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À Praia Grande, Trapiche & Cia.

“É esta a alva coluna, o lindo esteio

sustentador das obras mais que humanas

 que eu nos braços tenho e não no creio?”

 Luís Vaz de Camões

A José Ernani dos Santos, meu pai, Aveiro, Portugal, 17/10/1910 – São Luís (MA), 25/12/1975.

1

Nas porcelanas de faiança apenas a sombra

da raiz do tempo.

As tabuletas caíram das frentes dos sobrados

de azulejos portugueses e de madeiras de carvalho,

as mesmas das caravelas dos descobrimentos;

Nímios argamassados com óleo de baleias e pedras de lioz,

eternas nas calçadas, desafiam com ternura as possibilidades

do tempo; são pedras que faziam lastros para os navios

que teriam de voltar carregados para o sustento mercantil

da Companhia de Comércio das Vinhas do alto Douro.

Aquelas pedras polidas e feridas e de cantaria e de calendas,

de lendas e romarias, fazem a história mágica que canto.

Pedras tenazes, de fontes e ruas, e de frades, sentinelas

de becos e vielas, dogmas fálicos e blenorrágicos de orgias.

2

Não há mais vivalma de corpos postos e eretos ossos,

a encherem o trapiche de estrume e cálcio...

Homens do ganho, sem camisas e com calças arregaçadas

às canelas, juntos aos regatões, descansam em horas calmas;

no Beco da Catarina-Mina, a velha Honorata, a mulata

do peixe-frito, bradava a dizer que o filho tinha sido recrutado

pela Marinha de Guerra e levado para uma outra Marambaia...

3

Nas marés altas, Leviatã continua pescado com arpão

e sua língua presa à corda.

A Praia Grande se me abriu n’alma, uma saudade sem cura

e jeito, e uma ferida dentro do peito, feita de uma saudade

de pedra-e-cal.

Uma saudade lírica e destemperada deixada com os apitos

abaritonados dos navios de cabotagem e mistos,

que estão no cais, ou nos canais das marés-altas...

Os navios que não apitam não se despedem!

Uma saudade que amo, quando de perto vivo,

uma saudade que sofro, quando de longe morro. 

Uma saudade a me despencar pelo verde-limo

e a me fazer de esperas.

Por isso me faço e desfaço, com o árido pão

que mastigo, com as mandíbulas e outros sentidos,

e pedaços irregulares de distâncias.

Há em mim o nervo de uma ode-Mar na essência

desse meu avaro chão, a ditar-me o verbo insepulto,

mas sonâmbulo, como um poema verde.

4

Estar-se na Praia Grande é um alívio, um jazer

no germinal do mistério e na magia do encantamento,

porque meu mar não tem fronteiras e nem medidas.

Um assobio trinado, uma mecha de cabelo caída à testa,

um lápis atrás da orelha, restou de um mórbido silêncio

e longa pausa na pauta do tempo.

Com os pés feridos pelos desníveis dos paralelepípedos,

um desterrado, fugido das páginas romanescas

de Ferreira de Castro, canta sua loucura, em monólogos

sofridos, até às lágrimas dos imigrantes que o assistem...

Sou apenas um dublê de capitão e pirata, que a viração

dos ventos levou no final da tarde.

Sinto ainda meu pai ao meu lado, a dizer-me que a pedra

mais angular da Praia Grande inteira,

é a que deu nome ao peixe.

5

Praia Grande em silêncio, solitária, fidalga

e generosa, passeia comigo de mãos dadas

na imensidão do domingo, quase na virada da tarde,

 plena e inteira, meiga e mágica.

Caminho com sextilhas no meu ritmo desordenado,

mas perfeitamente amparado por um canto de saudade

que se me faz marítimo.

Ao caminhar, vou a descobrir figuras nas pedras de cantaria,

livre por instantes cadentes aos impulsos e circunstâncias,

mas preso definitivamente pelo assobio saudoso e trinado

de meu pai, que sem querer chamava o vento.

E o bonde da Estrada de Ferro passa sobre os trilhos polidos,

a levar consigo lembranças do nunca mais...

E a Praia Grande plena de imensidão caminha comigo

no plano do silêncio... Uma desmedida silencidão!

Isto é a alma e a essência deste canto!

Estou pleno no altiplano dessa grande mercancia, cativo às

correntes do meu hipocampo.

6

Não tenho pressa alguma, porque meu tempo é generoso

como se eu tivesse sendo esperado pelo amor e pelos carinhos

de minha amada mãe!

Os armazéns estão fechados... Estou entre o agora

e o passado!

Estar-se na Praia Grande é estar-se em Lisboa,

Igualzinha a que meu pai me trouxe, e que depois

fui buscá-la, para guardá-la num domingo

de minha infância, porque em mim, a Praia Grande

há de reviver-se portuguesa, com certeza, rica, festiva,

regateira e alfacinha...

* Fernando Braga, in “O Puro Longe”, 2012.

Ilustrações:

Foto de meu pai, José Ernani dos Santos,  aos 45 anos de idade, e da Rua Portugal, Praia Grande, no Centro Histórico de São Luís do Maranhão.

Os resultados das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2021 serão divulgados no dia 11 de fevereiro do ano que vem. A data foi confirmada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pela realização do exame, durante entrevista coletiva.

De acordo com o presidente do Inep, Danilo Dupas, o comparecimento nesSe domingo (28), segundo dia de provas, foi de 70%. Dupas também confirmou que está aberto o prazo para que os estudantes que não compareceram aos locais de prova por problemas logísticos ou por doenças infectocontagiosas, como a covid-19, peçam a reaplicação do Enem 2021, por meio da página do participante no site do Ineo.

Durante a coletiva, o delegado da Polícia Federal, Cléo Mazzotti, informou que foram cumpridos 31 mandados de prisão nos locais de prova. O alvo foram pessoas acusadas de tráfico de drogas, cárcere privado e estupro de vulnerável, entre outros crimes. Duas pessoas foram presas pela tentativa de uso de ponto eletrônico em dois locais de prova.

O transporte dos malotes com as provas foi concluído em todo o país, pelos Correios, em duas horas e 41 minutos.

Na avaliação do ministro da Educação, Milton Ribeiro, a sociedade e a educação brasileiras saíram ganhando com a realização do Enem.

“Saiu ganhando porque, como era o previsto, e nós havíamos dito, a questão do Enem haveria de ter toda seriedade, toda transparência e toda a competência, que é própria dos servidores do MEC, dos Correios e da Policia Federal”, afirmou. O gabarito oficial e os cadernos de questões serão divulgados depois de amanhã (1º) pelo Inep. 

(Fonte: Agência Brasil)

O balanço das ações policiais no segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizadas nesse domingo (28), registrou um número baixo de ocorrências; nenhuma delas grave.

De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), foram registradas duas tentativas de uso de ponto eletrônico, quatro mandados de prisão, sete prisões, além de 72 casos de perturbação do sossego público.

Por meio da Secretaria de Operações Integradas (Seopi), o MJSP foi responsável pela coordenação e integração das forças de segurança pública federais e estaduais que atuaram na segurança da realização do Enem.

De acordo com o ministério, a prova foi aplicada em cerca de 1.700 municípios, e os agentes fizeram o policiamento dos locais do exame, no transporte e guarda das provas, investigação de possíveis fraudes, patrulhamento das vias de acesso às escolas. Cerca de 3.400 escoltas foram realizadas nesse segundo dia do Enem.

Todas as ações foram acompanhadas no Centro Integrado de Comando e Controle Nacional, em Brasília, onde o ministério concentrou a coordenação de segurança pública na realização do Enem em todo o Brasil.

(Fonte: Agência Brasil)

Morreu na noite desse domingo (28), aos 92 anos, um dos mais ilustres escritores piauienses, Francisco de Assis Almeida Brasil, o Assis Brasil, que, atualmente, era ocupante da Cadeira 36 da Academia Piauiense de Letras.

De acordo com o presidente da Academia Piauiense de Letras (APL), Zózimo Tavares, ele havia se submetido a uma cirurgia na perna, na última sexta-feira (26), depois de uma queda que aconteceu na casa dele, na quarta-feira (24).

Depois da cirurgia, o escritor voltou para casa, no sábado (27), onde estava se recuperando bem, até a noite desse domingo, quando teve dificuldade para respirar. Mesmo com os primeiros socorros, infelizmente ele não resistiu. A morte aconteceu por volta das 20h.

“O silêncio de Francisco de Assis Almeida Brasil, aos 92 anos, enluta a Academia Piauiense de Letras, onde ele ocupava a Cadeira 36, e representa uma grande perda para o Piauí e a Literatura Brasileira, que ele engrandeceu com o seu gênio literário nas mais de 100 obras escritas e publicadas”, lamentou APL em nota.

Assis Brasil

Ainda segundo a APL, o velório ocorre desde a madrugada desta segunda (29), na Pax União, no Centro da capital. O sepultamento será realizado amanhã, às 16h, no Cemitério Jardim da Ressurreição. 

Em julho deste ano, em entrevista à TV Clube, Assis Brasil destacou que continuava ativo e produzindo novas obras.

Romancista, cronista, crítico literário e jornalista, nascido na cidade de Parnaíba, Estado do Piauí, em 1929. Conforme a Academia Piauiense de Letras, o escritor teve uma intensa participação na imprensa nacional. Crítico literário do Jornal do Brasil (1956-1961); colunista literário do Caderno B do Jornal do Brasil (1963-64); crítico literário do Diário de Notícias (Rio, 1962-63); crítico literário do Correio da Manhã – Revista Singra e Suplemento Literário – (Rio, 1962-1972); crítico literário de O Globo – Arte e Crítica – (1969-1970); colunista literário da Revista O Cruzeiro (Rio, 1965-1976); crítico literário do Jornal de Letras (1964-1989); artigos e ensaios nos seguintes órgãos culturais: Senhor, Mundo Nuevo, Revista do Livro, Leitura, Enciclopédia Bloch, Usina, suplemento de O Estado de S.Paulo, Diário Carioca, Tribuna de Imprensa, Jornal do Comércio, Minas Gerais, Correio do Povo, O Povo.

Tem 106 obras publicadas. Romances: Tetralogia Piauiense: Beira Rio, Beira Vida (1965); A Filha do Meio Quilo (1966); O Salto do Cavalo Cobridor e Pacamão; Ciclo do Terror: Os que Bebem como os Cães e outros. Romances históricos: Nassau, Sangue e Amor nos Trópicos e Bandeirantes – os comandos da morte etc.

Contos: Contos do Cotidiano Triste, História do Rio Encantado e outros. Ensaios: Faulkner e a Técnica do Romance. O Jornal de Letras do Rio de Janeiro, em sua edição de dezembro de 1998, trouxe o romance Beira Rio, Beira Vida, entre os cem melhores do gênero já publicados no país. https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

Em 2012, recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”, entregue em reconhecimento a pessoas que se distinguem pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras e do melhor entendimento entre os povos. 

(Fonte: G1 Piauí)

Ricardo Starling, Larissa Vitorino, Tiago Nunes e Kirá foram alguns dos vencedores do Festival de Música da Rádio Nacional FM. O anúncio dos vencedores da edição 2021 ocorreu no último sábado (27), às 20h, no Teatro da Caixa Cultural. Essa é a 13ª edição do evento que valoriza os artistas do Distrito Federal e Entorno e oferece espaço para divulgação dos seus trabalhos na programação da Rádio Nacional.

Os vencedores:

Música mais votada na internet

Baião de Dois, composição e interpretação de Ricardo Starling (10.733 votos)

Torcida mais animada

- Larissa Vitorino, música Areia,de Larissa Vitorino

Melhor arranjo

Estação do Choro, arranjo de Tiago Tunes

Melhor letra

Mar Mangão, letra de Kirá

Melhor intérprete instrumental

- Iara Gomes Trio – música Muro Alto, de Iara Gomes

Melhor intérprete vocal

- Myriam Eduardo – música Tarde Demais, de Josué Costa e Glauco Luz

Melhor música instrumental

Estação Do Choro, de Tiago Tunes, interpretação Tiago Tunes Quinteto

Melhor música com letra

Areia, composição e interpretação de Larissa Vitorino

Recorde

O Festival bateu recordes este ano: de inscrições – foram 445 músicas inscritas, de onde saíram as 50 semifinalistas que tocaram na Nacional FM durante dois meses, e de votação popular – mais de 30 mil votos na primeira fase, que ajudaram a selecionar as 11 concorrentes que participaram do show da final. Pelo site da Rádio Nacional, o público votou na sua música favorita até o dia 27..

Histórico

Foi no ano de 2009 que ocorreu a primeira edição de Festival de Música Nacional FM, consolidando uma série de iniciativas de apoio à cultura, aos artistas e à música de Brasília.

Desde então, o evento já foi realizado em auditórios ilustres como o Teatro do Sesc DF, no Silvio Borgato do Setor Comercial Sul, Teatro Garagem da 913 Sul, CCBB e Cine Brasília. Desde 2015, os shows da final são realizados no Teatro da Caixa Cultural Brasília, parceria importante e já consolidada nessas últimas sete edições.

Chegando agora na sua 13ª edição, o Festival se mantém fiel a sua essência, que é abrir espaços para a execução de músicas de artistas de Brasília na programação da Nacional FM e proporcionar aos finalistas shows de alta qualidade, gravados pela TV Brasil para exibição em sua programação especial de fim de ano.

(Fonte: Agência Brasil)

Frank Williams, uma das maiores lendas do automobilismo mundial, morreu, nesse domingo (28), aos 79 anos. A morte foi anunciada nas redes sociais da equipe Williams.

“Sentimos a mais profunda tristeza pela morte de Sir Frank Williams. Sua vida foi movida pela paixão pelo automobilismo, seu legado é incomensurável e fará parte da F1 para sempre. Conhecê-lo foi uma inspiração e um privilégio. Ele deixará muita, muita saudade”, escreveu o perfil oficial da equipe. A família não divulgou a causa da morte.

Além de fundador da equipe, ele foi piloto e mecânico. Em 17 anos, entre 1980 e 1997, a escuderia Williams conquistou nove títulos de construtores e sete de pilotos. Em 1986, Frank Williams sofreu um acidente de carro, na França, que o deixou paraplégico.

O brasileiro Nelson Piquet foi campeão mundial de Fórmula 1, pilotando uma Williams, em 1987. José Carlos Pace, piloto que dá o nome ao autódromo de Interlagos, em São Paulo, e que morreu em 1977, em um acidente aéreo, também correu pela Williams.

A última corrida de Ayrton Senna foi pilotando um carro da Williams, em 1994, quando o brasileiro morreu em um acidente no Grande Prêmio de San Marino, na Itália.

A equipe Williams, sob o comando de Frank, conquistou 313 pódios, com 114 vitórias.

(Fonte: Agência Brasil)

Paulo Nascimento Moraes

Paulo Augusto Nascimento Moraes partiu um dia para a iluminação dos astros que devem tê-lo recebido com aquela mesma oração a Cassiano Morto, rezada pelo mestre Austregésilo de Ataíde: “assim, vendo-te inerte, não nos espanta nem aflige essa imobilidade natural, pois diante dos nossos olhos está o momento erguido...”.

Paulo foi uma alma emotiva, liberta, um poeta lúcido, cheio de sentimentos puros, um jornalista de estilo claro e elegante, um intérprete da noite, da noite que o fez e para sempre, bruxo e cancioneiro, um homem desprovido daqueles maldizeres e malsinares que sempre conviveram mesquinhamente em nossa província, anunciados pela prédica do Padre Vieira no seu “Sermão da Sexagésima”.

Ficaram-me, na lembrança, muitas imagens do poeta, dentre elas, junto à sua irmã querida Nadir Adelaide Nascimento Moraes, todas as manhãs no sobradinho da família na Rua dos Afogados, onde ia tomar o café e ler os jornais. Ali, as conversas aconteciam envoltas em saudosismos e gostosas gargalhadas, onde sempre a figura central era o pai, o velho Nascimento Moraes, jornalista, escritor e professor catedrático do Liceu Maranhense, autor de vários livros, e figura exponencial da história intelectual do Maranhão; e da mãe, Ana Augusta com quem Paulo não aprendeu a tocar piano, por mais que ela quisesse, porque o velho Nascimento, deitado numa rede preferia que seu filho querido ficasse detrás de uma porta a recitar “Os Lusíadas” em voz alta, para amenizar, pelo menos, aquela sua gagueira familiar, marca registrada de todos os filhos de Nascimento, o que nele, Paulo, não ficaria bem, principalmente para tornar convincente a assertiva do velho: “Era melhor ser orador que pianista, porque a mágica da palavra é o veículo do pensamento, parafraseando Teilhard de Chardin, dizia Nascimento à Dona Sinhá, como era chamada pelos íntimos, a mãe de Paulo Moraes, também educadora e Senhora das mais distintas e elegantes que conheci.

Ficou-me do poeta, aquele Paulo a escrever sua crônica diária em casa de Nadir, sua irmã do peito, na varanda, no corpo da casa, onde funcionava o Instituto Raimundo Cerveira, um sobradinho de azulejos na Rua dos Afogados esquina com Rua de Santaninha; aquele Paulo em casa de Emília, sua companheira querida, e mãe extremada e carinhosa de Paulo de Tarso, na época o pequeno Paulinho, hoje, como não poderia ser diferente, também professor e, mais, consultor de língua portuguesa; lembranças de Paulo a cruzar a Praça João Lisboa, a Benedito Leite, e em outras e tantas paisagens, principalmente nos arrabaldes da cidade; lembranças de Paulo a sair fantasiado de fofão em dias de Carnaval, a se fazer logo conhecido porque o anonimato não convivia consigo, nem por brincadeira. Ficou-me para todo sempre do poeta, aquele Paulo a declamar e a fazer gestos largos e envolventes com as mãos, dizendo pausadamente aos ventos das praças e às algaravias dos botecos:

“Aquarelas de luz numa tarde de agosto...! / e bem junto de nós a canção das cigarras... / e, no azul deste céu, o agitar das fanfarras / destes ventos do sul a beijar o Sol-Posto! / Fim de tarde a cair sem o mal de um desgosto!... / e este mar a gemer como sons de guitarras... / e este amor a morrer, a quebrar as amarras / dessa grande aflição que ilumina o teu rosto!... / Caminhemos então!... Tudo é sombra, querida!... / As cigarras cantando!... as cigarras cantando / afugentam de nós as tristezas da vida! /esta tarde morreu!... tu mo afirmas, num beijo! / eu te digo que não, entre prantos, chorando, / tu me dizes que sim, sepultando um desejo”.

Lembranças de Paulo com as pernas cruzadas, a falar e a rir como se a vida nunca lhe tivesse dado porradas, gargalhando na amplidão das noites que lho assistiam ao talento, à criação e a contemplação das estrelas que respingavam luz nas madrugadas da velha Ilha, que o ouvia melancólica e, ao mesmo tempo, alegre, porque dela ele era seu cronista maior.

Ficaram-me de Paulo seus olhos ao longe, parados como “poemas de amor que morrem sem rima”, a tagarelar mentalmente lembranças do passado, entre saudades e vivências, envoltas em boêmias dispersas na noite, espalhadas com ternura pelo silêncio da cidade.

Ah, quantas auroras raiamos juntos, quantos poemas juntos declamamos, quantas amenidades apostilamos no Largo do Carmo, no Bar do Castro, no Narciso, no Pataquinha ou na “Base do Cabral”, na Vila Passos, seu compadre e seu amigo, que no sepultamento de Paulo abriu duas garrafas de cerveja; uma ele bebeu ali, e a outra ele derramou no esquive do ilustre morto, a cumprir, assim, um acordo que ambos fizeram; quantas lembranças!... e ela, a poesia, com música, e mulheres... e Paulo Moraes a cantar acompanhado pelo saxofone do Zé Chagas, que o enxaguava com cerveja para limpar-lhe o azinhavre, e pelo assobio do meu pai, um português que eu, seu filho, o tinha como um irmão mais velho, porque ele, além de meu companheiro, era meu herói; loas dedico-lhe também neste dedo de prosa, a ele, meu pai velho-de-guerra, da família dos “boa gentes”, dos mais finos que conheci, o qual, se não fosse meu pai, tê-lo-ia implorado a Deus que o fosse.

Pois bem, voltando ao pé da conversa, ficou-me de Paulo sua lembrança aos sábados pela manhã, na redação do “Jornal do Dia”, naquele tempo, Paulo escrevia crônicas sobre os conflitos entre Egito e Israel, sem nunca ter cumprido a promessa de ir a Jerusalém receber a comenda que lhe outorgara o Estado Judeu, por meio do seu embaixador no Brasil, leitor de seus apontamentos. Paulo tinha medo de viajar de avião e não pretendia morrer, tampouco, nas Colinas de Golã, na Faixa de Gaza. Era preferível ficar por aqui mesmo curtindo uma cervejinha gelada, sob a lua de São Luís que já lhe derramara prata suficiente nos cabelos.

Ficaram-me de Paulo, suas histórias na Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro, a declamar seus versos e dos outros, ante as atenções retidas de outros boêmios e artistas; de Paulo repórter a riscar com batom corpos de mulheres na Lapa, para denunciar, nas páginas de “O Jornal”, onde trabalhava, órgão dos Diários Associados, o famigerado Padilha, delegado de polícia, que à época ficou conhecido por chicotear moças da vida airada em Copacabana, conseguindo, assim, Paulo, envolvê-lo num processo jornalístico-criminal e dar um basta naquele exercício de tirania; lembranças de Paulo a discursar no Cemitério do Caju, no enterro do nosso conterrâneo e genial poeta Catulo da Paixão Cearense, a arrancar lágrimas de muita gente, inclusive do nosso querido e já falecido amigo, William Soares de Brito, o saudoso “Lilico”, companheiro de boêmia de Paulo e médico radicado ao tempo no Rio de Janeiro, onde detinha grande clientela, pela sua abnegação e competência à Ciência de Hipócrates.

Este é Paulo Augusto Nascimento Moraes que me legou um dia o luar dos seus cabelos, envolto em saudades e em noites de abusão por esta São Luís que, aos poucos, se desmancha em sal sob a mortalha de um doloroso e cruel esquecimento, e já quase sem memória sob o Sol.

* Fernando Braga, advogado, poeta e ensaísta.

No último domingo de novembro de 2021, destacamos a...

Regência

Uso das preposições:

a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás.

Caso

a) Regência Nominal:

Nomes (substantivos, adjetivos ou advérbios) + complemento nominal (com preposição)

b) Regência Verbal:

1) Verbos transitivos diretos (objeto direto = sem preposição);

2) Verbos transitivos indiretos (objeto indireto = com preposição);

3) Verbos transitivos diretos e indiretos (objeto direto + objeto indireto);

4) Verbos intransitivos (sem objeto).

Exercício 1

Complete as lacunas com a preposição mais adequada:

1. A decisão foi favorável ____ todos.

2. O filme é impróprio ____ menores.

3. O filho é natural ____  Fortaleza.

4. O cientista é perito ____ hieróglifos.

5. Ele sente ojeriza ____  mentiras.

6. Ela foi afável ____  seus parentes.

7. Ela estava ansiosa ____ viagens.

8. Ele mora muito próximo ____  mim.

9. A decisão não foi compatível ____  seu modo de pensar.

10. Ele é residente ____ uma rua muito distante.

11. Seu escritório é situado ____  a Avenida Rio Branco.

12. Esta ideia é preferível ____  qualquer outra.

Transitivo direto OU indireto?

Exercício 2

Complete as lacunas das frases abaixo de acordo com a regência dos verbos:

1. O governo almejava, para este mês, ____  (uma OU a uma) inflação menor.

2. O diretor chamou _____ (o OU ao) funcionário à sua sala.

3. Ele não conhece ____  (os OU aos) pais.

4. Ele desconhece ____ (as OU às) nossas decisões.

5. Ele não reconheceu ____  (os OU aos) acusados.

6. O resultado das pesquisas desagradou ____  (os OU aos) diretores da empresa.

7. A verdade é que eles desobedeceram ____  (o OU ao) acordo.

8. Ele esqueceu ____  (todos OU de todos) os documentos.

9. Ele se esqueceu ____  (todos OU de todos) os documentos.

10. Eu não lembro ____  (seu OU de seu) nome.

11. Eu não me lembro ____  (seu OU de seu) nome.

12. A decisão do árbitro acabou favorecendo ____  (o OU ao) Flamengo.

13. A filha namorava ____  (o OU com o) primo.

14. Devemos obedecer ____  (os OU aos) sinais de trânsito.

15. Obedeça ____  (a OU à) sinalização.

16. O coordenador quer ____  (todos OU a todos) os professores na reunião.

17. Os alunos querem bem ____  (todos OU a todos) os professores.

18. A secretária procedeu ____  (o OU ao) chamamento dos candidatos.

19. O povo não respeita mais ____ (os OU aos) deputados.

20. Ele sempre usava ____  (alguns OU de alguns) meios ilícitos.

21. Ela já pode usufruir____  (a OU da) herança.

22. Acabou vencendo ____  (o OU ao) adversário com facilidade.

Respostas

Exercício 1

1. A decisão foi favorável A todos.

2. O filme é impróprio PARA (ou A) menores.

3. O filho é natural DE Fortaleza.

4. O cientista é perito EM hieróglifos.

5. Ele sente ojeriza POR mentiras.

6. Ela foi afável COM (ou A) seus parentes.

7. Ela estava ansiosa POR viagens.

8. Ele mora muito próximo A ou DE mim.

9. A decisão não foi compatível COM seu modo de pensar.

10. Ele é residente EM uma rua muito distante.

11. Seu escritório é situado NA Avenida Rio Branco.

12. Esta ideia é preferível A qualquer outra.

Exercício 2

1. O governo almejava, para este mês, UMA inflação menor.

2. O diretor chamou O funcionário à sua sala.

3. Ele não conhece OS pais.

4. Ele desconhece AS nossas decisões.

5. Ele não reconheceu OS acusados.

6. O resultado das pesquisas desagradou AOS diretores da empresa.

7. A verdade é que eles desobedeceram AO acordo.

8. Ele esqueceu TODOS os documentos.

9. Ele se esqueceu DE TODOS os documentos.

10. Eu não lembro SEU nome.

11. Eu não me lembro DE SEU nome.

12. A decisão do árbitro acabou favorecendo O Flamengo.

13. A filha namorava O primo.

14. Devemos obedecer AOS sinais de trânsito.

15. Obedeça À sinalização.

16. O coordenador quer TODOS os professores na reunião.

17. Os alunos querem bem A TODOS os professores.

18. A secretária procedeu AO chamamento dos candidatos.

19. O povo não respeita mais OS deputados.

20. Ele sempre usava ALGUNS meios ilícitos.

21. Ela já pode usufruir DA herança.

22. Acabou vencendo O adversário com facilidade.

Na noite de anteontem, o poeta, professor e jornalista Carlos Cunha tomou posse na cadeira nº 33 da Academia Maranhense de Letras, tem como patrono Pedro Nunes Leal e foi ocupada pelo inesquecível escritor maranhense Viriato Correia. E a Casa de Antônio Lobo iluminou-se e, diante, penso, duma assistência seleta, com a mocidade na vibração dos pensamentos renovadores, com a presença dos imortais, representantes da cultura maranhense, o festejado poeta de “Poesias de Ontem”, na sua simplicidade, na grandeza dos seus sentimentos bons, sentiu a valorização do seu trabalho intelectual, seu esforço, sua tenacidade, sua inteligência conquistando, para ele e para o Maranhão, estes instantes de glória, conquista da sua luta pela maior soma de conhecimentos gerais, afirmação do seu valor, da sua grandeza de espírito.

Não poderia a Academia Maranhense de Letras negar-lhe os méritos. E, reconhecendo-os, assegurou-lhe a votação merecida. E a cidade, a terra-berço do menino pobre, vestiu-se de alegria, e a noite de anteontem, da iluminação dos astros.

Não nos foi possível ir à Academia. A doença impossibilitou-nos a participação da festa do poeta das impressões, do poeta sentimental, lírico, impressionista. Mas, aqui, estamos na oferta da homenagem. Há com Carlos Cunha, sem favor do elogio, a força duma vontade determinada. É um estudioso. Tem valor. Muito e muito pode ainda realizar. Seus versos denunciam o amadurecimento das reflexões mais íntimas. Há a presença da sua alma inquieta buscando o aperfeiçoamento. Seus versos têm o batismo de todas as emoções. E, em alguns, se surpreende a mensagem mais humana e mais afetiva. E seus poemas poderão crescer ainda mais e plantar-se na planície da terra dadivosa para a colheita futura dos frutos maduros. Suas “Poesias de Ontem” abriram-lhe a porta da Academia Maranhense de Letras e as de amanhã, quem sabe, encaminharão o poeta para outras conquistas intelectuais.

Na noite de sua posse, Carlos Cunha reencontrou-se com seus sonhos, realizou-os, e isto vale como um prêmio de seus esforços. Ninguém lhe poderá negar as palmas, ninguém lhe poderá negar a grandiosidade do seu talento, da sua inteligência.

E se o Nascimento, meu pai, estivesse vivo, estaria satisfeito por vê-lo na Academia Maranhense de Letras, ao seu lado, do garoto de ontem, ouvindo a declamação dos seus versos, dos seus poemas. E haveria um dilúvio de emoções no coração de todos. Mas, está Carlos Cunha na Academia. Agora, é continuar, é cooperar mais, é ajudar mais. Não se fixar na “tradição”, não. É participar ativamente desta nova fase de realizações acadêmicas: reuniões, promoções, conferências etc.

É preciso agitar, dar mais vida à Casa de Antônio Lobo, integrá-la nos parágrafos dos seus objetivos. É preciso que haja a divulgação ampla dos nossos valores, estes que se encontram dentro da Academia, os novos e os velhos.

Ontem, Fernando Viana, Bernardo. Depois, Montello e outros têm contribuído para que a Casa das Letras se reencontre com este Presente de reformas e de evolução, de progresso, e prosperidade.

O Maranhão está na fase das grandes realizações. Com a Academia, deve haver o mesmo programa de desenvolvimento, de revolução intelectual. Uma nova mentalidade para o soerguimento do nosso patrimônio histórico: o Passado que nos foi legado e a este Presente a grandiosidade de novas conquistas.

O poeta Carlos Cunha está na Academia, e o Maranhão alegra-se por isto. É esta a nossa homenagem.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”,23 de dezembro de 1967 (sábado).

CIDADES –

violência urbana

desumana

imunda

CIDADES –

violência política

satírica

crítica

CIDADES –

violência econômica

 cômica

 lacônica

CIDADES –

cidade de São Luís

Dissabores...

Adeus!...

“Vou embora para...”

* Paulo de Tarso Moraes. “Retratos do meu Eu” (inédito).