soube de sua morte dias depois, a tempo de, eu morando fora, chegar a Caxias para a missa do sétimo dia, quando pude apresentar condolências à viúva, Dona Edna, professora, e aos filhos Jandir (meu amigo e colega de turma no ensino médio do Colégio São José), Miridan e Jorge Eugênio, jornalista, prestes a se formar em Direito, que por uns tempos seguiu o ofício – e sacrifício – do pai, ficando à frente do jornal “O Pioneiro” em heroica tentativa de mantê-lo circulando. Jorge Eugênio e sua mulher, a professora Ana Lúcia, em Caxias, desejam revitalizar a Fundação Vítor Gonçalves Neto.
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 traz à luz uma questão estrutural da sociedade brasileira: mulheres que cuidam de familiares, de filhos, de companheiros e da casa e que, muitas vezes, têm duplas ou triplas jornadas diárias sem opção de escolha e sem remuneração ou reconhecimento. Para professores de redação entrevistados pela Agência Brasil o tema segue a linha de temas anteriores, chamando atenção para uma problemática social. Apesar disso, pode ser bastante desafiador para os candidatos do exame.
O tema da redação deste ano é "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil".
Ao ler o tema, a professora de língua portuguesa e produção textual do Colégio Mopi Tatiana Nunes Camara comemorou: “Eu adorei. Eu acho que é bem interessante porque nós, mulheres, temos realmente tantos trabalhos e não temos reconhecimento nenhum. São tantas mulheres com tantas jornadas de trabalho dentro e fora de casa”, diz.
Segundo a professora, o tema é atual e está em linha também com acontecimentos recentes deste ano. Um deles é o lançamento e o sucesso de bilheteria do filme Barbie. O filme discute a organização patriarcal da sociedade em contraposição ao mundo da Barbie, onde as mulheres ocupam a centralidade e os cargos de liderança. O filme, de acordo com a professora, pode servir de repertório para a elaboração do texto.
Além disso, o governo brasileiro anunciou, este ano, a criação de um grupo de trabalho para a elaboração da Política Nacional de Cuidados. A política é voltada para aqueles que cuidam de crianças, de adolescentes, de pessoas com deficiência ou com alguma limitação, trabalho majoritariamente realizado por mulheres. Segundo o grupo, as mulheres dedicam ao trabalho de cuidados não remunerado no interior dos seus próprios domicílios em média 22 horas por semana (o dobro do tempo dos homens).
“Eu acho que o aluno que estudou, que acompanhou as notícias e toda essa trajetória de assuntos está bem preparado e vai conseguir fazer”, diz Camara. Um dos erros que os estudantes podem cometer é, segundo a professora, questionar se esse trabalho é invisível ou mesmo se é um trabalho. “[O candidato] vai ter que ter cuidado para entender que o tema foca na invisibilidade do trabalho de cuidado. Ou seja, não é para questionar se é ou não invisível. Ele é invisível. Tem que partir de que o Inep já está dizendo que é invisível”.
Os estudantes precisam também elaborar uma proposta de intervenção, ou seja, o que é preciso fazer para buscar uma solução para a questão. “A gente pode pensar em subsídios fiscais para empresas contratarem mulheres, em investimento público em creches públicas, porque muitas mães não conseguem trabalhar porque não têm com quem deixar os filhos e na criação de leis que garantam subsídios a essas mulheres cujo trabalho muitas vezes, quase nunca é reconhecido”, diz.
Para o professor de língua portuguesa Noslen Borges, da plataforma Clube do Noslen, o tema segue a linha de edições anteriores da prova. “Eu acho que vem dentro do histórico do Enem, que trabalha com problemáticas brasileiras, focando em grupos deixados de lado. Isso faz parte da estrutura do Enem”, diz.
Segundo ele, mais do que uma discussão pertinente, é uma realidade há muitos anos não só no Brasil, mas em todo o mundo. “Com certeza, esse trabalho invisível é um tema pertinente e profundo, mas não sei o quanto os adolescentes conseguem discutir sobre isso. E que esse tema não fique só no Enem, mas que essa discussão venha para a sociedade”, acrescenta.
Segundo o professor, os estudantes devem buscar qualificar a discussão. Citar filmes e livros e situações em que isso acontece pode ser formas de qualificar o texto. Em relação à proposta de intervenção, ele diz que um caminho é propor a criação de leis para que esse trabalho saia da invisibilidade e que as pessoas recebam suporte e mesmo bolsas para essas atividades.
A professora de redação da plataforma de estudos Descomplica Roberta Panza diz que é importante os candidatos se aterem ao que está sendo pedido na prova. Um caminho é discutir no texto por que é tão difícil combater a invisibilidade desse trabalho. “É muito importante que o aluno entenda a força da palavra enfrentamento. Estamos falando de combate a uma perspectiva. Tem que refletir por que é tão difícil combater a invisibilidade desse tipo de trabalho”, explica
De acordo com Panza, o tema chama atenção não apenas para um recorte de gênero, por ser um trabalho mais realizado por mulheres, mas também para o recorte racial, já que muitas vezes são as mulheres negras que desempenham essas atividades. Outro ponto a ser levado em consideração é que historicamente esse tipo de trabalho é relegado às mulheres, mas as tarefas domésticas podem ser feitas por todas as pessoas que moram na casa. “É um risco associar só à mulher”, diz a professora.
Ela aponta ainda como uma das problemáticas que podem ser incluídas no texto o fato de que mudanças poderiam ser feitas por meio de leis, mas as leis são feitas majoritariamente por homens, que são maioria nas casas legislativas. Segundo dados da Câmara dos Deputados, as mulheres ocupam 17,7% das cadeiras da Casa.
Enem 2023
Os participantes do Enem 2023 fizeram, neste domingo, as provas de linguagens, redação e ciências humanas. No próximo domingo (12), os candidatos farão as provas de ciências da natureza e matemática. Ao todo, são 180 questões, sendo 45 de cada área do conhecimento.
O Exame Nacional do Ensino Médio avalia o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. O Enem é a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). A nota também pode ser usada para ingresso em universidades no exterior.
O Canal Educação transmite, neste domingo, o programa Caiu no Enem, com a participação ao vivo de professores que irão analisar as principais questões que caíram na prova, das 20h às 22h. A primeira hora do programa também será exibida pela TV Brasil e emissoras da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP), das 20h às 21h. A Rádio Nacional retransmitirá a íntegra do programa para os ouvintes, a partir das 20h. O público pode participar enviando dúvidas e comentários para os perfis do Canal Educação nas redes sociais @canaleducacaobr e usando a hashtag #CaiuNoEnem.
Apresentação ao livro “Crônicas das Andanças”, incluindo o mais completo roteiro bibliográfico desse escritor caxiense nascido no Piauí. Texto revisto, atualizado e ampliado em 23/11/2020; escrito e publicado originalmente em 1995.
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No “roteiro” biográfico-sentimental que escrevi em 1989, e que se inclui neste livro com algumas alterações e atualizações, digo que o terceiro livro que Vítor Gonçalves Neto pretendia publicar tinha o título de “Sem Compromisso –100 Crônicas”.
Contei mal. Vamos começar do começo: os registros do próprio Vítor, cruzados com os de outras testemunhas, revelam que o primeiro livro que ele escreveu foi “Santa Luzia dos Cajueiros”, classificado como romance por Hindemburgo Dobal, embora o próprio autor o tivesse como novela. Romance ou novela, o texto foi escrito em algum espaço de tempo de 1943 a 1950, período que vai da época dos incêndios criminosos dos casebres de palha de Teresina, os quais deram “munição” para o texto, até o ano anterior à publicação do conto “Fogo”, em 1951, numa antologia baiana de contos regionais.
O conto “Fogo” foi escrito na Bahia e era, segundo seu autor, uma versão “espremida” (mais ou menos 12 páginas) de “Santa Luzia dos Cajueiros”, que tinha 25 capítulos (Santa Luzia era uma das ruas do Cajueiros, à época “o bairro mais sujo de Teresina, refugo de mulheres perdidas, homens embriagados, crianças que não queriam estudar”, também ameaçado pelos incêndios anônimos). Os originais do livro, conforme depoimento do autor, “ficaram perdidos em meio à biblioteca do poeta conterrâneo Martins Napoleão”. O conto “Fogo” foi republicado, como “plaquette”, em 1988, pela Editora Corisco, de Teresina.
Registre-se que, como subproduto do conto “Fogo”, Vítor escreveu, ainda na década de 50, um roteiro para uma companhia carioca de cinema. As autoridades de então impediram o filme de ser rodado.
Vítor Gonçalves escreveu também “Paissandu, nº 9” e “Caminho das Águas Turvas”, romances inacabados e, claro, não publicados. Rua Paissandu, número 9, era o endereço de uma “casa de mulheres perdidas na zona grã-fina”, como está no conto “Fogo”. Por sua vez, “Caminho das Águas Turvas” referia-se às águas barracentas do Rio Parnaíba, o caminho d’água dos barqueiros.
Em março de 1957, efetivamente, foi impresso o primeiro livro: o “clássico” "Conversa Tão Somente". Feito na Tipografia São José, em São Luís, o selo editorial, entretanto, era de Teresina (Caderno de Letras Meridiano). O livro reúne trinta crônicas, escritas de 1953 a 1957. A primeira parte é dedicada ao folclore. São cinco crônicas: uma sobre bumba-boi, três sobre “assombrações” e outra sobre brincadeiras de criança. Todos os textos são datados de 1953 e foram escritos em quatro diferentes localidades do Rio de Janeiro (Vila Isabel, Duque de Caxias, Nilópolis e Laranjeiras).
A segunda parte tem vinte crônicas e foi escrita em São Luís, de 1955 a 1957. É um registro das lembranças e elaborações do cronista acerca de cidades, viagens, mulheres, animais, coisas, ambientes, impressões. As últimas cinco crônicas formam “O livro de Edna”, dedicado naturalmente à futura mulher. "Conversa Tão Somente" saiu com sobrecapa, cuja “orelha” é assinada por Bandeira Tribuzi, nome de respeito e referência na história literária recente do Maranhão. A apresentação é do já citado Hindemburgo Dobal.
Em "Conversa Tão Somente" Vítor já manifestava sua intenção de publicar um “livro de memórias”, aproveitando o título de uma das crônicas: “Ponta de Calçada”, referência à Rua Pacatuba, uma antiga “rua de subúrbio da capital piauiense” que “daria um romance”.
Em agosto de 1963 apareceu o segundo livro. Diferentemente do anterior (que fora impresso no Maranhão, mas com edição do Piauí), este foi impresso no Piauí (Imprensa Oficial, Teresina) para as Edições Aldeias Altas, de Caxias, Maranhão. Era o "Roteiro das 7 Cidades" (assim mesmo, com o numeral sete), romance de 179 páginas ambientado no conhecido sítio de formações rochosas dos municípios piauienses de Piracuruca e Brasileira (este, criado em 1993). Ilustra a obra uma dúzia de fotografias e desenhos copiados dos originais de Ludwig Schwennhagen, historiador e filólogo austríaco que defendia terem sido os fenícios os primeiros habitantes do Piauí.
O livro foi escrito em 1954, no Piauí, e os originais com preciosas anotações/alterações à mão foram “esquecidos num banco da Praça Benedito Leite”, em São Luís, na noite de 12 de junho de 1955, um domingo. Oito anos depois, sem que o texto anotado fosse devolvido, Vítor Gonçalves publicou a cópia "in natura" que restava em seu poder. O livro não traz prefácio; apenas o nome do autor do desenho da capa e das três pranchas, Murilo Couto. Esqueceram-se de registrar o autor das fotos (teria sido o próprio Vítor?).
No verso da falsa folha de rosto do "Roteiro das 7 Cidades", a relação de obras do autor traz, como o próximo livro “a sair”, "Gentes e Chãos Eternos", com certeza outro livro de crônicas.
Portanto, desde 1963, Vítor Gonçalves Neto alimentava a ideia (porque o material, os textos, ele já os tinha) de publicar um novo livro. Desse modo, quando em 1977 ou 1978 eu o acompanhei até o Sioge (o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado [do Maranhão]) e testemunhei sua conversa com o diretor Jomar Moraes para publicação de um novo livro de crônicas (ao qual já dera o título: "Sem Compromisso – 100 Crônicas"), essa obra seria, pelo menos, a de número nove, caso as intenções do autor se realizassem e as condições permitissem.
A lista ficaria assim:
1) o romance (ou novela) "Santa Luzia dos Cajueiros" (escrito de 1943 a 1950; não publicado);
2) o conto “Fogo” (escrito na Bahia e publicado originalmente em 1951, republicado em outras antologias e, isoladamente, em 1988; republicado como “4ª edição” em 2002, número 4 da Coleção Contar, da Livraria e editora Corisco Ltda., de Teresina (PI). O “copyright” dessa edição está em nome do filho Jorge Gonçalves);
3) o roteiro para cinema baseado no conto “Fogo”;
4) e 5) os romances inacabados, provavelmente perdidos, "Paissandu, nº 9" e "Caminho das Águas Turvas", ambos de antes de 1957;
6) o livro de crônicas "Conversa Tão Somente", publicado em 1957;
7) o romance "Roteiro das 7 Cidades", publicado em 1963, dedicado a Luís da Câmara Cascudo, que Vítor chama de “o mestre”, a Odylo Costa, filho (“o amigo”) e “para Rachel de Queiroz, que – quando eu [Vítor] tinha 5 anos – foi minha primeira namorada”). “Roteiro das 7 Cidades” saiu também, como “3ª edição”, em 2015, número 47 da Coleção Centenário, da Academia Piauiense de Letras;
8) o livro (supostamente de crônicas) "Gentes e Chãos Eternos", anunciado em 1963; e
9) "Sem Compromisso – 100 Crônicas", esperado para 1978. Acerca deste, testemunhei também o Vítor passando as crônicas a limpo, rebatendo-as nas tiras de papel-jornal que ele usava como padrão para laudas do semanário que ele dirigia, "O Pioneiro". Não estarei enganado se disser que vi o maço de papéis com a centena de crônicas, datilografadas em vermelho.
Em 1995 foi publicado o décimo livro de Vítor Gonçalves Neto, edição “post-mortem” realizada por amigos de Caxias e Imperatriz: "Crônica das Andanças, dos Bichos, das Fêmeas e Outras Coisas Que Tais". O título do livro vem do nome da coluna, com pequena redução: no original, o nome da coluna tinha mais palavras, como “dos vivos e dos mortos”.
É importante ressaltar que Vítor já divulgara sua intenção de publicar um livro que reunisse crônicas dessa coluna, tanto que chegava a anotar ao final delas: “Reproduzida após revisão e seleção para livro em preparo” (sublinha nossa). Textos com essa observação podem ser vistos em edições de “O Pioneiro” dos primeiros meses de 1989. Do mesmo modo, conforme já anotei aqui, Vítor Gonçalves pretendera publicar, uma década antes, um livro de crônicas da mesma coluna, à época intitulada “Sem compromisso”.
"Crônica das Andanças (...)" reúne 25 pequenos textos de grande intensidade poética e imaginativa.
Embora modesta em forma, a obra é produto da consciência, da estima e dos esforços muitos de muitas pessoas: os poetas Renato Menezes e Jorge Bastiani, que fizeram a seleção dos textos; a família Gonçalves, na pessoa de dona Edna Silva Gonçalves, que deu o “de acordo” para a publicação; os autores dos textos que engrossam o livro e ratificam seu respeito, admiração e saudades do Vítor; novamente Renato Menezes, pela Editora Caburé (Caxias) e Adalberto Franklin (um piauiense maranhense que nem o Vítor) e equipe da sua Ética Editora, pelo empenho e especial carinho com que cuidaram da edição. À distância, mas chegando junto por intermédio dos onipotentes e onipresentes recursos da Informática e das teletecnologias, auxiliei na coordenação e formatação da edição. E assim este livro saiu em exatas duas semanas.
Em 2012, é publicado “Simplesmente Crônicas”, livro de Vítor Gonçalves Neto, com seleção de textos e organização de Quincas Vilaneto (Joaquim Vilanova Assunção Neto), escritor e pesquisador caxiense, e prefácio de Edmilson Sanches. A edição teve o apoio da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FAPEAD), criada em 2003 e vinculada à Universidade Estadual do Maranhão.
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A obra publicada nunca coincide com a obra produzida. Esta será sempre maior; a outra nunca necessariamente a melhor.
Muita coisa do Vítor e sobre o Vítor ainda está para ser feita. Precisa ser feita. Tem de ser feita. Vai ser feita.
Sua obra em verso (afora a poesia da sua prosa).
Os trabalhos feitos no Rio, em Salvador e São Luís, para citar só as cidades de primeira lembrança.
Seu material iconográfico.
Os livros que recebeu, autografados e dedicados.
Levantamento de seus personagens.
Mapeamento de localidades.
Indexação de assuntos.
Frequência vocabular.
Suas relações com grandes nomes do jornalismo, da literatura e da cultura regional e nacional.
... É um mundo de coisas que tem para ser recuperado, (re)trabalhado, divulgado, discutido. Afinal, Vítor Gonçalves começou nas redações aos dez anos de idade. Quase 55 anos de batente, vendo e escrevendo. Ouvindo e indo.
Com certeza os milhares de textos (artigos, crônicas, reportagens, poemas) de Vítor Gonçalves Neto no Piauí, Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro etc. formariam dezenas de livros, caso autoridades públicas e empresários financiassem a pesquisa, organização e publicação desse extenso material. Mas isto, e esperando saudável desmentido, só mesmo no mundo da imaginação...
O lançamento de "Crônicas das Andanças (...)" foi mais que uma homenagem ao Vítor que renascia setentão naquele 4 de novembro de 1995: foi também um exemplo, um estímulo e um alerta para as gerações caxienses de hoje e dos dias que hão de vir: não devemos esquecer as referências básicas da História e da Cultura de nossa comunidade. E Vítor Gonçalves Neto é uma dessas referências.
Talvez Vítor nem gostasse de tanto bafafá e ti-ti-ti. Porém chega um tempo em que não podemos fazer nossos gostos: é quando deixamos de ser realidade semovente e nos tornamos saudade permanente. As situações se invertem. Por exemplo, como jornalista e escritor, Vítor não podia escrever sem história.
Agora, não se pode escrever a História sem ele.
EDMILSON SANCHES
Ilustrações:
Capa dos livros "Crônica das Andanças", de 1995, “Conversa Tão Somente” (1957), “Roteiro das 7 Cidades” (1963), “Fogo”, 4ª edição, 2002), “Simplesmente Crônicas” (2012) e revista “Verbo”, da Academia Imperatrizense de Letras, número 17, março de 2005. O livro "post-mortem" “Crônicas das Andanças” traz na capa rara foto de Vítor Gonçalves Neto. A foto foi feita por Edmilson Sanches, com Vítor andando na larga calçada em frente à Associação Comercial, em Caxias, na década de 1980, durante visita do jornalista gaúcho Mário Gusmão, que era presidente da Associação Brasileira de Jornais do Interior (ABRAJORI).
O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano é: “Desafios para o o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.
A informação foi divulgada, neste domingo (5), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Além da prova de redação, na tarde de hoje, os candidatos inscritos no Enem fazem as questões de linguagens e códigos e de ciências humanas. A prova começou às 13h30, e o horário de término é 19h (horário de Brasília).
A prova de redação exige a produção de um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política. O candidato deverá defender um ponto de vista apoiado em argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão, formando uma unidade textual.
Também deve elaborar uma proposta de intervenção social para o problema apresentado no desenvolvimento do texto. Essa proposta deve respeitar os direitos humanos.
Ao elaborar a redação, os participantes devem ficar atentos às cinco competências que serão exigidas do texto:
* Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa;
* Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa;
* Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;
* Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;
* Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
Entre os critérios que podem conferir nota 0 à redação, estão a fuga ao tema, texto com até sete linhas, trecho deliberadamente desconectado do tema, desobediência à estrutura dissertativo-argumentativa e desrespeito à seriedade do exame.
A atriz Lolita Rodrigues morreu na madrugada deste domingo (5), aos 94 anos, em João Pessoa, capital da Paraíba. Ela estava internada para tratar de uma pneumonia. Lolita, que era atriz, cantora e apresentadora, foi também uma das pioneiras da TV brasileira.
Batizada como Sylvia Gonçalves Rodrigues Leite, Lolita adotou o nome artístico e iniciou a carreira participando de radionovelas, logo despontando como cantora de rádio. Passou pelas rádios Record, Bandeirantes, Cultura e Tupi, chegando a ganhar dois Troféus Roquette Pinto como Melhor Cantora.
Na inauguração da TV Tupi, em 1950, cantou o hino especialmente feito para aquela ocasião, o Hino da Televisão Brasileira, com letra do poeta Guilherme de Almeida. Apresentou os programas Almoço com as Estrelas e Clube dos Artistas, na TV Tupi de São Paulo.
Como atriz, interpretou a cigana Esmeralda, sua primeira protagonista, na telenovela O Corcunda de Notre Dame. Participou também da primeira telenovela diária, a 2-5499 Ocupado, formando um triângulo romântico com Glória Menezes e Tarcísio Meira. Atuou também em A Viagem, Uga Uga, Kubanacan, Zorra Total e Viver a Vida.
Lolita participou de um momento icônico no programa de Jô Soares. No dia 7 de abril de 2000, ela ocupou o mesmo sofá das amigas Hebe Camargo e Nair Bello.
Nas redes sociais, famosos e amigos despedem-se e prestam homenagens à Lolita. O apresentador Serginho Groisman postou: “Lolita hoje se junta a Nair, Hebe e Jô. Risadas garantidas no céu”.
Em uma postagem no Instagram, a atriz Lilia Cabral contou que tinha 8 anos quando conheceu Lolita. “Nunca esqueci”, relembrou.
“A Lolita era uma grande mulher, forte, inteligente, elegante, muito talentosa e linda. Jamais irei esquecer seu carinho e seu olhar tão responsável pelos profissionais da TV e seu amor. Meus sinceros sentimentos à família. Lolita, querida, as nossas conversas dariam um belo capítulo. Obrigada”, acrescentou.
O apresentador Cid Moreira postou um vídeo na conta do Instagram: “Me despeço da última do trio mais alegre que conheci na TV. Meu abraço aos familiares de Lolita Rodrigues que vai reencontrar suas amigas Hebe e Nair Bello e juntas vão se divertir no céu!”.
A TV Brasil também prestou uma homenagem à atriz. “Hoje, o Brasil se despede de uma das atrizes pioneiras da TV Brasileira. Lolita Rodrigues faleceu nesta madrugada, 5/11, aos 94 anos. A atriz, cantora e apresentadora estava internada para tratar de uma pneumonia. Todo nosso carinho aos fãs, familiares e amigos de Lolita”.
Uma vez um leitor me perguntou se eu havia percebido, na avenida principal da cidade, uma faixa cuja mensagem de amor não obedeceria aos padrões da norma culta da Língua Portuguesa.
Passando pela dita avenida, conferi. Estava lá: “PARABÉNS, N., PELO O SEU ANIVERSÁRIO. ESTA HOMENAGEM É UM POUCO DO TUDO QUE POSSO TE OFERECER”.
Vou frustrar aquele leitor. O que tem a mensagem? Há uma impropriedade: “pelo” seguido do artigo “o” (“pelo” já é aglutinação de preposição mais esse artigo).
Agora, é outro papo a “mistura”, numa mesma mensagem, da terceira pessoa do singular (“seu”, de "seu aniversário") com a segunda pessoa do singular (“te”, de "te oferecer").
Em defesa do emissor, poderíamos, “mutatis mutandis” [mudado o que deve ser mudado], repetir o professor Napoleão Mendes de Almeida: “Ortografia é processo de escrever a fala, e não processo de obrigar a escrever o que não se fala”.
No caso do “seu” + “te”, a mensagem reproduz um hábito dos mais arraigados no falar cotidiano brasileiro – a migração espontânea do “você” para o “tu” e vice-versa.
Foi essa mesma singeleza e despreocupação, essa informalidade própria das declarações, ambientes e “jogos” românticos, foi essa “coisa” muito mais verdadeira que o anônimo amigo / namorado / marido mandou reproduzir na mensagem.
O amor é lindo, e, se ele não segue nem as trilhas da racionalidade, como iria percorrer os trilhos da gramaticalidade?
Uma das frases mais pronunciadas é “TE AMO”, e ela também não está no dito padrão “culto”, formal, clássico, da Língua. Mas, exceto em novelas e literatura de época, quem haveria de escrever ou, mais ainda, falar (ao pé da nuca, os pelinhos se eriçando...) a forma “correta” “AMO-TE”, que é claudicante, entrecortada? Assim, prefira-se o fluido, contínuo, sussurrante “TE AMO”.
O amor vai além da Gramática. Chega às nuvens... (e sabe Deus até onde ele chega mais... chega mais...).
Sobretudo para o amor fica valendo a observação:
A Gramática é muito boa para quem chega até ela, mas é ruim para quem não passa dela.
Repita-se: o amor vai além da gramática...
...embora, na hora certa, exija bom uso... da língua... [rs].
(Ah bondosa “maldade”!...).
*
(*) No Brasil, o Dia Nacional da Língua Portuguesa -- 5 de novembro -- foi instituído pela Lei federal nº 11.310, de 12 de junho de 2006. O dia 5 de novembro é uma homenagem a um dos maiores estudiosos e cultivadores da Língua Portuguesa no Brasil, o advogado, político e escritor baiano Ruy Barbosa, nascido nessa data em 1849.
Em Portugal, comemora-se o Dia Nacional da Língua Portuguesa em 10 de junho, dia de falecimento do genial poeta português Luís Vaz de Camões, aclamado autor de “Os Lusíadas”.
Já o Dia Mundial (ou Internacional) da Língua Portuguesa, 5 de maio, é data instituída pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2009, ratificada dez anos depois, em 25 de novembro de 2019, na 40ª Conferência da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Em anos anteriores, a Unesco já aprovara datas para outras línguas: 20 de março (Francês), 20 de abril (Chinês), 23 de abril (Inglês e Espanhol), 6 de junho (Russo), 18 de dezembro (Árabe), além de 23 de setembro para as Línguas Gestuais (como a LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais, que em nosso país é comemorada no dia 24 de abril) e o 21 de fevereiro, Dia Internacional da Língua Materna, quando se deve(ria) lutar pela preservação e fortalecimento dos idiomas de cada país. (Em 21 de fevereiro de 1952 a polícia de Bangladesh matou, ateando-lhes fogo, diversos jovens estudantes, que não admitiam a imposição da língua urdu como único idioma nacional e passaram a defender a existência e cultivo da língua bengali, também falada naquela região da Ásia, que se tornaria em 1971 a República Popular do Bangladesh. “Bangladesh” significa “nação bengali”).
A primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 começa neste domingo (5), com as questões de linguagens e códigos, ciências humanas e redação. Ao todo, 3,9 milhões de candidatos estão inscritos para fazer as provas em 1.750 municípios, nas 27 Unidades da Federação.
No segundo dia de prova, no dia 12 de novembro, os estudantes farão as questões de ciências da natureza e de matemática.
Nos dois dias, a abertura dos portões será às 12h e o fechamento, às 13h, pelo horário de Brasília. O início da prova está marcado para as 13h30 nos dois dias de prova, mas o horário de encerramento é diferente: hoje, as provas terminam às 19h, e, no dia 12 de novembro, às 18h30.
Para fazer o exame, é obrigatório levar documento de identificação original, com foto. Entre as identificações aceita,s estão a Carteira de Identidade, a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), o passaporte e a Carteira de Trabalho emitida após 27 de janeiro de 1997. Também serão aceitos os documentos digitais com foto do e-Título, CNH digital e RG digital. Eles deverão ser apresentados nos respectivos aplicativos oficiais, e não serão aceitas fotos da tela do celular.
Outro item obrigatório de levar é caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em material transparente. O Cartão de Confirmação de Inscrição não é obrigatório, mas é aconselhável.
O Enem é a principal forma de ingresso no ensino superior público, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu). As notas também podem ser utilizadas para a obtenção de bolsas por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni) e de participação no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). Os resultados também podem ser usados para ingressar em instituições de ensino portuguesas que têm convênio com o Inep. Além disso, algumas instituições de ensino privado utilizam a nota para ingresso direto ou concessão de bolsas.
Bom seria se os textos de Vítor Gonçalves Neto fossem tão de todos quanto o são de tudo.
Que fossem de conhecimento do mundo como são dos amigos e conhecidos.
Jornalista e escritor, Vítor Gonçalves Neto é patrono de cadeiras nas academias Caxiense e Imperatrizense de Letras)
– Nasceu em 4 de novembro e, na madrugada de 23 de junho de 1989, uma sexta-feira, o jornalista, poeta e escritor Vítor Gonçalves Neto mudou de vida. Desde a quarta-feira, 21/6/1989, começara a travar a última batalha, em terra, contra seu próprio coração. Não houve vencedores.
*
Vítor Gonçalves Neto (ou Victor, como há muito tempo e erradamente escreviam por aí) nasceu no dia 4 de novembro de 1925, em Teresina. Em 1989, completaria 64 anos de seu genetlíaco (que palavra!). Em 1995, em Caxias – cidade que Vítor escolheu para amar, casar com Dª Edna e com ela fazer filhos e amigos e terminar seus dias –, admiradores e familiares lembraram os 70 anos com o lançamento do livro “Crônicas das Andanças, dos Bichos, das Fêmeas e Outras Coisas que Tais...”, obra “post-mortem” produto da recolha/escolha de 25 de entre centenas desses pequenos textos que Vítor cometia em uma coluna com aquele titulão no semanário “O Pioneiro”, o último bastião da imprensa escrita caxiense. (Não resistindo à perda do antigo diretor-editor-repórter-revisor-etc., o velho jornal também veio a falecer, embora as massagens no coração, a respiração boca a boca e outras tentativas aplicadas por amigos e pelo herdeiro Jorge Eugênio Silva Gonçalves, também jornalista.
Vítor e Edna Silva Gonçalves, professora, em 32 anos de casamento, tiveram quatro filhos – Jandir (meu colega de turma no ensino médio no Colégio São José, em Caxias), Jorge, Miridan, Maira Teresa. Em 1989, a missa de sétimo dia coincidiu com o que seria a data desse trigésimo segundo aniversário, as bodas de pinho. Vítor viu em vida nascerem, de suas duas filhas, três netos – dois meses antes de ele morrer, nascera a netinha caçula, Maria do Perpétuo Socorro, o mimo do avô sessentão.
Como jornalista, Vítor Gonçalves fundou, dirigiu e trabalhou em diversos jornais em todo o país. No Rio de Janeiro (RJ), esteve no “Diário de Notícias”, à época o mais lido e respeitado jornal. Em “O Imparcial”, de São Luís (MA), Vítor foi colega de José Sarney, que foi mais longe e virou presidente da República. Em Caxias, Vítor fundou e dirigiu por 12 anos a “Folha de Caxias”; depois, atravessou a rua e foi parar em “O Pioneiro”, onde imprimiu seus últimos 15 anos de vida. Foram 30 anos de dedicação a Caxias, cidade espontânea e amorosamente selecionada por ele, homem cosmopolita, para ser palco, personagem e pano de fundo de muitos de seus textos, embora não esquecesse a capital do Piauí, terra natal, vizinha 70 quilômetros.
Caxias é berço de, entre outros, dois autores considerados entre os maiores da literatura brasileira: Coelho Netto e Gonçalves Dias – deste, aliás, Vítor Gonçalves Neto se dizia “parente”. Na verdade, com “Gonçalves” e “Neto” no nome, Vítor poderia, imodestamente, e com probabilidade de acertar, dizer-se parente dos dois grandes escritores maranhenses. Entretanto, se o sangue não os fizeram parentes, a “veia”, o talento, certamente os coloca na mesma família: a família dos bons poetas e prosadores.
Vítor Gonçalves Neto publicou dois livros: “Conversa Tão Somente” (crônicas), de 1957, e “Roteiro das 7 Cidades” (1963), visão romanceada do sítio arqueológico de mesmo nome, de mais de seis mil hectares, localizado nos municípios piauienses de Piracuruca e Brasileira (este, emancipado em 1993). De há muito, Vítor pensava em publicar seu terceiro livro. Título: “Sem Compromisso”. Subtítulo: “100 crônicas”. O título do livro vem do último nome que ele deu à sua coluna em “O Pioneiro”, merecedora de um luxo caro para o jornal à época: um clichê, certamente feito em São Luís ou na (Companhia Editora do Piauí (Comepi), em Teresina.
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Vítor Gonçalves Neto. jornalista, dos bons. Escritor, idem. Poeta, contista, romancista, sobretudo cronista. Noctívago, peripatético, “globe-trotter” – um andarilho da vida e do ofício.
Vítor andou muito. Mas, para ele, nunca andava demais. Passadas lentas, Vítor parecia pedir ao tempo que diminuísse sua marcha e o acompanhasse. Caminhando e contando, Vítor deve de ter conhecido todo o país, pelo lado de dentro: pensões, botecos, baixo meretrício, delegacias, igrejinhas, feiras, becos, vielas, estradas. Muitas estradas. Segundo seus registros – bem-humorados e exagerados –, exerceu, em centenas de cidades, dezenas de “profissões, desde gigolô ou guia de cegos a traficante de tóxicos disfarçado de professor de Botânica.
Vítor conviveu com grandes nomes da cultura nacional. Foi colega de quarto de Jorge Amado. “Namorou” Raquel de Queiroz. Parece que andou “aprontando umas” junto com Marighela. Na capital baiana, também defendeu Prestes e fez discursos em homenagem a Olga Benario. Ainda em Salvador, trabalhou com Monteiro Lobato. Lembro-me de que, na redação de “O Pioneiro”, remexendo velhos livros e papéis velhos – desleixadamente deixados entre livros e papéis velhos – vi duas fotografias amarelecidas pelo tempo: em uma, Vítor abraçado a Monteiro Lobato; na outra, só o autor de “Urupês” e, no verso, a dedicatória à mão: “Ao amigo Vítor, futuro membro da ABL”. A tentativa de previsão era assinada pelo próprio Monteiro Lobato.
Tal era o talento de Vítor Gonçalves Neto, já àquela época reconhecido por homens de talentos tais. Mas não chegou (ou não quis chegar) à Academia Brasileira de Letras. Nem a academia nenhuma. Não era de seu feitio. Contra a sua vontade e sem direito a defesa, é patrono da Cadeira nº 5 da Academia Imperatrizense de Letras, ocupada pelo alinhavador destas palavras, em reconhecimento ao apego e carinho de Vítor pela terra e gente sul-maranhense e tocantina, demonstrados em diversos registros, crônicas e notícias. Também é patrono da Cadeira nº 19, da Academia Caxiense de Letras, igualmente ocupada por Edmilson Sanches.
Sobre instituições, dois raros registros de pertença de Vítor Gonçalves a duas delas. Uma, foi à Associação Caxiense de Imprensa, que ele fundou em 3 de janeiro de 1964, na esteira das comemorações do centésimo aniversário de nascimento do escritor Coelho Netto. A diretoria da entidade, eleita em 21 de janeiro daquele ano, tinha o Vítor como presidente; Luiz Coelho Sales, 1º secretário; Abreu Sobrinho, 2º secretário; padre Máritom Silva Lima, 1º tesoureiro; Osvaldo Rodrigues Marques, 2º tesoureiro; e, membros do Conselho Fiscal, Alderico Jefferson da Silva, Antônio Brandão e Numa Pompílio Baima Pereira (efetivos) e Francisco de Caldas Medeiros, José Brandão e Kleber Moreira de Sousa (suplentes). A outra, foi a Associação dos Jornais do Interior do Maranhão (ADJORI-MA), da qual Vítor também foi fundador e presidente, em meados da década de 1990, com participação minha, do Sérgio Antônio Nahuz Godinho (diretor de “O Progresso”) e do Wilton Alves Ferreira, o Coquinho (diretor da “Tribuna de Imperatriz”). Lembro-me de que Vítor trouxe ao Maranhão dois presidentes da Associação Brasileira de Jornais do Interior (ABRAJORI): Mário Gusmão (de Novo Hamburgo/RS), que esteve em Caxias, em reunião no auditório da Associação Comercial; e, em 1987, João Batista da Silva, com quem nos reunimos em salão do Hotel Anápolis. Estive presente nos dois encontros.
Vítor dirigia o jornal “O Pioneiro”, de Caxias, que, segundo ele, era mais pioneiro que o homônimo (sem o artigo) “Pioneiro”, da homônima (com complemento) Caxias do Sul (RS). “O Pioneiro” foi talvez o único jornal com a coragem – alguns diriam: e o descaramento – de sair com uma edição de uma página só. Sabe-se que a folha de papel tem duas faces; mas o jornal saiu com impressão só num lado. Aquela sim, foi mesmo uma edição “extraordinária” (talvez mais ordinária que extra, poderia ter dito o Vítor, com sua – essa sim – extraordinária capacidade de rir de si próprio). A manchete: LEGALIDADE. Tratava-se, se bem me lembro, de uma rumorosa disputa de poder na Câmara Municipal.
A propósito, lembrando-me dessa manchete, eu brincava com o Vítor dizendo que “O Pioneiro” era o único jornal (entre tanta coisa em que ele era único) cuja coleção poderia ser feita em... ordem alfabética. Isto porque o jornal, com uma mancha gráfica de 35cm X 23cm, só aceitava uma palavra, como manchete principal, de dez a doze letras, dependendo das letras, corpo 72.
No 7 de Setembro, a manchete era: INDEPENDÊNCIA.
Em fevereiro: CARNAVAL. Dias depois: TIRADENTES ou EUCARISTIA.
Se Geisel, quando presidente da República, viajava para a Alemanha, a manchete era: ALEMANHA.
Se o forte de uma edição era uma entrevista: ENTREVISTA.
Se reportagem: REPORTAGEM.
Se o dono do jornal, Constantino Ferreira de Castro, viajava, não havia dúvida, manchete nele: CONSTANTINO.
Se o assunto era o governador, tome GOVERNADOR na manchete.
E ia por aí. Às vezes, com engenho e arte, se escreviam dois nomes na manchete (“JESUS CRISTO”) ou uma frase inteira: UM ANO NOVO, e também DIA DAS MÃES. Pelo que, realmente, poder-se-ia arquivar o jornal pelo dicionário, dispensando-se o calendário.
Tipográfico, letra a letra, assim era “O Pioneiro”, “como punheta”: “Feito à mão” – Vítor explicava, rindo. A redação ficava ali na Praça dos Três Corações. Bares, bodegas, prostitutas e bêbados, mascates e velhacos, cães e gatos. Bons vizinhos. Enfim, um local anti-higienicamente agradável, antissocialmente respeitável. Eu chegava: “– Novidades, Vítor?” Ele: “– Nenhum defunto digno de registro”.
E saíamos. O jornal, este não precisava sair. Era semanário, mas podia ser “de-vez-em-quandário”.
Acompanhei muito o Vítor nessas caminhadas noite adentro, madrugada afora. Assistia-lhe no sono rápido que ele “tirava” em qualquer lugar, a qualquer hora. Ajudava-o nas cervejas e arriscava na cachaça (mas uísque, eu “agradecia” – não gostava). A gente bebia “até se esvair em mijo”, como dizia o Vítor.
Interessava-me um bocado por ele. Preocupava-me sua fragilidade ante tanto cigarro e tanta bebida. Mas não lhe censurava o vício (com que direito?) nem lhe recriminava explicitamente os excessos. Fazia assim, de leve, pelas beiradas, como se faz com angu quente. E lhe dizia, brincando: “– Se for pra pedir mais uma, antes é melhor ir ditando sua autobiografia”. E o Vítor, voz já meio fanha: “– Que nada! Ainda vou mijar na tua sepultura”. Não mijaria.
Esse era o Vítor. Após a borrasca, recuperava-se com um caldo na Ana Preta, ali pertinho mesmo da “Madrid”, da “Bagdad” e da “Calçada Alta”, as mais respeitadas (!) e concorridas “boîtes” da “zona” – pois “boîte” e “zona” eram nomes com que se assinavam os cabarés e puteiros da época. Não raro por ali encontrávamos um freguês assíduo, o Zé Merda... e haja conversa idem.
Ir a pé até à Estação Rodoviária Nachor Carvalho, quando ela era no Bairro Pirajá, em Caxias, para visitar “inferninhos” fronteiriços (hoje extintos), parecia ser muito longe e cansativo. E era, e é, especialmente saindo ali dos Três Corações, à noite. Mas tempo e espaço eram relatividades e teoria, se a companhia era Vítor Gonçalves Neto citando Rabindranath Tagore ou recitando Rogaciano Leite e Patativa do Assaré. Proseando Machado de Assis. Versejando Gonçalves Dias.
E era assim. “Globe-trotters”, noctívagos, peripatéticos, passeávamos os cantos e recantos da cidade, passávamos a vida e os copos a limpo. Eu, aprendiz de andarilho, mais vendo e ouvindo. Deus deu dois olhos, dois ouvidos e uma boca, pra se ver e ouvir muito e falar pouco. Pois era.
Em fins de 1977 ou início de 1978, encontrei mais uma vez Vítor em São Luís. Ali no Hotel Central (hoje extinto também) dividimos mesa e cervejas com o Antônio Almeida, pintor, poeta, escultor e, tempos depois, fiquei sabendo, também eleito membro da Academia Maranhense de Letras. Depois, rumamos (Vítor e eu) até o Bairro Apicum, à casa de Erasmo Dias, José Erasmo Esteves de Fontoura Dias – nome e talento enormes.
Conversa vai, cachaça vem, Erasmo, naquele chambrão, só a natureza por baixo, afasta o livro em francês que estivera lendo e, como se fosse um segredo, me chama assim de lado e comenta: “– O filho do Banda [Bandeira Tribuzi] tá fazendo uns versos bonitinhos, só tu vendo”. Erasmo se referia ao Francisco Tribuzi, fundador do Centro Cultural Bandeira Tribuzi, em São Luís, que me concedeu, anos depois, um prêmio – que até hoje não recebi – de destaque na Literatura Maranhense.
Erasmo já estava muito doente. As mãos praticamente sem sensibilidade. Disse que ia pro Rio de Janeiro. Pelo menos nas semanas seguintes, não foi. Se tivesse ido, além de tratamento, quem sabe poderia encontrar o comandante Rui Moreira Lima, lá de Colinas (MA), herói da Força Aérea Brasileira na 2ª Guerra Mundial, que reviveria com ele os tempos de São Luís, do Liceu e da “meladinha maranhense” que ambos e outros bebiam no “Bilhar do Branco”; das “batalhas” pela conquista do Túnel da Mantiqueira, em 1932, disputadas à base de baladeiras, pedras e bodoques, e inspiradas pelo clima da Revolução Constitucionalista; lembrariam ainda o discurso que Erasmo Dias, já deputado, faria de improviso, saudando Juscelino Kubitschek, mesmo sendo oposição ao presidente.
Sobre esse discurso, em carta que me enviou do Rio de Janeiro no começo de 1978, Rui Moreira Lima revelou-me que, certo dia, enquanto ele (Rui) pilotava para o presidente Juscelino Kubitschek (JK), este lhe dissera: “– Seu Rui, você tem um conterrâneo que honra o Maranhão. Nunca vi tanta inteligência dentro de uma pessoa só. Guardo o nome desse rapaz em minha caderneta; não é gente para ser esquecida”. O “rapaz” era Erasmo Dias, cujo nome completo, segundo Rui Lima, Juscelino citou de cor.) O Vítor Gonçalves publicou essa carta em “O Pioneiro” – o comandante Rui e o intelectual Erasmo eram seus velhos conhecidos. A carta, endereçada a mim, fora enviada para o endereço do jornal, que publicara uma crônica minha, intitulada “Erasmo marasmo”, sobre o grande intelectual e político maranhense.
Agora, estávamos ali, Erasmo Dias, Vítor Gonçalves e eu, sem falar na “danada da bicha”. E haja conversa e alegria e risos e, agora, só saudades...
Dali da casa do Erasmo Dias, Vítor e eu seguimos para o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado do Maranhão (Sioge), naquela época sob a batuta de Jomar Moraes. Ouvi Jomar incentivando o Vítor a reunir suas crônicas para publicar o que seria o terceiro livro do caxiense de Teresina – “Sem Compromisso, 100 Crônicas”. Também ouvi o Vítor prometendo trazer os originais.
Na lembrança ainda, um comentário de Jomar sobre um livro dele mesmo (“Seara em Flor”, de 1963), o primeiro, de poesias, publicado há tempo: “– Vou queimá-lo. Tu ainda tens aquele exemplar, Vítor?” (Por essas e outras é que permaneci muito tempo inédito, após autorizar o Aldenor Pereira de Almeida, mestre encadernador, a guilhotinar (isso mesmo) todos as centenas de exemplares dos primeiros dois livros que eu arriscara escrever e que a Folha de Caxias Artes Gráficas imprimira. “– Corta e joga fora, Aldenor!” Como se diz: O tempo não perdoa o que se faz sem ele – especialmente Literatura. (A propósito, o Aldenor, autodidata, aprendera o ofício de encadernador e nele se aperfeiçoara em razão de meu estímulo, pois eu pedia para ele encadernar diversos de meus livros, jornais e outras publicações mais. Tornou-se um mestre na encadernação, com estilo, qualidade e beleza.)
*
Bom, Vítor não está mais aqui. Saiu. Para a família e para os amigos, deixa “o dia e a noite” e uma baita saudade como herança.
Madrugador, Vítor saiu cedo, às duas e meia, pois que o caminho do céu é longo. Além do que haverá de haver, forçosamente, uma paradinha no purgatório. Para “reabastecimento”.
Tim-tim, Vítor!
* EDMILSON SANCHES
Fotos:
Vítor Gonçalves Netos e seus livros. Com cigarro, concedendo entrevista a universitários. Com o jornalista e escritor Gentil Menezes e o empresário Constantino Castro. Em praia do Piauí, Com Edmilson Sanches e jornalistas e outros amigos, em Imperatriz (MA).
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) monitora 9,4 mil locais de aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) por meio de uma sala de controle. As provas serão aplicadas amanhã (5) e no próximo domingo (12), em 132.456 salas de aplicação, em 1.750 municípios de todas as 27 Unidades da Federação.
De acordo com o instituto, farão parte da aplicação do Enem 1.763 coordenadores municipais, 36 coordenadores estaduais e cerca de 13 mil assistentes de local para organizar os 38.782 malotes de provas, que contêm 7.917.402 exames impressos. “Os números robustos são para atender os 3,9 milhões de inscritos que prestarão o exame neste fim de semana”.
A sala de controle monitora a entrega dos malotes de prova, a presença dos profissionais e o início da aplicação dos testes.
“No total, para que o Exame Nacional do Ensino Médio ocorra da forma mais tranquila possível, cerca de 400 mil pessoas participam do processo do Enem 2023. Os procedimentos vão desde elaboração, impressão e armazenamento até distribuição e aplicação das provas”, informou o instituto.
Imprevistos
Caso ocorra algum tipo de problema que impeça a aplicação das provas, como alagamentos ou tempestades, o Inep informou que novas datas para reaplicação do exame já estão previstas – dias 12 e 13 de dezembro. O instituto classifica o Enem como “uma operação de grande escala” que mobiliza diversas agências do governo, incluindo Ministério da Educação, Ministério da Justiça, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Federal e polícias militares.
Protocolos
“Todas as etapas do Enem, da publicação do edital à divulgação dos resultados, são monitoradas por um setor do Inep. O instituto também é responsável pela gestão de riscos, um planejamento cauteloso de todas as intercorrências possíveis e os planos de ação caso elas ocorram”, destacou o instituto.
De acordo com o órgão, após a definição das questões que vão compor o exame, o envio das provas para a gráfica de segurança máxima segue protocolos rígidos de segurança. Na gráfica, as provas são diagramadas por colaboradores dentro de uma sala segura.
“Após o ensalamento dos participantes, as provas são produzidas, impressas e liberadas com um rígido esquema de segurança e mínimo contato humano. Os pacotes já saem da rotativa separados por sala e local de aplicação. A parte personalizada da prova (Cartão-Resposta, Folha de Redação e o Caderno de Questões) é impressa de forma separada.”
Depois da impressão, as provas ficam armazenadas em galpões logísticos de segurança máxima. Os malotes de provas já chegam a esses locais dentro de contêineres desmontáveis leves, separados por município de aplicação. Ao final da aplicação do exame, os malotes são recolhidos e enviados para as centrais de correção do consórcio aplicador. Todo o processo é feito com escolta militar.