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Em 5 de agosto de 1967, há exatamente 53 anos, surgia o primeiro disco da banda Pink Floyd: “The Piper at the Gates of Dawn” (em português: “O Flautista nos Portões do Amanhecer”). Tenho um exemplar dessa obra inicial na minha coleção de quase todos os discos e videos dessa banda britânica.

Formada em Londres dois anos antes (1965), Pink Floyd revolucionou e influenciou artistas e a própria música em nível mundial.

Ainda menino, tomei conhecimento e tomei gosto pela música do conjunto, classificada como “rock progressivo” – embora os taxonomistas musicais também listem as produções do Pink Floyd como “art rock”, “rock psicodélico”, “rock experimental”, “space rock”, “rock sinfônico”, “blues rock” e, até, “hard rock”. Só sei que esse gênero levou-me ainda aos grupos Yes, Genesis, Emerson Lake & Palmer, ao Rick Wakeman (hoje com 71 anos) e tantos outros.

Depois de idas e vindas, e após gravarem em 2014 seu canto de cisne, o último disco (“The Endless River”), foi anunciado o fim da banda em agosto de 2015, exato meio século após sua criação.

Pink Floyd era formado por Syd Barrett (que saiu do grupo; falecido), Nick Mason, Richard Wright (falecido), Roger Waters e David Gilmour – estes dois com carreira solo e vários discos individuais lançados.

No “link” abaixo, a música “Comfortably Numb”, em apresentação ao vivo em 1994.

* EDMILSON SANCHES

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As inscrições para a Rede Nacional de Certificadores (RNC), a fim de atuação em atividades de certificação dos procedimentos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, começam nesta quarta-feira (9) e vão até o dia 29 deste mês. O cadastramento destina-se a servidores públicos federais e professores das redes públicas estaduais e municipais.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicou na última sexta-feira (4), no “Diário Oficial da União”, o Edital nº 64 de chamada pública. As inscrições podem ser feitas no seguinte endereço na “internet”: certificadores.inep.gov.br ou no aplicativo móvel, disponível nas principais lojas de aplicativos.

“Para realizar a inscrição, o candidato deverá atender aos requisitos descritos no edital, como: ser servidor público, efetivo e em exercício, do Executivo Federal ou ser docente, em exercício, das redes públicas de ensino estaduais e municipais e estar devidamente registrado no Censo Escolar 2019; ter formação mínima em ensino médio; não estar inscrito como participante no Enem 2020; não ter cônjuge, companheiro ou parentes de até 3º grau inscritos no Enem 2020; e possuir “smartphone” ou “tablet”, com acesso próprio à “internet” móvel”.

Entre as atribuições, os servidores vinculados à RNC deverão certificar “in loco”, sob demanda do Inep, a efetiva e correta realização dos procedimentos de aplicação nos dias de realização do exame; registrar, em sistema eletrônico, as informações coletadas com base em sua atuação; e informar ao instituto possíveis inconsistências identificadas. Segundo o Inep, o cadastramento prévio não garante a inscrição para atuação como certificador no Enem 2020.

Os convocados deverão participar de uma capacitação a distância promovida pelo Inep para divulgação de normas, procedimentos e critérios técnicos da RNC. Eles só serão considerados aptos somente após a participação e a aprovação nas atividades desenvolvidas no curso de capacitação, com, no mínimo, 70% de aproveitamento.

A atividade desenvolvida pelo certificador terá o valor de R$ 342 por dia. A remuneração se enquadra em atividade prevista no anexo do Decreto nº 6.092, de 2007 (elaboração de estudos, análises estatísticas ou relatórios científicos de avaliação), equiparando-se ao valor da hora do servidor público do Poder Executivo Federal, de R$ 28,50.

De acordo com o cronograma previsto no edital, o resultado da chamada pública e o endereço eletrônico com a relação da homologação das inscrições e dos colaboradores convocados para realizar o curso de capacitação serão divulgados no “Diário Oficial da União”, no dia 14 de outubro.

O documento estabelece, ainda, que os certificadores selecionados deverão, obrigatoriamente, nos dias de atuação, portar álcool em gel e usar máscaras para proteção contra a covid-19. As máscaras poderão ser artesanais ou industriais e deverão ser utilizadas ao longo da aplicação e trocadas quando ficarem úmidas ou a cada quatro horas. Será proibida a entrada do certificador no local de aplicação sem a máscara de proteção facial. O Enem impresso está marcado para os dias 17 e 24 de janeiro de 2021.

(Fonte: Agência Brasil)

Com o objetivo de despertar o interesse pela leitura de textos e, principalmente, conhecer a produção de escritores maranhenses, o projeto LITERATURA MARANHENSE está abrindo espaço no BLOG DO PAUTAR... Aproveite... Boa leitura!

PREFÁCIO

(Ao livro “Esperantinópolis – História e Desenvolvimento: Minha Cidade, Meu Legado”, da professora Clara Lopes Jovita, a ser lançado em outubro, em Esperantinópolis/MA)

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“Todo mundo canta sua terra
Eu também vou cantar a minha
Modéstia à parte seu moço
Minha terra é uma belezinha”.

(João do Vale / Julinho do Acordeon, “Todos Cantam Sua Terra”)

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São muitas as formas de expressar a saudade da terra natal, o amor pelo lugar de origem.

Em uma de suas formas mais complexas, esse sentimento se revela no banzo, um processo psicológico que se instalava e se desenvolvia nos africanos retirados à força da própria terra e levados como escravos para longes lugares d’além-mares.

Muitos dos que sobreviviam às semanas de cruel tratamento e solavancos oceânicos, quando em terra se iam sendo possuídos de tantos penares e decaíres, tantos pesares e ruíres, tantos pensares e sentires que então tanto corpo quanto mente quanto alma se amalgamavam até chegar a um estado que crescia da irritação à exasperação, à destruição, à prostração pela mais profunda das nostalgias por sua mãe África, pela mais desanimadora, triste e abatedora das melancolias pela vida livre que tinham e não mais poderiam ter – e tudo isso, como um manto de chumbo, lhes pesava e os levava à falta de energia moral e física, ao abatimento, ao desânimo, à inanição, à indiferença, ao desinteresse pela vida.

Loucura, suicídio, morte – eram o resultado, ou a realização de um desejo, daquilo que a alma sentia pelo que lhe fizeram a ela...

Saudade – sabe-se – também mata...

Horácio (65 a.C.-8 a.C.), um dos maiores poetas e filósofos da Roma antiga, dirigindo-se ao amigo Virgílio, já indagava em suas odes acerca dos deslimites e despudores que a saudade de ambos poderiam ter ante a perda de outro amigo. O italiano Dante (1265-1321), em seu “Inferno”, já versejava sobre a “maior dor”: a de lembrar, nos maus momentos, “a hora feliz”. Camões (1524-1580) lamentava que, mesmo que voltassem os bons tempos, não voltariam “as idades” para curti-los (como se diria, na linguagem de agora). Shakespeare (1564-1616), o grande, o maior poeta e dramaturgo inglês, soneteava convocando as lembranças do passado e “sentindo a ausência” do que amou. Camilo Castelo Branco (1825-1890) queria para sempre, no coração, “os belos quadros da florida idade”.

Saudades, lembranças, nostalgia, praticamente todos as temos ou tivemos. E, sobre a terra de cada um de nós, a forma de expressar esse sentimento é inesgotável. Pintores pintaram, nos limites da tela, a terra natal – o catalão Joan Miró, o holandês Vincent Van Gogh, o espanhol Pablo Picasso (como nas pinturas do chamado período de azul e verde), o brasileiro Cândido Portinari (“Nenhum pintor pintou mais um país do que Portinari pintou o seu...”, disse o pintor, escritor, crítico de arte e professor universitário mineiro Israel Pedrosa, 1926-2016). Os pintores sempre entintam seus quadros de seus chãos...

Músicos compõem, cantam, interpretam sua terra... A canção é uma das formas mais completas para se extravasar as emoções que inundam coração e mente apaixonados também pelo torrão natal. Seja música sacra, erudita, clássica, folclórica, popular, não há estilo, gênero, não há limite, divisa, fronteira para a música como comunicadora, partilhadora de saudades telúricas e ufanismos pátrios.

Se os “Concertos de Brandenburgo”, de Bach, se referem ao sobrenome do colecionador que os encomendou em 1721, não há como, ao menos nominalmente, não os associar ao Portão e ao Estado de Brandenburgo e à Alemanha, já que Brandenburgo circunda completamente Berlim, a capital alemã, como o Estado de Goiás envolve a capital do Brasil. E, no Brasil, canta-se ou lembra-se o país tanto com a música clássica de Villa-Lobos que destaca a Amazônia com sua música orquestral (“Amazonas”, de 1917), piano (“Saudades das Selvas Brasileiras”, de 1927), vocal (“A Floresta do Amazonas”, de 1958, e o “Poema de Itabira”, de 1942) quanto com o romântico Roberto Carlos cantando sua Cachoeiro do Itapemirim. Agnaldo Timóteo, com “Os Verdes Campos de Minha Terra”, recantou “Green Green Grass of Home”, a clássica canção “country” de Claude Curly Putnam Jr., composta em 1965 e gravada e regravada por muitos e muitos nomes da música americana e europeia – Tom Jones, que fez muito sucesso com ela, embora morando nos Estados Unidos, nasceu no País de Gales (Europa). Julio Iglesias fez sucesso com “Un Canto a Galicia” (“[...] um canto à Galícia, terra de meu pai, minha terra mãe [...]”). O sanfoneiro Severino Januário compôs e cantou “Saudades de Montalvânia”, cidade mineira. Jussara Silveira, a mineira-baiana, que canta fado sem enfado, promete, em “Voltarei à Minha Terra”, de Armandinho e Tiago Torres da Silva: “Voltarei à minha terra / Quando já estiver cansada / Do destino que me leva / A andar de estrada em estrada”.

E nem se fale da música que abre este prefácio. Composta pelo maranhense João do Vale e o acordeonista e maestro cearense João Aguiar Sampaio, o Julinho do Acordeon, falecido em 2008, “Todos Cantam Sua Terra” tem gravação de 1960, com o potiguar Aldair Soares, e com a maranhense Alcione Nazareth, cantora, compositora e instrumentista, que, além de agregar a sua maranhensidade, deu a voz mais conhecida à música, gravada no disco “Alerta Geral”, de 1978. Registre-se que, como todos cantam a própria terra, os dois primeiros versos da canção de João do Vale e Julinho – “Todo mundo canta sua terra / Eu também vou cantar a minha” – recantam e praticamente repetem, exatos cem anos depois, os versos iniciais do poema “Minha Terra”, do poeta carioca Casimiro de Abreu: “Todos cantam sua terra, / Também vou cantar a minha”. Casimiro, por sua vez, escreveu esse poema inspirado na “Canção do Exílio”, do grande poeta maranhense de Caxias, Antônio Gonçalves Dias, que dá a epígrafe ao poema casimiriano, publicado em 1859, na obra “As Primaveras”. Conhecido por fazer poemas sobre lembranças da casa dos pais e de saudade de sua terra, Casimiro José Marques de Abreu viveu apenas 21 anos, de 1839 a 1860.

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Esse apanhado, quase aleatório, de referências sobre a permanência da terra natal naqueles que saem dela, reforça que Clara Lopes Jovita, com “Esperantinópolis – História e Desenvolvimento: Minha Cidade, Meu Legado”, traz mais um atestado de compromisso de um ser com o solo que o viu nascer e crescer, sem deixar de a ele pertencer, mesmo quando, no caso de Clara, a terra não a podia ter todo dia.

De sua terra, Clara Jovita, sim, trouxe saudades mas nenhuma culpa por ter se “aventurado”, franzina e sozinha, por outras terras. Muito ao contrário, a saudade alimentava o amor – e o orgulho – pela própria terra. E aqui e acolá se reforçavam os laços de filiação, seja presencialmente, pelas viagens, seja à distância, pelos contatos com familiares e amigos.

Com este livro, guardadas as proporções, Clara Lopes Jovita materializa seu desejo de legar para Esperantinópolis um trabalho específico, todo voltado para os aspectos que, de regra, são os mais presentes na existência de uma comunidade: a História, que tem a ver com o passado até ontem, e o Desenvolvimento, que é o próprio povo em movimento, no aqui e agora, presente e futuro sendo construídos, ambos deixando, como rastro, o passado.

Os esperantinopenses (ou esperantinopolenses) podem ficar certos de que um livro – este livro – estará presente até mesmo quando muita coisa, e muita gente, não estiver. É a sina ou destino dos livros: embora aparentemente frágeis, resistem ao tempo, como se fossem diamantes cristalizados, endurecidos à base de celulose e tinta.

Quando muitos não puderem ser, o livro – este livro – o será. Será a testemunha de um recorte de tempo absolutamente único, que reúne a singularidade de tornar-se a conexão entre algumas décadas, dois séculos e três milênios. Realmente, é um tempo deveras rico em simbolismo e História.

E neste tempo, embora carregando mais de três gerações e meia nos couros, Clara Lopes Jovita, olhando para o futuro, não se furta como ente presente.

“Esperantinópolis – História e Desenvolvimento: Minha Cidade, Meu Legado” convida estudantes, professores, jornalistas, pesquisadores, políticos, investidores e todos em geral para que, com calma, como deve ser a ingesta de alimentos para a alma e a mente, folheiem e leiam as palavras e os números, vejam as imagens e sintam, a partir disso, que a cidade, o município, ficou um pouquinho mais conhecido de cada um.

O papa João Paulo II, em um momento de angústia, disse que não se devem arrancar as raízes de onde viemos.

De quantas maneiras pode-se homenagear a terra natal? De muitas. Uma delas é ser boa pessoa, honesta e trabalhadora. A outra, é fazer o bem para outros. E uma terceira, entre tantas maneiras, como a aprofundar – e não arrancar – as próprias raízes, é lançar um livro sobre sua cidade.

Professora, religiosa, devotada aos seus alunos, dedicada a ações caritativas que não divulga, Clara Lopes Jovita vem, há muito, homenageando sua cidade sem esta o saber.

Como se fosse aquela montanha de gelo (o “iceberg”), que só deixa ver a pontinha e não mostra o tamanhão que existe abaixo, o trabalho, a espiritualidade e as ações voluntárias de Clara Jovita são, na verdade, senão a grande herança, o maior exemplo que pais, família e uma cidade deveriam esperar dessa filha, irmã e cidadã.

O legado, agora se sabe, não é só este livro.

O legado também é sua autora.

Na memória, para os seus.

E na História... para sempre.

* EDMILSON SANCHES

Escolas das redes pública e privada voltaram a funcionar nesta terça-feira (8), em 128 municípios paulistas A autorização dada pelo governo estadual permite a retomada de apenas parte das atividades presenciais, como aulas de reforço e recuperação, orientação de estudos, tutoria pedagógica; plantão de dúvidas, avaliação diagnóstica e formativa, atividades esportivas e culturais e acolhimento emocional.

Os municípios gozam de autonomia para definir o calendário de volta às aulas, já que a decisão depende do avanço da covid-19 nas regiões. De acordo com informações repassadas pela Secretaria da Educação à Agência Brasil, há cidades que haviam aderido à retomada das atividades e recuaram, como é o caso de Cotia, que apresenta curva ascendente da doença, já somando 3.644 casos confirmados.

As condições para o retorno estão previstas no Plano São Paulo, que classifica os municípios por cores, conforme os índices de covid-19. Segundo as regras, para voltar a desenvolver atividades presencialmente, as unidades escolares devem estar localizadas em áreas enquadradas na Fase Amarela do plano, por 28 dias consecutivos, no mínimo.

Em nota, a secretaria destaca que as escolas estaduais que retornarem poderão receber, no máximo, 20% dos alunos por dia, independentemente da etapa de ensino. Já as redes municipais e privadas devem seguir o decreto do governo estadual, que prevê limite de 35% para educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, e 20% para anos finais do ensino fundamental e ensino médio.

Há ainda recomendação de que estudantes do grupo de risco permaneçam em casa e continuem acompanhando as aulas por ensino remoto. O mesmo vale para profissionais.

Para tirar dúvidas de alunos, pais, professores e servidores da área, a pasta criou cartilhas que explicam como devem proceder.

O secretário de Educação, Rossieli Soares, afirmou que um dos focos da fase de retorno é "o aspecto socioemocional". Ele reiterou a necessidade de levar com seriedade os protocolos de prevenção contra a covid-19. "A rede deve estar voltada a cumprir todos os protocolos de saúde e de segurança. E isto é um dever de todos nós: equipes gestoras, escola e família".

Até o início da tarde de ontem (7), o Estado de São Paulo contabilizava 857.330 casos confirmados de covid-19. No boletim epidemiológico, constavam 31.377 óbitos.

(Fonte: Agência Brasil)

Filhos talentosos nas Artes, Ciências, Administração, Música, Literatura, Pintura, Saúde, Direito, Religião etc., filhos que encheriam de orgulho qualquer país, qualquer Estado, qualquer cidade, são filhos esquecidos em sua história e sua contribuição de enorme dimensão, quaisquer que sejam os critérios de avaliação.

MARANHENSES, TALENTOSOS... E ESQUECIDOS

Era o dia 1º de março de 2015. Eu sabia que, naquele dia, a cidade do Rio de Janeiro, capital do Estado brasileiro de mesmo nome, estaria completando exatos 450 anos. Nesse dia, na página principal de apenas um “site” de notícias (o UOL), a expressão “CIDADE MARAVILHOSA” aparece, pelo menos, sete vezes em manchete e títulos de textos. “Cidade Maravilhosa”, como se sabe, é uma figura de linguagem (chamada perífrase ou antonomásia ou epíteto) para denominar a cidade Rio de Janeiro.
Essa expressão – “Cidade Maravilhosa” –, de tanto que “pegou”, é nome de música (de 1934, depois considerada hino oficial do município carioca: “Cidade Maravilhosa / cheia de encantos mil...”), nome de programa de rádio, título de livro (tenho um exemplar de obra com esse nome, do começo da década de 1920, de autoria de Olegário Mariano, pernambucano que morava no Rio). Enfim, no Brasil e no mundo, é automático: “Cidade Maravilhosa” é sinônimo de “Rio de Janeiro”. Um septassílabo por um tetrassílabo, 17 letras por 12.

Pois bem: antes da data de 1º de março de 2015, havia dias que a grande Imprensa (rádio, jornal, televisão, “sites”), sobretudo a do Sudeste, vinha fazendo e divulgando matérias sobre o Rio de Janeiro e seus 450 anos. Invariavelmente, a expressão “Cidade Maravilhosa” estava ali, naquelas matérias. “Cidade Maravilhosa” é a expressão-alma que dá “vida” ao nome-corpo “Rio de Janeiro”.

O que não vi, não li, não escutei foi a referência, mínima que fosse, a quem é, senão o autor, o grande divulgador da expressão “Cidade Maravilhosa” como perfeita substituta, dublê de corpo e alma de “Rio de Janeiro”.

Pois o maior divulgador da expressão “Cidade Maravilhosa” é um maranhense multitalentoso – como o eram os diversos maranhenses, sobretudo escritores, que, individualmente ou com a família, se mudaram para a antiga Capital Federal, o Rio, em especial no século XIX.

O grande divulgador da expressão “Cidade Maravilhosa” é o maranhense de Caxias Henrique Maximiano Coelho Netto, que surpreendeu e encantou o Brasil com suas dezenas e dezenas de livros e milhares e milhares de textos.

O Maranhão de hoje não sabe fazer jus aos maranhenses talentosos de ontem. O Maranhão não se autorreconhece. Não adotou um pingo de sadia ousadia, de criativa audácia, para (im)por-se em seu lugar no concerto da Federação. Falando no geral, pergunte-se a um estudante maranhense ou a outro cidadão a escalação do seu time de futebol (geralmente paulista ou carioca) e ele lhe poderá detalhar até como deram os passos e passes que culminaram no terceiro gol do segundo tempo do primeiro turno do ano de mil e lá vai fumaça. Genial. Louvável. É o amor ao futebol.

Agora, pergunte-se que (enorme) diferença fez no Brasil ou no mundo escritores, cientistas, artistas e políticos nascidos em muitos casos nas brenhas da hinterlândia maranhense, muitas das vezes com todas e aparentes pré-condições para darem errado na vida, pela soma de fatores socioeconômicos, educacionais, familiares, territoriais...

Maranhenses que causariam orgulho aparente, explícito, e não apenas latente, potencial, a cidades como Paris, a países como a França... Mas esses nossos irmãos não mereceram até hoje dos setores Público e Privado um conjunto de ações sistêmicas e sistemáticas, orgânicas e organizadas para, até mesmo, (re)validar nossa “fama” de “Atenas Maranhense” e (re)ativar ou inspirar espíritos conterrâneos para os valores e validade da Cultura, da Arte, da Educação, do Conhecimento, da Ciência, da Literatura, da (boa) Política.

Dá vergonha ou, mais ainda, tristeza, saber o tanto de esforço, tempo, talento e outros recursos que homens e mulheres maranhenses despenderam em nome de uma coisa, em defesa de uma causa. Gente maranhense que tem recebido muito mais reconhecimento e homenagens em solo não maranhense do que na própria terra que o viu nascer.

Naquele dia dos 450 anos do Rio de Janeiro, o Maranhão poderia estar saudando a antiga capital brasileira em peças publicitárias copatrocinadas, em textos assinados, em matérias jornalísticas, onde se destacasse o talento maranhense ou do maranhense Coelho Netto como o maior divulgador da expressão “Cidade Maravilhosa” e se resgatasse ou se reafirmasse a identidade ou coirmandade maranhense e carioca, a partir mesmo da enxurrada de ações e realizações de que foram agentes os muitos e talentosos maranhenses que tiveram o Rio como segunda terra em sua vida.

Poucos Estados ombreiam-se com o Maranhão na quantidade e qualidade de seus filhos de destaque.

MANOEL ODORICO MENDES, escritor, político, tradutor, é o precursor no Brasil da moderna tradução criativa. Sua tradução das obras de Virgílio e Homero são, até hoje, objeto de estudos e elogios. A Unicamp e seu Instituto de Estudos da Linguagem têm, permanente, o “Projeto Odorico Mendes”. Odorico Mendes é nome de rua no Rio de Janeiro e é bisavô de Maurice Druon, famoso escritor francês, decano da Academia Francesa, falecido em 2009.

TEÓFILO ODORICO DIAS DE MESQUITA, advogado, jornalista, escritor, é patrono da Academia Brasileira de Letras e autor da obra responsável pelo Parnasianismo no Brasil. É caxiense.

JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE DE CAUKAZIA PEREIRA, o Sousândrade, escritor vanguardista, formado em Paris, é autor de obra tida como das mais originais e instigantes do Romantismo no Brasil.

JOÃO MENDES DE ALMEIDA, advogado, jornalista, líder abolicionista, escritor, foi o maranhense redator da Lei do Ventre Livre e é considerado o jornalista mais completo do Brasil de todos os tempos. O Instituto dos Advogados do Brasil paulista lançou sua obra jurídica. João Mendes mereceu busto e praça com seu nome na maior cidade brasileira, São Paulo, além do nome de seu filho, João Mendes de Almeida Júnior, dado ao fórum paulistano... No Maranhão, quem sabe disso?, quem o estuda?, que escola ou rua ou praça recebe seu nome?, que homenagens lhe são creditadas?, que honrarias lhe são, mesmo pós-morte, atribuídas? É caxiense.

ADERSON FERRO, odontólogo, formado em Paris, considerado “Glória da Odontologia Nacional”, autor de obra pioneira nessa Ciência. Pioneiro no uso da anestesia em Odontologia no Brasil. Quanto ao Maranhão, deixa-nos de boca aberta o desconhecimento e o não esforço para reassumir a maternidade desse ilustre filho, reconhecido e homenageado em outros lugares – mas não aqui. É caxiense.

JOAQUIM GOMES DE SOUSA, o Sousinha, matemático, escritor, tradutor, estudou Matemática e Medicina (em que se doutorou) na Europa. É considerado o primeiro físico e matemático brasileiro e, segundo alguns, o maior matemático do Brasil até hoje. Também surpreendeu a Europa com seus vastos conhecimentos nas ciências dos números e cálculos.

HENRIQUE MAXIMIANO COELHO NETTO, eleito “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”, entre tanta coisa que legou ao Brasil, estão curiosidades como os títulos “Cidade Maravilhosa” para o Rio, de que foi o maior divulgador, e “Cidade Verde” para Teresina. Também foi desportista e, capoeirista que era, foi o responsável pela elevação da capoeira no Brasil à dignidade de esporte. Criou a palavra “torcida” com o sentido de grupo de adeptos de um time de futebol. Seu filho João, apelidado “Preguinho”, foi o autor do primeiro gol da Seleção Brasileira de futebol em Copa do Mundo.

MARIA FIRMINA DOS REIS é considerada a primeira romancista brasileira. Seu primo, FRANCISCO SOTERO DOS REIS, é autor de monumental obra de estudos filológicos (Língua Portuguesa).

ANTÔNIO GONÇALVES DIAS é introdutor do Indianismo na Literatura brasileira, autor de decantados livros e dos mais declamados e citados versos da Poesia brasileira: “Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá / ...”. Quem canta o Hino Nacional Brasileiro também canta Gonçalves Dias e o Maranhão, pois a mais importante composição musical do país tem versos desse maranhense de Caxias.

RAIMUNDO DA MOTA DE AZEVEDO CORREIA, magistrado, professor, diplomata, escritor, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, é autor maranhense citado e recitado pela beleza de seus versos e importância dentro do Parnasianismo e Simbolismo brasileiros.

CELSO TERTULIANO DA CUNHA MAGALHÃES é o maranhense pioneiro do estudo do folclore no Brasil, responsável pelo lançamento das bases metodológicas do folclorismo nacional. Embora voltado mais para a poesia popular, seu trabalho se estendeu também pelo teatro, a poesia, a ficção e a crítica.

HUMBERTO DE CAMPOS VERAS, escritor, jornalista, político, da Academia Brasileira de Letras, é autor de volumosa obra, conhecida e reconhecida por muito tempo.

CATULO DA PAIXÃO CEARENSE (seu pai era do Ceará; sua mãe, maranhense) é o poeta e músico autor do que é considerado o “hino nacional sertanejo”, a poesia e música “Luar do Sertão” (quem não se lembra de “Não há, ó gente, ó não, / luar como este do sertão (...)”, música gravada por, entre outros, Luiz Gonzaga, Vicente Celestino e Maria Bethânia. Trata-se da primeira música sertaneja gravada no Brasil – e o que o Maranhão faz com esta informação, nestes tempos de proliferação da música dita “sertaneja”? Além disso, Catulo, que foi relojoeiro no Rio e parceiro de Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, é considerado o responsável pela reabilitação do violão nos salões da alta sociedade carioca e pela reforma da "modinha", uma espécie de canção espirituosa ou amorosa.

E os talentosos irmãos Azevedo? ALUÍSIO TANCREDO BELO GONÇALVES DE AZEVEDO, escritor, diplomata, jornalista, caricaturista, desenhista e pintor, que lançou, no Brasil, o Naturalismo, com seu romance “O Mulato”, de 1881. ARTUR NABANTINO GONÇALVES DE AZEVEDO, mais velho que Aluísio, dramaturgo, poeta, contista, crítico, jornalista brasileiro, é, no Brasil, o principal autor do gênero teatral chamado “teatro de revista”, que traz números musicais com sensualidade e comédias com críticas políticas e sociais. Foi o maranhense Artur Azevedo o responsável pela criação da lei que obrigava a construção do Teatro Municipal do Rio de Janeiro – inaugurado, aliás, com uma peça do igualmente maranhense Coelho Netto. Ambos os irmãos moraram no Rio e foram sócios-fundadores da Academia Brasileira de Letras.

ADELINO FONTOURA CHAVES, jornalista, ator e poeta, maranhense que é o patrono da cadeira número 1 da Academia Brasileira de Letras. Sua obra precisa ser divulgada, conhecida...

ODYLO COSTA FILHO, jornalista, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras, chefiou redações de publicações importantes no Rio de Janeiro e São Paulo, sendo responsável pela renovação do jornalismo brasileiro a partir da modernização do “Jornal do Brasil”, hoje extinto. Poucos sabem que Odylo foi primeiro diretor da revista de reportagens “Realidade”, da Editora Abril, empresa da qual também foi membro do Conselho Editorial.

CELSO ANTÔNIO SILVEIRA DE MENEZES, caxiense, pintor, escritor e professor brasileiro, considerado um dos maiores escultores do Modernismo brasileiro. Amigo de Di Cavalcanti, Cândido Portinari, mereceu os melhores reconhecimentos de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e, entre outros, Otto Lara Resende, que escreveu um manifesto onde escreve, textualmente: “(...) considero um absurdo que até hoje, no final de 1989, um artista do valor e da importância de Celso Antônio não tenha tido ainda o reconhecimento que merece”. E o Maranhão, o que faz, o que diz?

SINVAL ODORICO DE MOURA, magistrado e político, um raro caso de alguém que foi governante de quatro Estados no Brasil. É caxiense. Mas tiraram seu nome de uma das mais tradicionais ruas da cidade, a Conselheiro Sinval.

RAIMUNDO TEIXEIRA MENDES, cuja luta em prol das causas sociais, a partir do Rio de Janeiro, inundou o país de benefícios, como direitos da mulher, do jovem trabalhador, a hoje Fundação Nacional do Índio (Funai), a separação Igreja-Estado... Entre tantas “coisas” que fez e foi, é um dos principais nomes do Positivismo (aqui e no mundo) e é autor da Bandeira Brasileira. Não fosse Teixeira Mendes, correríamos o risco de ter, como nossa, a bandeira dos Estados Unidos... pintada de verde e amarelo. Este gigante é caxiense.

CÉSAR AUGUSTO MARQUES, múltiplo talento, médico atuante, pesquisador incansável, escritor e historiador, tradutor, autor de obras inaugurais da historiografia maranhense e brasileira. Caxiense.

ANDRESA MARIA DE SOUSA RAMOS, estudada por escritores, sociólogos e antropólogos brasileiros e estrangeiros, é a Mãe Andresa, sacerdotisa de culto afro-brasileiro de renome internacional, última princesa da linhagem direta fon, que comandou, durante 40 anos, a Casa de Mina em São Luís, até morrer em 1954, aos cem anos de idade. É caxiense.

O grande UBIRAJARA FIDALGO DA SILVA, o primeiro dramaturgo negro brasileiro, ator, diretor, produtor, bailarino, apresentador de TV e criador do Teatro Profissional do Negro, reconhecido e homenageado nos grandes centros brasileiros como Rio de Janeiro e São Paulo. É caxiense. Enquanto isso, no Maranhão, quem sabe da existência de tamanho talento, falecido em 1986, no Rio de Janeiro? Quem do Maranhão já patrocinou montagem de suas peças, a edição de seus textos, encenados e inéditos? Qual autoridade bancou uma exposição sobre seus trabalhos, a exibição de documentários sobre Ubirajara Fidalgo, desconhecido em vida pelos caxienses e não reconhecido após a morte, e cuja filha, a cineasta Sabrina Fidalgo, luta pela preservação e divulgação da obra de seu pai e nosso conterrâneo?

No Maranhão, nasceram CÉSAR FERREIRA OLIVEIRA, “revolucionário constitucionalista” em São Paulo e “Herói da Guerra de Canudos”, e JOÃO CHRISTINO CRUZ, criador do Ministério da Agricultura, agrônomo que fez estudos em outros países e é o presidente de honra da Sociedade Nacional de Agricultura. Os dois, caxienses.

ANTÔNIO CARLOS DOS REIS RAYOL, compositor, tenor, violinista e regente brasileiro, que já aos 13 anos ensinava música, tirou primeiros lugares, foi para a Itália e tem obra ainda a ser, digamos, “popularizada”. Assim também ELPÍDIO PEREIRA, maestro e músico de renome internacional, autor do hino de sua cidade natal, Caxias, estudou e apresentou-se na França e em diversos Estados brasileiros. A obra elpidiana é publicada em livro por outros Estados. No Maranhão, musicalmente, ninguém (se) toca.

JOÃO LOPES DE CARVALHO, pintor e desenhista, que estudou sua arte em Portugal, onde, por seu grande talento, já aos 16 anos, em 1862, foi elogiado por muitos jornais de Lisboa. Sua arte era de tal qualidade que um de seus quadros ele recusou-se a vender, para doar para o Imperador patrono das Artes. É caxiense.

JOAQUIM ANTÔNIO CRUZ foi médico, militar e político e participou da demarcação de fronteira do Brasil com a Argentina e votou pela lei que terminou por abolir os castigos corporais nas Forças Armadas. É caxiense.

JOSÉ ARMANDO DE ALMEIDA MARANHÃO, teatrólogo, escultor, caricaturista, considerado “A Pedra Angular do Teatro Paranaense”. Estudou na Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Portugal, Espanha, Suíça, Bélgica e Holanda e teve aulas com nomes notáveis do Cinema e das Artes Cênicas, como Luchino Visconti, Federico Fellini, Roberto Rosselini, Michelangelo Antonionni, Lawrence Olivier, entre outros. É caxiense.

Até onde iríamos nesse desfile de grandes nomes maranhenses que, em geral, nós maranhenses deles pouco sabemos, ou não sabemos? A quantidade de nomes é tal que dobraríamos as esquinas da paciência e testaríamos o limite de páginas de papel e espaços digitais.

Ainda assim, ao que parece, maior que o rol de nomes, maior que esse escondido e escuro “hall” da fama, parece ser a desvontade, o desamor, o “nem te ligo” a que o Maranhão submete esses e outros maranhenses. Há, sim, plenas condições (potenciais e a serem construídas) para se reavivar a estrela do Maranhão na constelação de grandes, ilustres, úteis, talentosos nomes que fizeram positiva diferença para este país e lhe ajudou a construir ou fixar a identidade, a brasilidade, a maranhensidade. Naqueles 450 anos do Rio de Janeiro, podemos dizer que o Rio é brasileiro, mas a Cidade Maravilhosa... é maranhense.

Essa coleção de nomes forma um patrimônio simbólico, um potencial da Economia Criativa, um capital intelectual fantástico que não pode ser deixado assim, no desperdício, na não recorrência, no esquecimento. Programas, projetos, ações factíveis podem ser desenvolvidos, adotados, para estar permanentemente presentes nas escolas e universidades públicas e, quiçá, particulares do Estado; podem, com o devido “estímulo”, ser pautas permanentes da Imprensa maranhense, brasileira e, até, internacional; podem ser temas de concursos, objeto de estudos, de pesquisas, de obras de estudiosos, pesquisadores, autores, alunos, professores...

Enfim, podem saudavelmente ocupar a mente de maranhenses e brasileiros, levando multidões a ampliarem, ainda mais, o salubre e incontido orgulho de ser maranhense e brasileiro.

(Este réquiem é lançado para pessoas que, como o bíblico Moisés, saibam falar do que outros não falam, saibam enxergar onde outros não enxergam, saibam fazer onde tantos esqueceram...).

* EDMILSON SANCHES

A Independência do Brasil está marcada pela complexidade dos atores políticos como dom Pedro I e Maria Leopoldina. “O que mais me atrai nessas histórias são esses personagens envolvidos nesse processo da Independência. Poderia ter acontecido tudo ali”, confessa Paulo Rezzutti, escritor de biografias do período colonial.

Pedro chegou criança (7 anos de idade) à nova terra. “Depois de 12 anos no país, ele já era mais brasileiro do que português”, diz Rezzutti. A esposa, Maria Leopoldina (da Áustria), chegou ao Brasil em 1817 e foi só então que conheceu o marido (em um casamento acordado por procuração). Ela, aliás, revelou-se uma articuladora hábil e se liga a movimentos autonomistas, que desejavam que a situação permanecesse como estava. Uma personagem determinante para a mudança da rota da história.

“A situação se acirra. Se por um lado, Pedro está preocupado com os acontecimentos em Portugal, Leopoldina estava ligada à manutenção do trono no Brasil. Pedro considerava ficar desde que pudesse nomear os próprios ministros. Isso acontece no dia 9 de janeiro de 1822, o Dia do Fico”, conta o biógrafo, que já escreveu livros sobre dom Pedro I, Leopoldina, Marquesa de Santos, dom Pedro II, entre outros.

A decisão de dom Pedro I ficar no Brasil cai como uma bomba em Portugal. “As Cortes revogam tudo o que dom Pedro faz. Mas o navio com essa comunicação só chega em 28 agosto de 1822”, explica Rezzutti.

Depois de tanto tempo, as ordens de Lisboa determinavam ainda que Pedro e família deviam voltar para a metrópole imediatamente, e os auxiliares, como José Bonifácio e Clemente Pereira, que participaram do aconselhamento deviam ser demitidos, presos e levados para Lisboa. A reação no Brasil desencadeia uma sucessão de acontecimentos com as características da velocidade da época. “Até reunir o conselho de ministros, foi 2 de setembro. Os auxiliares levam a dom Pedro I a ideia de declarar a independência. José Bonifácio manda oficial de chancelaria encontrar dom Pedro urgentemente. Isso acontece em 7 de Setembro, no Ipiranga, em São Paulo. Até Portugal saber o que estava acontecendo, também demora”, destaca Rezzutti.

Leopoldina, a articuladora

Um detalhe ressaltado pelo biógrafo de Maria Leopoldina é que ela tem participação determinante no conselho de ministros em relação à declaração formal da Independência. “Ela era articuladora hábil. Tinha conhecimento de política e funcionou como uma mediadora importante nos bastidores do palácio para encontrar uma solução adequada”.

Após a independência, a situação continuou efervescente. A professora de história da Universidade de Brasília (UnB) Teresa Marques destaca que a decisão pela independência também não era consensual. “De fato, existem protestos no Nordeste do país que se levantam contra a Corte. Em Pernambuco, em 1817 e em 1824, há manifestações contra a Constituição imposta”.

Ela explica que a forma de lidar com as províncias era conturbada. “As pessoas comuns não entendiam direito o que estava acontecendo. Nem sempre dom Pedro se aconselhava com mentes mais moderadas. Quem dera ele ouvisse mais a esposa”.

As províncias reagiram a ter que obedecer ao Rio de Janeiro e não mais a Portugal. Pelo caminho da diplomacia, a independência só foi reconhecida pela Europa em 1825 mediante o pagamento de duas milhões de libras esterlinas para Portugal.

Independência x Brasilidade

O conceito de brasilidade acontece em não menos do que duas décadas depois, segundo os pesquisadores entrevistados. Teresa Marques destaca o papel da imprensa que, a par das dificuldades de dar conta de explicar o tempo presente, traz discussões relevantes para os jornais.

Para o historiador Deusdedith Rocha Junior, o 7 de Setembro, em boa parte pelo império português, não era tratado de forma importante. “Quando destacamos a independência como fruto da ação determinada de uma pessoa que é, no caso o imperador, abafam-se os interesses dos poderosos e também a ideia de que essas elites e dom Pedro tomaram todo cuidado para que a população não participasse disso”. Ele cita que as manifestações na Bahia e no Pará foram tratadas com violência policial, incluindo centenas de mortes.

“Não é uma história pacífica. Isso tudo cai no esquecimento para confirmar uma ideia de mansidão do brasileiro”. Os pesquisadores avaliam que não é possível entender aquele período apenas por uma ideia de “grito”, como se fosse o último episódio.

A história barulhenta, cheia de nuances, inclusive de silêncios, ainda vai ecoar pelos séculos.

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Independência: histórias de antes e depois do grito
Para escritores, Revolução do Porto estimulou Independência no Brasil

(Fonte: Agência Brasil)

A Independência do Brasil parece enredo de ficção com várias reviravoltas antes e depois de 7 de setembro de 1822. Para compreender essa história, é preciso rever causas, efeitos e eventos antecedentes e efeitos. Entre esses eventos, escritores sobre a relação entre colônia e império destacam a Revolução do Porto, que completou 200 anos em 24 de agosto. A revolta liberal provocou a queda do absolutismo em Portugal e provocou diferentes ecos nos principais personagens históricos da regência portuguesa no Brasil.

Para o pesquisador Paulo Rezzutti, que escreveu biografias de personagens complexos como dom Pedro e Maria Leopoldina, é necessário quebrar estereótipos sobre as figuras poderosas do Brasil e de Portugal na época.

Para Rezzutti a chegada dos lusos vai provocar impactos econômicos para o Brasil, que era antes uma espécie de “propriedade privada de Portugal" e virou a sede do império, enquanto a metrópole se afundava entre guerras. Os conflitos em Portugal somente diminuíram quando os ingleses conseguem expulsar os franceses do seu território. Assim, os recursos financeiros passam a abastecer mais o reino britânico, e os portugueses começam a sentir os mesmos efeitos da colônia.

Enquanto dom João decretava abertura dos portos do Brasil às nações amigas (entende-se, particularmente, a Inglaterra), do outro lado do oceano a história é de sufoco, com menos dinheiro circulando com a burguesia, uma reviravolta que a elite portuguesa não imaginava.

“O que é essa revolta do Porto? Esses comerciantes se revoltam porque Portugal está à míngua. Pouco dinheiro circulando. Caem impostos. Como o Brasil abriu os portos para Inglaterra, a elite comercial não atravessa mais as negociações com a colônia”, avalia o biógrafo.

O impacto também chegou aos tribunais de Lisboa e demais instituições que antes lidavam, na metrópole, com as burocracias da colônia. Afinal, o aparato jurídico havia mudado de terra na sede. “Eles sentem na pele o que o Brasil passou por 300 anos”.

A Revolução do Porto espalha-se por Portugal inteiro e acaba, na prática, com o regime absolutista. Ao serem criadas as cortes constitucionais, o rei perde o poder. A elite portuguesa no Brasil, que passava a experimentar uma liberdade diferente nos últimos 12 anos da chegada da família real, sente a mudança dos ventos.

200 anos de Revolução do Porto

Para o professor José Manuel Lopes Cordeiro, da Universidade do Minho, e pesquisador do período, a Revolta do Porto pode ser caracterizada como um “pronunciamento militar”, e não como uma revolução popular.

“Os militares saem do quartel e são lidas as proclamações para o novo regime. Raízes do sistema constitucional que vivemos em Portugal datam desse período”, disse à Agência Brasil em chamada de vídeo.

O assunto foi minuciosamente investigado pelo escritor portuense em obra lançada no mês passado em mais de 500 páginas. O livro “1820: Revolução Liberal do Porto” foi escrito durante 15 meses com buscas a documentos inéditos sobre o episódio. “Procuramos dar uma visão abrangente do que aconteceu naquele ano, porque o pós 24 de agosto (de 1820) foi desprezado ou nem sequer abordado pela historiografia”.

Uma das descobertas trazidas à luz da história por José Manuel foi o “Livro de Vereações” (Livro de atas), que contém a posse da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino. “Ou seja, a fundação do regime liberal do país aconteceu na Câmara do Porto, em 24 de agosto de 1820. Sempre me surpreendeu porque é que esse livro de atas nunca foi mostrado e nem sequer é referido pelos historiadores”.

Por causa da passagem dos 200 anos do evento, o assunto tem atraído mais atenção da sociedade portuguesa. O pesquisador é o comissário responsável pela exposição sobre o tema no Museu Casa do Infante na cidade do Porto. A mostra começou em fevereiro, foi interrompida por três meses devido à Covid-19, e está em cartaz até janeiro de 2021. Para o historiador, o furor absolutista está marcado para sempre no próprio livro de ata. Em reação contra os liberais naquele país, o livro de vereações foi rasurado com tinta corrosiva em uma tentativa de apagar os registros em uma reviravolta de lideranças absolutistas.

Ao mesmo tempo em que ocorrem as transformações liberais em Portugal, José Manuel Cordeiro considera que a sociedade brasileira encontra-se em uma “efervescência” cultural, política e ideológica", além de já possuir uma infraestrutura de Estado. Os revoltosos na Europa reivindicam que dom João retorne à metrópole. Em fevereiro de 1821, uma manifestação no Rio de Janeiro exige que o rei jure obediência à Constituição.

Os acontecimentos de 26 de fevereiro de 1821 traduzem o momento. Não se sabia qual seria a reação de dom João VI. Foi a contragosto, segundo os historiadores, que o rei volta para Portugal intimado pela elite do seu país. Inclusive, ele chegou a anunciar que mandaria o filho Pedro para “ouvir as queixas” e tranquilizar os revoltosos. Nada feito. Quem retornou a Portugal foi o próprio dom João VI.

Antes de zarpar, ele orientou o filho sobre a instabilidade entre coroa e colônia. Ao chegar a Portugal, João descobriu, da pior forma, que não é mais ele quem dava as cartas: precisava de autorizações para descer do navio e tomar decisões.

Na opinião da professora Teresa Marques, da Universidade de Brasília, a Revolta do Porto é um movimento que mostra o ressentimento e o mal-estar da elite portuguesa.

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Independência: histórias de antes e depois do grito
Os papéis de Dom Pedro I e Leopoldina na Independência do Brasil

(Fonte: Agência Brasil)

O Brasil no século XIX poderia ser roteiro de uma série de época com ingredientes típicos de ficção. Cenas de aventura nos mares e na terra, ameaças de invasão e violência, medo, fuga, tiros, pedras, disputas pelo poder, relações de família, personagens controversos, cenas à beira do rio, homens em cavalaria, enlaces entre povos, novos ajustes e um grito de vida ou morte para chamar outras temporadas.

O enredo só parece de ficção. Pesquisadores em história do Brasil e de Portugal constroem diferentes olhares ao contexto da Independência do Brasil, que instiga o público há praticamente dois séculos.

Desde o ensino fundamental, aprende-se que essa "série" não está relacionada unicamente à celebração do 7 de Setembro, motivo de feriado nacional. Para compreender esse marco histórico, garantem os especialistas, é preciso rever causas, eventos antecedentes e efeitos. Enfim, “maratonar” os eventos que precedem e sucedem a alegoria do grito do Ipiranga, registrada pelo pintor Pedro Américo décadas depois de 1820.

São tantas reviravoltas que renderiam episódios agitadíssimos e à moda antiga: sem telefonemas ou mensagens instantâneas para organizar os atos entre pessoas que estão distantes. As ordens e os documentos do Brasil Colônia atravessam os caminhos entre metrópole e colônia por cartas depois de meses de navio pelo Oceano Atlântico e ao sabor do vento já que o barco a vapor ainda era um experimento incapaz de enfrentar os mares.

O tempo é um tempero a mais nesta história: a distância entre os países criava ruídos e diminuía o peso de decisões, decretos feitos entre as cortes no Brasil e em Portugal. Todos falavam português, mas a demora com que as informações atravessavam os mares, em geral, de dois a três meses, retirava as informações de contexto.

O pertencimento à Independência

Para os especialistas entrevistados, os episódios desta série da vida real, estão todos associados uns aos outros, enlaçados em seus significados. Inclusive, aos sentimentos de brasilidade do público. “Quando pensamos ter a necessidade de tratar do que aconteceu com o Brasil há 200 anos, é porque encontramos algum laço entre o presente e o passado. Esse vínculo se estabelece como forma de comemorar e de lembrar. A razão para contar essa história é para criar vínculos de pertencimento”, afirma o historiador Deusdedith Rocha Junior.

Os referenciais desse “pertencimento”, conforme explica Deusdedith, devem levar em conta que o que vai ser lembrado nesse roteiro é fruto de uma “disputa”. O conflito permanente está na raiz de todo o processo. A disputa entre os poderosos da época tem diferentes marcos, como a fuga da família real portuguesa nos dias finais de novembro de 1807, para a colônia Brasil, aonde chegaria somente em 22 de janeiro de 1808. Dom João VI, o príncipe-regente português, não viu outra saída, depois que o país foi ameaçado de invasão pelas tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte, já que Portugal não havia aderido ao bloqueio continental contra a Inglaterra.

Dom João resolveu apostar em uma aventura e embarcou a família inteira, incluindo a mãe Maria, a esposa, Carlota Joaquina, os filhos, Pedro e Miguel, e outros integrantes da corte em navios e rumaram para o país desconhecido. Ao saber que os poderosos fugiam, a população teria atacado os navios reais inclusive com pedras. Para os pesquisadores, os caminhos da independência brasileira começam a tomar forma nesse episódio inusitado.

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(Fonte: Agência Brasil)

1

– É ainda possível escrever algo inédito?
– Quem é o autor da frase que está na Bandeira do Brasil?
– 5 de setembro de 2020: 163 anos de falecimento de Auguste Comte

**

– A APROPRIAÇÃO DE TEIXEIRA MENDES
– A INSPIRAÇÃO EM AUGUSTE COMTE
– E A “MEDITAÇÃO” DE GONÇALVES DIAS
– Gonçalves Dias escreveu “ordem e progresso” seis anos antes do francês Auguste Comte.

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Quem é o autor da frase que está na Bandeira Nacional do Brasil?

Dois nomes logo são lembrados na resposta: o primeiro é o de Raimundo Teixeira Mendes, escritor, filósofo, maranhense de Caxias, que, em novembro de 1889, repassou, para os governantes da época, o modelo da Bandeira brasileira, prontamente adotado e elogiado (claro, registraram-se algumas insatisfações).

O segundo nome vinculado ao lema “Ordem e Progresso” é o do francês Auguste Comte, escritor e filósofo, que queria uma “religião da Humanidade”, criou o Positivismo – filosófico-religioso ou religioso-filosófico – e, em seus textos sobre a causa, cunhou a frase: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”. Em francês: “L'Amour pour principe, et l'Ordre pour base; le Progrès pour but”.

É patente que o caxiense Teixeira Mendes, à época morando no Rio de Janeiro (RJ), inspirou-se na frase do francês Comte quando pensou no dístico que integraria a Bandeira brasileira, que ele, Teixeira Mendes, criou – e que substituiu a “cópia servil” da bandeira americana então adotada (por quatro dias) como bandeira da novel República sul-americana, em 1889.

Alguns creditam a frase como constante no livro “Testament d'Auguste Comte”, 570 páginas, de novembro de 1896.

Fui pesquisar. Fui ver. Realmente, está ali, na página 90 do “Testament”. A frase francesa distribui-se pela oitava e nona linhas da página e inicia o segundo parágrafo (ou o primeiro, já que as sete linhas anteriores são continuação de parágrafo da página 89).

O “Testament” tem, na verdade, nome mais longo; intitula-se: “TESTAMENT D'AUGUSTE COMTE AVEC LES DOCUMENTS QUI S'Y RAPPORTENT PIÈCES JUSTIFICATIVES PRIÈRES QUOTIDIENNES, CONFESSIONS ANNUELLES, CORRESPONDANCE AVEC Mme. DE VAUX PUBLIÉ PAR SES EXÉCUTEURS TESTAMENTAIRES, CONFORMÉMENT À SES DERNIÈRES VOLONTÉS”.

Como diz o título, foi publicado de acordo com as “últimas vontades” de Comte. Mas o ano de 1896 refere-se à segunda edição. A primeira é de 12 anos antes, 1884. A obra foi publicada por um “fundo tipográfico” da “execução testamentária de Auguste Comte” (“Fonds typographique de l'exécution testamentaire d'Auguste Comte”).

Fui adiante nas pesquisas. A citação constante da edição de novembro de 1896 do “Testament” não caberia, pois a proclamação da república no Brasil dera-se sete anos antes, em 1889 (coincidentemente, em novembro também). Portanto, repita-se, foi neste ano, 1889, que o caxiense Teixeira Mendes apresentou o desenho do nosso pavilhão. Mas como a primeira edição do “Testament” comtiano é de 1884, cinco anos antes da proclamação da república brasileira, a fonte poderia ser essa.

Como disse, fui adiante. Fui ao “site” do prestigioso jornal francês “Le Monde”, um dos mais importantes e mais respeitados do mundo, publicado há 76 anos, desde 19 de dezembro de 1944. Pois bem: no “site” encontro a frase de Comte e o crédito de que ela vem do livro “Système de Politique Positive”, daquele autor. O próprio “site” registra a data de publicação do livro: 1852.

Se forem considerados apenas esses registros, poder-se-ia reivindicar que o caxiense Antônio Gonçalves Dias escreveu a expressão “ordem e progresso” seis anos antes de aparecer, em 1852, a obra “Sistema de Política Positiva”, do francês Auguste Comte.

Com efeito, no dia 8 de maio de 1846, na sua obra “Meditação”, Gonçalves Dias escreveu:

“E não pelejais por amor do progresso, como vangloriosamente ostentais.

“Porque a ORDEM E PROGRESSO são inseparáveis: – e o que realizar uma obterá a outra”. (Destaque meu).

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Portanto, façamos a cronologia:

– 1846, 8 de maio: Gonçalves Dias escreve “ordem e progresso” em seu livro “Meditação” (43 anos antes da proclamação da república no Brasil). A frase é: “Porque a ORDEM E PROGRESSO são inseparáveis: – e o que realizar uma obterá a outra”;

– 1852: publicação do livro “Système de Politique Positive”, de Auguste Comte, onde originalmente está a frase inspiradora do lema “Ordem e Progresso”, constante na Bandeira do Brasil. A frase comtiana, seis anos após a de Gonçalves Dias, é: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim";

– 1884: primeira edição do “Testament” do francês Auguste Comte;

– 1889, 15 de novembro: Proclamação da República no Brasil;

– 1889, 19 de novembro (depois oficializado como o Dia da Bandeira brasileira): o caxiense Teixeira Mendes apresenta o desenho da Bandeira brasileira por ele idealizada. Sua sugestão foi imediatamente adotada e não foi demovida por insatisfações de alguns políticos e outros movimentos;

– 1892, novembro: segunda edição do “Testament” de Auguste Comte.

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No último 5 de setembro de 2020, completou-se 163 anos da morte do escritor e filósofo francês Auguste Comte, ocorrida em Paris em 5 de setembro de 1857. O nome completo do talentoso francês era Isidore Auguste Marie François Xavier Comte, e ele nasceu em Montpellier, em 19 de janeiro de 1798. Assim, neste ano de 2020, são 222 anos de nascimento do criador do Positivismo.

Este é um texto aligeirado sobre “anterioridades” relacionadas ao lema “Ordem e Progresso”, que foi apropriado pelo caxiense Raimundo Teixeira Mendes de texto (e ideias) de autoria de um filósofo de que ele era seguidor, Auguste Comte.

Claro que há distinções, diferenciações na textualização de “Ordem e Progresso”: Gonçalves Dias escrevia um romance; Auguste Comte defendia uma causa, queria instituir uma nova religião, por ele considerada a “religião da humanidade”, o Positivismo.

Assim, a palavra “ordem” e a palavra “progresso”, isoladamente ou em conjunto, permeiam os livros, os textos do autor francês, inclusive mesmo antes de sua obra de 1852, considerada a obra-fonte da frase que inspirou o caxiense, maranhense e brasileiro Teixeira Mendes na elaboração da Bandeira de seu país.

Gonçalves Dias dominava o francês, conhecia Paris. Poderia ter tido acesso à obra comtiana? Sim, poderia. Por sua vez, Teixeira Mendes – que conhecia Comte, que conhecia a França e sabia francês – TAMBÉM conhecia seu conterrâneo, o igualmente caxiense, o talqualmente maranhense e patrioticamente brasileiro Gonçalves Dias.

Não tenho dúvidas de que Teixeira Mendes verdadeiramente bebeu na frase de Auguste Comte.

Também não tenho dúvidas de que, consideradas as datas das obras do francês Comte (“Sistema de Política Positiva”) e do caxiense Gonçalves Dias (“Meditação”), este, no mínimo, tem uma certa anterioridade na construção frasal, acrescida de complemento explicativo.

Evidentemente, ninguém tem domínio de tudo o que se escreve e já se escreveu em nosso planeta, nos diversos idiomas, existentes e já extintos. Registros estatísticos nos informam que surge 1 livro novo a cada 30 segundos. Que em UM ANO são UM MILHÃO (1.000.000) de livros, os quais precisariam de 20 quilômetros de estantes para acomodá-los. Tristemente se registra que, para cada livro que um ser humano lesse em 1 dia, ele teria de não ler outros QUATRO MIL livros (4.000).

Desse modo, é quase impossível não haver construções frasais iguais ou assemelhadas nos livros e literaturas deste mundo. Como já escrevi, nós humanos temos de ser ilimitados em nossos limites: temos, em caracteres latinos, apenas 26 letras para escrevermos todos os poemas de amor – e mesmo as declarações de guerra;...

... temos apenas 10 algarismos para com ele calcularmos todas as distâncias astronômicas e medirmos as variadas dimensões microscópicas;

... temos apenas 7 notas musicais, para com elas elaborarmos a sinfonia mais enlevadora e a música brega mais rasgada...

Enfim, somos incontidos em nossas contenções. Somos superposições.

Somos humanos – buscando uma ORDEM no caos ético e o PROGRESSO ante desigualdades sociais.

Somos humanos.

* EDMILSON SANCHES

Ilustrações:
Retratos do francês Auguste Comte e dos caxienses Teixeira Mendes e Gonçalves Dias. Folha de rosto do "Testament d'Auguste Comte", edição de 1892, e registros do "site" do jornal francês "Le Monde".

As inscrições para a Rede Nacional de Certificadores (RNC), a fim de atuação em atividades de certificação dos procedimentos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, começam na próxima quarta-feira (9) e vão até o dia 29 deste mês. O cadastramento destina-se a servidores públicos federais e professores das redes públicas estaduais e municipais.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicou na última sexta-feira (4), no “Diário Oficial da União”, o Edital nº 64 de chamada pública. As inscrições podem ser feitas no seguinte endereço na “internet”: certificadores.inep.gov.br ou no aplicativo móvel, disponível nas principais lojas de aplicativos.

“Para realizar a inscrição, o candidato deverá atender aos requisitos descritos no edital, como: ser servidor público, efetivo e em exercício, do Executivo Federal ou ser docente, em exercício, das redes públicas de ensino estaduais e municipais e estar devidamente registrado no Censo Escolar 2019; ter formação mínima em ensino médio; não estar inscrito como participante no Enem 2020; não ter cônjuge, companheiro ou parentes de até 3º grau inscritos no Enem 2020; e possuir ‘smartphone’ ou ‘tablet’, com acesso próprio à ‘internet’ móvel”.

Entre as atribuições, os servidores vinculados à RNC deverão certificar “in loco”, sob demanda do Inep, a efetiva e correta realização dos procedimentos de aplicação nos dias de realização do exame; registrar, em sistema eletrônico, as informações coletadas com base em sua atuação; e informar ao instituto possíveis inconsistências identificadas. Segundo o Inep, o cadastramento prévio não garante a inscrição para atuação como certificador no Enem 2020.

Os convocados deverão participar de uma capacitação a distância promovida pelo Inep para divulgação de normas, procedimentos e critérios técnicos da RNC. Eles só serão considerados aptos somente após a participação e a aprovação nas atividades desenvolvidas no curso de capacitação, com no mínimo 70% de aproveitamento.

A atividade desenvolvida pelo certificador terá o valor de R$ 342 por dia. A remuneração se enquadra em atividade prevista no anexo do Decreto nº 6.092, de 2007 (elaboração de estudos, análises estatísticas ou relatórios científicos de avaliação), equiparando-se ao valor da hora do servidor público do Poder Executivo Federal, de R$ 28,50.

De acordo com o cronograma previsto no edital, o resultado da chamada pública e o endereço eletrônico com a relação da homologação das inscrições e dos colaboradores convocados para realizar o curso de capacitação serão divulgados no “Diário Oficial da União”, no dia 14 de outubro.

O documento estabelece, ainda, que os certificadores selecionados deverão, obrigatoriamente, nos dias de atuação, portar álcool em gel e usar máscaras para proteção contra a covid-19. As máscaras poderão ser artesanais ou industriais e deverão ser utilizadas ao longo da aplicação e trocadas quando ficarem úmidas ou a cada quatro horas. Será proibida a entrada do certificador no local de aplicação sem a máscara de proteção facial. O Enem impresso está marcado para os dias 17 e 24 de janeiro de 2021.

(Fonte: Agência Brasil)