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Plataforma possibilita acesso a pré-vestibulares populares do Rio de Janeiro

A partir de agora, ficou mais fácil encontrar um local de educação popular para estudar para o exame vestibular que está aproximando-se, ou mesmo se cadastrar para dar aulas. Fato se tornou possível em um mapa como os usados em aplicativos de celular. Disponível na plataforma Vicon Saga, o Mapeamento dos Pré-vestibulares Populares da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, foi realizado pelo projeto Tecendo Diálogos e produzindo conhecimento: juventude, favela, promoção da saúde e educação superior. 

“Como muitos desses pré-vestibulares não têm recursos para investir em divulgação de suas ações, acabam ficando conhecidos apenas no entorno ou por quem atua na militância da educação popular”, explica doutora em história do Vila Isabel Vestibulares (Vive), no Morro dos Macacos e integrante da coordenação do projeto Tecendo Diálogos, Taisa Falcão. “Esses espaços não são apenas uma plataforma de acesso à universidade, mas polos de engajamento da juventude favelada e periférica com os movimentos sociais”.

Arthur Carrica, trabalhador que atua na portaria no Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), conheceu seu atual pré-vestibular pela plataforma. “O pré que eu escolhi não tinha vaga, mas encontrei fácil esse que é perto do trabalho. Agora, estou animado para tirar as minhas dúvidas e direcionar meus estudos”, explica ao informar que pretende cursar Letras ou Educação Física.

Pesquisa

Entre fevereiro de 2021 e fevereiro de 2023, os pesquisadores de campo, mesmo com os desafios da pandemia da covid-19, localizaram e conseguiram contato com 301 pré-vestibulares populares da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Desse total, uma parte foi forçada a fechar em razão da pandemia. Mesmo assim, 130 pré-vestibulares populares se disponibilizaram a participar do mapeamento socioeconômico realizado pelos pesquisadores do projeto Tecendo Diálogos.

“Valorizamos cada pontinho desse mapa porque sabemos a dificuldade que foi se manter com a covid-19. Quem ficou fortalece muito seus territórios”, diz Anna Carolina Santos, assistente de pesquisa do projeto Tecendo Diálogos, educadora popular do pré-vestibular social do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas Estaduais no Estado do Rio de Janeiro (Sintuperj) e graduanda de geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Os 130 pré-vestibulares responderam a um questionário socioeconômico com mais de 40 perguntas que também estão disponíveis na plataforma e foram sistematizadas pelo projeto. Para Taisa Falcão, esses dados ajudam a compreender quais estratégias públicas são mais importantes para essas iniciativas. “Desejamos pautar políticas públicas de fomento, para que os pré-vestibulares possam melhorar suas estruturas e promover a educação popular de forma mais inclusiva, equitativa em ambientes mais saudáveis e sustentáveis”, afirma.

Análise dos resultados

Matemática, Redação e Biologia são as disciplinas mais oferecidas. Já História da África, Inglês e Espanhol são menos disponibilizadas. Mais de 80% dos pré-vestibulares funcionam em espaços cedidos, revelando ameaça à autonomia e à permanência nos seus locais de atuação. Um terço deles recebem apoio financeiro de instituições religiosas ou precisam fazer eventos e vaquinhas para captação de recursos. Cerca de 21% cobram um valor mensal dos estudantes.

Destaca-se que mais de 98% das pessoas que assistem às aulas são pretas (62,62%) e pardas (35,51%). O perfil do corpo docente muda um pouco: 33% se declaram pretos; pouco mais de 34% são pardos; 30% são brancos; e 2% são indígenas. O racismo é tema de atividades e debates em 80% dos pré-vestibulares. Enquanto 67% dialogam sobre questões de gênero e diversidade sexual.

Apoio

O Mapeamento dos Pré-vestibulares Populares da Região Metropolitana do Rio de Janeiro está hospedado na plataforma Vicon – Vigilância e Controle, uma iniciativa nacional e livre de custos, desenvolvida pelo Laboratório de Geoprocessamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lageop/UFRJ) em parceria com o Laboratório de Geoprocessamento Aplicado da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Anselmo Rocha Romão, mestre em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) e integrante da equipe do Laboratório de Informação em Saúde (LIS) do ICICT/Fiocruz, apoiou o cadastro dos dados na plataforma e reforçou o valor da disseminação das informações da pesquisa.

“O Vicon Saga vem de vigilância e controle. Não uma vigilância coercitiva, mas no sentido de transformar a sociedade no processo de inclusão das pessoas. Vigiar o que é injusto e criar justiça social”, explicou Romão. “Ressalto a qualidade de produção de conhecimento pelos movimentos populares e grupos no território”, valorizou Pricila Magalhães, da Pró-Reitoria de Extensão da UFRJ.

(Fonte: Agência Brasil)