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“Um dia, ainda que regada a sangue de vítimas e lágrimas de parentes, haverá de brotar uma árvore em cujos galhos haverão de ser enforcadas as omissões de todas as autoridades omissas e o mal de toda gente assassina, que ganha a vida fazendo perder outras vidas”.

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Era manhã cedinho, pouco mais das seis horas do dia 6 de outubro de 1993. Na visita habitual que fazia ao Mercadinho Bom Jesus, próximo à sua residência, na Rua 15 de Novembro, hoje Avenida Frei Manuel Procópio, o imperatrizense Renato Cortez Moreira não iria encontrar apenas os produtos e os velhos conhecidos.

Aos 59 anos, 3 meses e 14 dias, ali, em uma esquina, sua vida encontraria também a morte.

Repentina, brutal, covarde, a morte de Renato Moreira, à época exercendo pela segunda vez as funções de prefeito de Imperatriz, foi seguida de um segundo crime, que se arrasta há 27 anos: a não-solução completa e definitiva de seu assassinato e a consequente prisão e cumprimento de pena de todos os envolvidos, em especial os mandantes.

Renato nasceu em 22 de junho de 1934. Foi desportista (ajudou a fundar o Renner, clube de futebol). Foi de entidades de serviços (um dos fundadores da Loja Maçônica Firmeza e Humanidade e membro do Rotary Club). Foi promotor público, coletor, chefe da Receita Federal.

Foi o primeiro prefeito da década de 1970. Eleito novamente, assumiu em 1993. Não terminou nem o primeiro ano de mandato: a pistolagem e outros interesses escuros, escusos, terminaram sua vida.

Por ironia – trágica – do destino, Renato Moreira foi morto na esquina da Rua Bom Jesus com a antiga Rua 15 de Novembro, próximo ao Mercadinho Bom Jesus, o primeiro mercado municipal de Imperatriz, que ele próprio, Renato, em 1971, havia reconstruído e ampliado. Nas décadas de 1950 e 1960, o Mercado, além de local de venda de aves e de carnes bovinas, suínas e caprinas, era ponto de encontro de sertanejos e agricultores para a venda de cereais e produtos da região. Era, para a época, um centro comercial, que dispunha também de pequenas mercearias e de quiosques onde se vendia a boa comida caseira.

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No primeiro mandato de Renato Cortez Moreira, a bala matou-lhe seu vice-prefeito, o piauiense Dorgival Pinheiro de Sousa, em 12 de novembro de 1971, três dias após completar 32 anos. Dorgival, comerciante, foi presidente da Associação Comercial e Industrial de Imperatriz e foi membro do Rotary Club e da maçonaria.

No segundo mandato de Renato Cortez, foi ele próprio, prefeito, o atingido mortalmente.

Um dia, ainda que regada a sangue de vítimas, lágrimas de familiares e perplexidade de amigos, haverá de brotar uma árvore em cujos galhos haverão de ser enforcadas as omissões de todas as autoridades omissas e o mal de toda gente assassina, que ganha a vida fazendo perder outras vidas.

Os restos mortais de Renato Moreira jazem inertes no túmulo, mas sua memória ainda não repousa em paz...

* EDMILSON SANCHES.

FOTOS:
1) Renato Cortez Moreira;
2) com seu vice, Salvador Rodrigues de Almeida, no primeiro ano de mandato (janeiro/outubro de 1993). Salvador faleceu em 10/1/2019;
3) com seu vice, Dorgival Pinheiro de Sousa, mandato de janeiro de 1970 a janeiro de 1973;
4) e o Mercadinho Bom Jesus, ainda no início da década de 1960.

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Recentemente, foi inaugurado um belíssimo espaço na cidade de São Luís em razão de seu aniversário de 408 anos: a Praça dos Poetas, situada na esquina da Av. Pedro II com a famosa Rua Montanha Russa (ou Rua Newton Bello). A obra foi entregue pelo governo do Estado do Maranhão com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o PAC Cidades Históricas, do governo federal/Iphan (fonte: “site” da Secretaria de Cultura), e a ação faz parte do Programa Nosso Centro, que, por sua vez, integra toda uma ideia de revitalização do nosso Centro Histórico, e nós sabemos o quanto precisamos de ações desse tipo, abrindo mais espaços públicos que exaltem nossa cultura.

A praça homenageia 10 grandes poetas da Literatura Maranhense, que alcançaram reconhecimento dentro e fora de nosso Estado e que pertenceram a épocas distintas: Ferreira Gullar, Catulo da Paixão Cearense, Nauro Machado, Sousândrade, Bandeira Tribuzzi, José Chagas, Gonçalves Dias, Maria Firmina dos Reis, Dagmar Desterro e Lucy Teixeira. Como crítica literária e pesquisadora, questiono dois fatos: 1) qual a razão do poeta Nascimento Morais Filho ter sido excluído desse rol? 2) por que se usou uma imagem de Maria Firmina dos Reis diferente daquela que se encontra forjada em busto na Praça do Pantheon?

Omissão ou ignorância, pergunto-me eu, no auge do século XXI? Não conheço as respostas para as perguntas que fiz, mas apresento fatos. Então, vamos a eles. Não há como desvincular o nome do poeta e pesquisador Nascimento Morais Filho da história do Maranhão. Ponto. Simples assim. Ele foi um homem que doou seu tempo e recursos pessoais à pesquisa e ao resgate de importantes nomes das nossas Letras, a exemplo de Maria Firmina dos Reis e Estevão Rafael de Carvalho. Sem suas pesquisas, viagens ao interior do Maranhão, esforços coletivos e infinitas coletas e análises de textos e documentos primários que se encontravam dentro da própria Biblioteca Pública Benedito Leite nada do que se sabe hoje sobre Maria Firmina dos Reis seria possível ou sequer imaginado. Muitos e vários pesquisadores dessa autora recorreram a ele na década de 1980; eu vi isso, era uma menina e já entendia a importância que um homem como Nascimento Morais Filho tinha para o Estado do Maranhão.

Seu livro-pesquisa “Maria Firmina – Fragmentos de uma vida” (1975), lançado à época em grande estilo, financiado pelo então governo Nunes Freire, envolveu muitos e grandes esforços. Não, eu não tinha nascido ainda para testemunhar isso, mas existem fotos e documentos em jornais que atestam tudo isso, o que torna os fatos e atos públicos e notórios. No entanto, o que me chama a atenção é a tentativa de alguns pesquisadores atuais de renegar a grande pesquisa elaborada por Nascimento Morais Filho e, consequentemente, a imagem do busto de Maria Firmina dos Reis, a qual foi reconstituída por meio de relatos orais dos filhos de criação da autora (d. Nhazinha Goulart e sr. Leude Guimarães) e de outros remanescentes vimarenses que conviveram com a Mestra Régia. Eles conversaram com Nascimento Morais Filho e deram liberdade ao escultor Flory Gama para que concebesse sua criação. E todo esse processo consta no livro, do qual extraio o seguinte trecho:

“Nenhum retrato deixou Maria Firmina dos Reis. Mas estão acordes os traços desse retrato falado dos que a conheceram ao andar pelas casas dos 85 anos: rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca; olhos castanhos-escuros, nariz curto e grosso, lábios finos, mãos e pés pequenos, altura 1,58m (mais ou menos), morena.” (MORAIS FILHO, 1975, p.226).

Deduzo, então, que alguns pesquisadores atuais estão reconstituindo a imagem de Maria Firmina dos Reis também via relatos orais; daí, a atual imagem também ser fruto de novas interpretações e concepções. A diferença é que Nascimento Morais Filho, em 1970, falou com pessoas que, de FATO, conviveram com a autora. Pela lógica, não deveria, então, sua pesquisa ser mais considerada? Não existe nenhuma pesquisa sobre Maria Firmina dos Reis atual séria que não tenha como base e referência o livro “Maria Firmina – Fragmentos de uma vida” (1975), disponível na Biblioteca Pública Benedito Leite ou perdido nas prateleiras de algum sebo ao redor do país. Nenhuma pesquisa surge do nada e, no momento, é bem difícil “reinventar a roda”. É muito fácil acusar, questionar, renegar e desautorizar alguém, principalmente um grande pesquisador, após sua morte. A única intenção de Nascimento Morais Filho com uma pesquisa que demandou 10 anos de sua vida converge com o homem ético que ele era: fazer com que os maranhenses não se esqueçam de seus filhos ilustres, principalmente no caso de Maria Firmina dos Reis, que era mulher e negra, portanto facilmente excluída do rol de reconhecimento canônico.

Quanto à exclusão ou omissão de Nascimento Morais Filho como poeta no espaço da Praça dos Poetas, questiono: por que não incluíram, ao menos, um poema de seu livro “Azulejos”, que fala sobre infância, sonhos, brincadeiras de rua, costumes maranhenses, família, sobrados e azulejos, tudo isso no nosso tão peculiar linguajar?

“ah! se eu fosse seu josé!… / se eu fosse seu josé, / não vendia o camarão…e nem os bombons / que ele tem lá na quitanda dele!… / eu comia era tudinho!…”

Ou um poema que exalte a liberdade e a luta do povo, algo tão subestimado nos dias de hoje:

“Poetas, meus irmãos, acompanhai meu grito! / Eu sou o sofrimento dos sem nome! Eu sou a voz dos oprimidos! / […] Eu prego a rebeldia estoica dos heróis / e o Evangelho – a Liberdade!” (do poema “Evocação”, 1955)

É papel da Crítica Literária pesquisar e resgatar nomes e obras, enquanto lê e estabelece novos parâmetros de julgamento. A função do crítico literário não é fazer exatamente novas e grandiosas descobertas, em especial eu nem tenho toda essa vaidade. Mas, para além de tudo isso e vivendo num país e Estado em que nossa memória é tão fraca e pouco cultivada, faz-se mais do que necessário, urge mesmo que o crítico literário e aqueles que realmente se importam com a Literatura (com letra maiúscula mesmo, porque aqui não tem achismo) resgatem continuamente tudo o que NÃO se é dito ou escrito para que, pelo menos a geração atual (a minha) e a futura não se torne omissa ou ignorante. É preciso celebrar MAIS os filhos desta terra, aqueles que ficaram, lutaram e produziram de fato. Por isso defendo o amplo legado de Nascimento Morais Filho.

* Natércia Moraes Garrido – crítica literária, professora universitária e doutoranda em Literatura e Crítica Literária pela PUC-SP. Autora do livro “A poética modernista em Azulejos de Nascimento Morais Filho” (Goiânia: Ed. Espaço Acadêmico, 2019).

Edmilson Sanches

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Até a próxima semana, devem estar impressos os novos livros do jornalista, administrador, consultor e palestrante Edmilson Sanches. Um livro é técnico, sobre Administração Pública, e três sobre assuntos da História e Cultura maranhenses (veja abaixo). A Editora Estampa entrega esta semana, em São Luís, parte da tiragem de três das quatro novas obras, cujos exemplares serão, em breve, enviados pela Secretaria de Educação do Maranhão para escolas estaduais e outros órgãos públicos. Os livros serão vendidos a 35 reais a unidade (50 reais, com despesas de embalagem e remessa pelos Correios, com número de registro rastreado via “site” dos Correios). Interessados podem fazer reserva pelo WhatsApp / celular (99) 98405-4248 ou por “e-mail”: [email protected]. São estes os novos livros:

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A CANÇÃO DO BRASIL

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
[...]

“A CANÇÃO DO BRASIL”, provavelmente o primeiro livro brasileiro a fazer resgate sobre a importância, influência e impacto da poesia “Canção do Exílio”, do poeta maranhense Gonçalves Dias, em autores na Literatura Brasileira e de Língua Portuguesa.

Por que a “Canção do Exílio” é ou tornou-se tão popular? O que nela há que leva outros escritores, poetas, autores a apropriarem-se honrosa e honradamente, humilde e humoradamente do título e dos versos dela em títulos e em versos deles?

Livros de poesia e prosa, obras teatrais e musicais (e nem se fale da profusão de trabalhos acadêmicos, da graduação ao pós-doutorado) – são muitos os esforços e realizações intelectuais, culturais, artísticos, literários, musicográficos sobre ou inspirados naquele poema gonçalvino.

Que magia, fascínio, encantamento se esconde e se revela por aquelas cinco estrofes (três quadras ou quartetos e duas sextilhas) com 24 versos, 113 palavras, 487 letras?

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O MARANHÃO NÃO É MENTIRA

Um trabalho sobre a vida e obra do padre jesuíta José de Moraes (1708-1759) e das origens da falsa atribuição do sinônimo “mentira” à palavra “Maranhão”, e a participação do famoso pregador padre Antônio Vieira na construção desse mito até hoje repetido. Sanches foi buscar as origens e desfazer o erro histórico que atribui aos maranhenses a pecha de “preguiçosos”. Ele é diretor do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), onde o conteúdo foi inicialmente apresentado, sob elogios gerais. A obra tem apresentação do ex-reitor da Uema, diretor do jornal “O Imparcial” e desembargador aposentado Arthur Almada Lima Filho, decano do IHGM, educador e autor de vários livros que integram a Historiografia maranhense.

Por que atribuem a “Maranhão” o significado de “mentira”? Por que atribuem aos maranhenses a pecha de “preguiçosos”? Há alguma verdade nisso? Ou tudo isso é uma grande mentira? O que o padre Antônio Vieira tem a ver? Ele foi injusto, maldoso? O que a Etimologia e a História podem contribuir.

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TEIXEIRA MENDES – ESSE NOME É UMA BANDEIRA

Livro em segunda edição que relata a vida, obra e lutas de um dos maiores “clínicos da Cidadania Brasileira”, segundo Sanches, o filósofo e matemático maranhense Raimundo Teixeira Mendes, autor da Bandeira Nacional brasileira. Sanches revela que, por ação de ou inspiração em Teixeira Mendes, cada brasileiro tem direito à liberdade de culto e crença, a ter uma religião, ou a ser ateu, e, também, pelos esforços de Teixeira Mendes, o Brasil ganhou leis de proteção à mulher, ao menor trabalhador, aos doentes mentais, à criação da Funai (proteção aos índios) etc.

Raimundo Teixeira Mendes: esse nome é uma bandeira. Não apenas a bandeira que é peça de pano, retângulo de tecido, hino em fibras, canção têxtil, Brasil ao quadrado. Teixeira Mendes é um nome e foi um homem de muitas bandeiras. Além da que criou – a Bandeira Nacional brasileira –, o caxiense portou outros lábaros, agitou diversos estandartes, fincou no solo pátrio inúmeros pavilhões. Ciências (como a Matemática e a Astronomia), Literatura, Religião, Política, Economia, História, Filosofia, Educação, Espiritualidade, a saudável influência para jovens, a defesa da mulher, as batalhas em favor do índio, a briga pelos direitos dos trabalhadores, a proteção ao menor profissional, a intransigente luta pela separação da Religião do concubinato com o Estado... – são tantos e tão importantes os temas e trabalhos a que se dedicou neste país Teixeira Mendes que, apesar da institucionalidade e do simbolismo da Bandeira Brasileira, sua autoria do Pavilhão Nacional é tão somente a extremidade mais exposta, é apenas a ponta que aponta e desponta do ... e, como é próprio dos colossos de gelo flutuantes dos oceanos, revelando pouco – bem pouco – de seu corpo de grandeza desmesurada.

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MUNICIPAL E PLANO DE GOVERNO – REFERÊNCIAS ÉTICAS, BASES CONCEITUAIS E PROPOSTAS OPERACIONAIS

Livro cuja temática – proposta de plano de gestão para uma prefeitura – é rara na bibliografia brasileira do gênero. Edmilson Sanches, graduado em Administração Pública, é membro do Conselho Regional de Administração (CRA) e do Conselho Regional de Contabilidade (CRC) e sua obra mereceu nota máxima de comissão avaliadora, com três notas 10. A capa do livro está em fase final de "design" na Editora.

 

(Fonte: Assessoria de comunicação)

Quem primeiro me falou de Maurice Druon foi Josué Montello, em casa do escritor e jornalista José Erasmo Dias, no gueto dos Apicuns, ou Quinta de Val de Gatos, em São Luís, quando ele, o autor de “Os tambores de São Luís”, era reitor da antiga Fundação Universidade do Maranhão, cuja conversa depois se estendeu para bem longe, quando eu cumpria estudos em Direito Penal Comparado, como estágio de minha formação, na Universidade de Paris [Parthenon I da Sorbonne], e ele, Josué, por feliz destinação, como embaixador do Brasil na Unesco.

Confesso que as minhas conversas a respeito de Maurice Druon se intensificaram depois, com as do estimado professor Raymond Cantel, “Directeur de l’Institut d’Études Portugaises et Brésiliennes de la Sorbonne Nouvelle”, a quem dera, certa vez, para ler os originais do meu estudo sobre o poeta português Manuel Maria Barbosa du Bocage, intitulado “Elmano, o injustiçado cantor de Inês”, cujo vate o mestre conhecia perfeitamente, retribuindo-me o gesto com uma bela apresentação sobre o trabalho, o qual o tornei público muito tempo depois, ao lançar o livro em Setúbal, Portugal, cidade de nascença do grande poeta português, considerado o maior sonetista da Península Ibérica no século XVIII.

Sendo ele, o professor Raymmond Cantel, doutor em Literatura Portuguesa e Brasileira e sabendo que eu era do Maranhão, conterrâneo, portanto, de Odorico Mendes (1799-1864), o digno clássico e humanista brasileiro, tradutor de Virgílio e Homero, e bisavô do não menos ilustre francês Maurice Druon, ficaram mais abertas as conversas. Foi por essas citações que fiquei cativo à admiração desse ilustre franco-brasileiro, - o genial autor de “O menino do dedo verde”.

Pois bem, Maurice Druon nasceu em Paris, em 23 de abril de 1918. Era bisneto do escritor maranhense Odorico Mendes pelo lado materno; era sua mãe neta do tradutor de Virgílio, vez que, pelo lado paterno, Druon era de origem russa. Com seu tio Joseph Ressel, escreveu o “Canto dos Partidários”, musicado por Anna Marly, o qual, depois, veio a ser o “Hino da Resistência Francesa” contra o nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial, na qual o escritor combateu. Deixou a França em 1942, atravessando, clandestinamente, Espanha e Portugal para engajar-se nos serviços de informações da chamada “França Livre”, em Londres, com De Gaulle de quem era grande amigo, passando, depois, a correspondente de guerra na África do Norte.

Maurice Druon recebeu a “Grande Cruz da Legião de Honra”, sendo comendador das Artes e das Letras e de outras que lhe foram outorgadas pelo Estado francês. Foi eleito para a Cadeira 30 da Academia Francesa sucedendo a Georges Luhamel, de cuja Instituição foi secretário perpétuo, renunciando a função em favor de Héléne Carrére.

Foi ainda Maurice Druon, a serviço de seu país, ministro da Cultura da França, no gabinete de Pierre Messmer, sob a Presidência de Georges Pompidou. Celebrizou-se na pasta por não ajudar, como dizia, ‘subversivos, pornográficos e nem intelectuais terroristas’.

Suas produções de grandes destaques são a obra infantojuvenil “O menino do dedo verde” [“Tristou les pouces verts”], o qual dom Marcos Barbosa teve a felicidade de traduzir como já o fizera com “O Pequeno Príncipe” [“Le Petit Prince”], de Antoine de Sant-Exupéry, piloto e também herói na Segunda Guerra Mundial; e mais “As Grandes Famílias”, conjunto de sete livros, que recebeu o “Prêmio Goncourt” em 1948, e foi a obra ocidental que teve a maior penetração na antiga “Cortina de Ferro”, por ser o autor, como já disse, de descendência russa por parte paterna.

Sobre a sociedade francesa, Maurice Druon analisou-a em “As Grandes Famílias” (1946), “A Queda dos Corpos” (1950) e “Encontro nos Infernos” (1951). A obra literária de Druon inclui, ainda, o ciclo “Os Reis Malditos”. São eles: “O Reino de Ferro”, “As Rainhas estranguladas” e “Alexandre, o Grande” (todos de 1958) e “As Memórias de Zeus” (1963). Na dramaturgia, escreveu “Um Viajante” (1954) e os ensaios lítero-políticos: “A Condessa” (1961) e “A Cultura e o Estado” (1985).

Maurice Druon foi mais afortunado do que seu bisavô; enquanto este morreu num vagão de trem em Londres, aos 65 anos de idade, o bisneto morrera em casa, aos 91 anos bem vividos, cujo anúncio foi dado por Madame Héléne Carrére d’ Encausse, secretária perpétua da Academia, aquela em que ele renunciou a seu favor, e que disse, depois de fazer aos jornalistas presentes, estas observações: “Morreu a memória da França”.

Só faltou mesmo a escada de flores tocada por “Tistu”, o menino do dedo verde, e roída pelo pônei, com quem ele brincava, para torná-la em botões de rosas douradas, por onde subiria Maurice Druon ao encontro de Odorico Mendes, para segredar-lhe, por fim: “Aqui estamos juntos na Casa-que-brilha”.

* Fernando Braga, in “Conversas Vadias” [Toda prosa]. Antologia de textos do autor.

Ilustrações:
Foto do escritor Maurice Druon; e foto do autor destas linhas, no “Salão da Luz”, da Universidade de Paris [Sorbonne], quando da entrega dos certificados en “Stage de Droit Penal”, em 16 de julho de 1986, oportunidade em que cumprimentava seu conterrâneo, o escritor Josué Montello, embaixador do Brasil na Unesco, referido neste artigo.

Quem chegou à Lua primeiro seria o dono dela? No caso de alguma pane, quem será responsabilizado pelos satélites na órbita do planeta Terra? Quais são as normas para o turismo espacial?

Essas são algumas das questões que o Direito Espacial discute e responde desde a assinatura do Tratado sobre os Princípios que Regem as Atividades na Exploração e Utilização do Espaço Exterior, em 10 de outubro de 1967.

“O direito espacial regula todas as atividades espaciais, a questão dos satélites, a questão do turismo espacial, as atividades privadas. Hoje também é muito discutida a questão da apropriação. É um conceito que está no Tratado Espacial dizendo que nenhum país pode se declarar dono de qualquer coisa relacionada ao espaço exterior. Por exemplo, os Estados Unidos pisaram primeiro na Lua, mas não são o dono dela'', explica o procurador federal e especialista em Direito Aeronáutico e Espacial Ian Grosner.

Por outro lado, a questão da mineração espacial – que pode explorar recursos minerais em asteroides, por exemplo - o entendimento pode ser diferente. Segundo Grosner, ''a questão da mineração espacial, em que você não está se apropriando, é diferente e há sim possibilidade de explorar determinados minerais presentes no espaço ou em asteroides e daquilo dali poder usar para fazer um combustível''.

A assinatura do Tratado Espacial, que completa 53 anos, é uma das referências para a criação da Semana Mundial do Espaço, que é celebrada pela Organização das Nações Unidas de 4 a 10 de outubro, desde 1999.

A outra referência é o 4 de outubro de 1957, quando foi lançado ao espaço, pela então União Soviética, o satélite Sputnik 1.

O objetivo das Nações Unidas ao destacar o período de 4 a 10 de outubro é celebrar as contribuições e avanços para a humanidade da conquista espacial, como o desenvolvimento dos processos de comunicação – com a “internet” e o GPS até, mais recentemente, na gestão de ações para o combate à pandemia do novo coronavírus (covid-19).

Semana

Aqui no Brasil, a semana será marcada por discussões na área do Direito Espacial, com um seminário inédito organizado pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil.

No evento, devem ser discutidos os conceitos básicos, os principais tratados e a perspectiva do Brasil para a futura Lei Geral do Espaço, destaca Grosner.

O encontro será em Brasília, nesta segunda-feira (5) e terça-feira (6), e poderá ser acompanhado pelo canal do YouTube da OAB.

(Fonte: Agência Brasil)

Dois candidatos devem deixar de concorrer às eleições de Centro Novo do Maranhão. A 100ª Zona Eleitoral de Maracaçumé recebeu pedido de impugnação da candidatura de dois candidatos: Ney Passinho e Diva Silva.

Com isso, esses dois candidatos ficam fora da disputa, ficando, agora, a briga entre Júnior Garimpeiro e Professor Ademar.

A candidata Diva (PCdoB), sem chance alguma nas próximas eleições, fez um péssimo mandato e tem alta taxa de rejeição. Ficar impugnada por causa de abuso de poder político, ou seja, fora das eleições, não é novidade.

Enquanto isso, Ney Passinho, Candidato de Josimar do Maranhãozinho, está impugnado por ter contas julgadas irregulares pelo Tribunal de Contas da União (TCU), deixando a disputa.
Esses candidatos vão ter de esperar mais 4 anos para tentar abocanhar a Prefeitura de Centro Novo do Maranhão.

(Fonte: Blog do Nelsinho Paz)

Morreu na madrugada de hoje (4), aos 87 anos, o crítico, musicólogo e jornalista Zuza Homem de Mello. Em uma breve nota, postada no Instagram de Zuza, a esposa do crítico, Ercília Lobo, informou que ele sofreu um infarto dormindo. Companheira de 35 anos de Zuza, ela disse que os dois tinham passado uma noite agradável. “Ele morreu dormindo, após termos brindado, na noite de ontem, todos os projetos bem-sucedidos”, disse.

Em razão da pandemia do coronavírus, o velório será apenas para a família e amigos próximos. Não foi informado o local.

Zuza teve uma carreira em que acompanhou importantes movimentos da música. Chegou a ser músico profissional e a tocar com o trio de Dick Farney na década de 1950. Mas ficou reconhecido pelo trabalho de pesquisa e crítica que desenvolveu nos anos seguintes. Na sua trajetória, conheceu grandes nomes da música. Entrevistou, por diversas vezes, Elis Regina e viu, no palco, Billy Holiday Miles Davis, John Coltrane e Thelonious Monk.

Em 1956, começou uma coluna sobre jazz para a “Folha da Noite”. Trabalhou ainda, por dez anos, como engenheiro de som na TV Record e como responsável pelos contatos para contratações de artistas internacionais. Em 1977, começou o “Programa do Zuza” na Rádio Jovem Pan, que durou até 1988.

Publicou diversos livros, como “Música Popular Brasileira Cantada e Contada” (1976); “A Era dos Festivais” (2003); e “Copacabana: a trajetória do samba-canção” (2017).

Parte de sua história foi recontada no documentário “Zuza Homem de Jazz”, dirigido por Janaína Dalri e lançado no ano passado.

(Fonte: Agência Brasil)

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Um grito em lá como num canto místico,
um gozo em ré como numa noite longa,
um dó de resto como no bater da porta,
um sapateiro bêbedo a martelar a sola.

Um padeiro caolho a fermentar o trigo,
um poema, um terço, um cão e um galo,
a assistirem um doido a chupar sorvete
e acertar um velho relógio sem ponteiros.

Um pôster de Che Guevara na parede,
Um retrato do artista quando jovem
e restos de vinho, cigarros e pão dormido.

Eram os bens que tinha, era tudo de meu,
e mais as memórias de Dom Pablo Neruda,
a confessar que amou e que também viveu!

* Fernando Braga, in “Poemas do tempo comum”, São Luís, 2009.

À maneira rilkeana

Não se iluda.
Toda a história do mundo
se faz com poucas letras.

Todo poema
é só um verso
ou uma só palavra
ou meia
ou palavra e meia
(às vezes, apenas uma letra
ou a intenção dela).

Todo romance,
um só capítulo
um fim único
capitulado.

Nada é múltiplo e vário.
Todo tanto
todo tudo
tudo quanto
é uma só unidade

que se desfaz
na mente
e na mentira
dos homens.

* EDMILSON SANCHES

San Tiago Dantas

O Brasil se vestiu de LUTO: o BRASIL-POVO, o BRASIL-POLÍTICO, o BRASIL-LETRA, o BRASIL-DIREITO. Morreu San Tiago Dantas. Era uma das mais fortes expressões da intelectualidade brasileira. O mestre do DIREITO. Uma unidade de forças mentais extraordinárias que o colocava na liderança das altas e honrosas funções da vida pública do país. Da tribuna da Câmara quando iluminava com a sua presença era o artífice da palavra, o orador fluente, o analista por excelência, a declinar o VERBO com o fascínio das argumentações irrefutáveis. Então, nele se revelava a grandiosidade de uma cultura sólida, profundamente humanista, dando de si a melhor e a mais rica contribuição para, examinando os problemas nacionais, dar ao país a valorização exata da sua posição política no confronto com os demais países do mundo. Da cátedra sobressaía o mestre insigne do Direito, na exploração justa dos altos princípios jurídicos.

Uma vida em luta constante na ascensão perene dos que vieram para a vida ungidos de sabedoria pela harmonia das conquistas imperecíveis. Toda uma existência no exercício de várias funções públicas, conquista natural da sua formação moral, política e intelectual. Um símbolo de energias construtivas, em bem da Pátria. Em bem do povo, das nossas relações diplomáticas. Lá fora, no exterior, em serviço dos interesses do Brasil, era um Rui com outras dimensões numa época de constante evolução de mudanças totais na fulguração de um século em marcha acelerada para a conquista de novas concepções políticas, sociais e econômicas.

Um símbolo de patriotismo. Das suas convicções. Havia no mestre insigne várias facetas de sua personalidade do homem público, acadêmico, homem de partido, homem de luta. E o aperfeiçoamento da sua composição no setor da política nacional está, justamente, não se ter fixado no amadorismo das ideias esdrúxulas, no estreitíssimo dos pensamentos convencionais, no aprisionamento de um sistema político retrógrado que não mais comportava a sua evolução cultural a que dele já exigia os arremessos de atitudes mais amplas, mais definidas, integradas dentro das coordenadas políticas e sociais que se vêm libertando dos grilhões, rompendo as barragens para se colocar na convulsão do momento nacional, tão valorosamente evoluído, acomodando-se plenamente, e com êxito, dentro da caminhada histórica da evolução em todos os sentidos que, hoje, domina e arrebata todos os povos para assegurar, com mais profundidade, o fortalecimento do regime democrático.

E foi aí, por esta atitude de independência que contra ele se abateram a fúria de todas as incompreensões de seus adversários, dos que ainda não quiseram sentir, no todo, a trepidante realidade que aí está empolgando todos os povos em luta por uma melhor condição de vida: uma Democracia evoluída, libertando-se do “congelamento” duma política divorcista e inadequada.

San Tiago Dantas rompia com o PASSADO para mais fortalecido viver no PRESENTE. Mais idealista, mais humano, mais independente. Era a reação natural que se fazem sentir e que encontra hoje, nos Estados Unidos (com a iniciativa de Kennedy), marcas indeléveis de grandes modificações no trato das relações diplomáticas.

Mas, morreu San Tiago Dantas. Uma lacuna aberta e de difícil preenchimento. Todo o Brasil no drama do Calvário de brasileiro ilustre. Toda uma Pátria no velório da consternação, da irreparável perda. Todo um povo na homenagem do patrício que soube morrer como viver soube, sem angústias e sem desesperos. Mas na resistência, na luta, dando o exemplo da coragem cívica, na imolação da MORTE. E dela não se atemorizou. Sentia-a perto de si, sabia de sua presença no corpo, debastando-lhe as energias, esgotando-lhe as reações para garantir mais alguns momentos de vida. Enfrentou-a com serenidade e bravura. Tinha a noção exata da FATALIDADE tremenda. Inexorável. E, enquanto pôde, por si, tentava afastar-se do irremediável – a MORTE!

E certamente, em plena lucidez, que nunca perdeu, reexaminou todos os estágios vividos na vida pública: o professor, o escritor, o político, o ministro, sua vida em constante vibração de intelectualidade, de deveres. Rememorou os últimos instantes. E, certamente, mais uma vez, viu-se magnificamente realizado. Da Pátria teria recebido, no silêncio de seu quarto de doente, no Hospital Samaritano, o agradecimento pelo muito que fez por honrá-la, dignificá-la. Ali até a ele chegou, acreditamos, os raios do SOL, num poente maravilhoso de um quadro de aquarelas – era a despedida da TERRA. Da Terra que deixava a sua condição de berço para, instantes depois, ser o túmulo, a “última morada”.

E seus olhos se fecharam. Seu corpo se imobilizou. Dantas deixava de viver, de existir. O Brasil inteiro perdia um dos seus filhos mais ilustres.

Daqui, mestre San Tiago Dantas, a homenagem simples, mas sincera, da imprensa maranhense através de um dos seus colaboradores. E, no Azul, uma estrela a mais na iluminação da NOITE. É o prêmio da Eternidade. É a imortalidade, mestre San Tiago Dantas.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 11 de setembro de 1964 (sexta-feira).