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Do Bairro Alto Fernando Pessoa tantas vezes saía do “Cortiço da Ritinha”, em rumo de “A Brasileira”, ali pertinho, no Chiado, separado apenas pela estátua de Camões, o maior dos lusíadas, para com os amigos Mário de Sá-Carneiro e José Almada Negreiros, vivificarem a alma com aquele café da manhã, acompanhado da prosa do velho Adriano, proprietário da cafeteria.

Fora ali também, no Bairro Alto, na clássica “Severa”, requintada e querida “Casa de fado”, onde nascera “murmúrios cantados / dentre estreitas mesas / à luz de guitarras portuguesas [...] Cantigas das promessas / de um amor perdido / entre as ruas de Lisboa...” Solfas divagadas pelo poeta Daniel Blume neste seu livro “Delações”, cujo enfeixe, dizem os editores da “Helvetia”, serem “versos calibrados, curtos e contundentes, que não apenas delata, mas surpreende, a cada página, quando nos faz naturalmente refletir, sorrir, viajar e trançar com a poesia”.

Se não soubesse tratar-se de um livro de poemas do mais fino apuro semântico e da mais bem trabalhada ourivesaria poética, que me chegou oferecido com uma letra de bem-criado calígrafo, pensaria, de logo, tratar-se de algum volume contendo aquele mecanismo judicial, pelo qual um acusado colabora com as investigações, revelando detalhes de crimes ou minúcias que ajudam a recuperar o que a Justiça procura. Felizmente, as “Delações” aqui contidas não são do advogado, mas do poeta, e são outras, bem outras, a conter alimentos do espírito dimanados dos parreirais dos anjos.

A folhear “Delações”, encontrei expandidos, por muitas páginas, poemas sobre coisas e costumes portugueses, o que me levou ater-me a este ângulo poético de Blume, já que lá ele concluiu, na Universidade Autônoma de Lisboa, estudos acadêmicos relativos à sua formação, o que justifica a naturalidade de seu apego e de seu direcionamento àquela vivência, o que tocou, profundamente, o meu lado ibérico provindo da velha Talábriga lusitana, sob o timbre de minha dupla nacionalidade que se aviva todas as vezes que atravesso as pesadas e distantes águas que nos separam, mesmo sob as bênçãos de outra ode marítima, ressonantes das cantigas de Portugal e das toadas do Maranhão...

Antes, comentei dois dos livros do poeta Daniel Blume: “Penal” e “Resposta ao terno”. Sobre o primeiro, disse que “de cujo labor jurídico remanejou, para seu intimismo poético, as nuances práticas e imagísticas, a nos revelar, como se num tríptico, a misteriosa ciência plena e pânica do Conde de Beccaria”. E sobre o segundo, dizia que “os poemas deste livro são curtos, como se fossem haicais, mas extensos pelo foco semântico que irradiam, a guardarem, em seus núcleos, uma força explosiva muito forte...”

Poderia reacender tais anotações agora, já que a forma poética do haicai, cuja estrutura poemática é feita por versos de cinco e sete sílabas em estrofes diminutas, curtas e breves, continuam aqui nestas “Delações”, com aquela mesma força que impulsionava o paranaense Paulo Leminski, um mestre entre nós nessa arte, a dizer ainda que “as ideias que exaltam uma tendência atual ou uma atitude emocional chegassem mais longe... e outras seriam destorcidas a fim de se adaptarem ao que já é aceito”, a repetir “Notas para uma definição de Cultura”, como escrevera T.S. Eliot, o genial autor de “Terra Desolada”, imbicado no chão londrino para testemunhar, nestas anotações, as chalaças ibéricas do poeta Daniel Blume...

Vejamos o poeta neste haicai “Portuguesa”, a cantar o famosíssimo pastelzinho mundialmente conhecido: “Ao nosso fado, / pedra salgada / depois do pastel / com a nata de Belém, / antes do Porto de seus lábios”.

Ou ainda numa fugida a “Évora”, a culta e medieval capital do Alentejo: “Fria noite entre muros, / onde a capela de ossos grita / a efeméride da carne quente”.

Ou quem sabe, mais adiante, em “Belmonte”, uma pitoresca vila portuguesa do Distrito de Castelo Branco, na Província da Beira Baixa: “Um templo lento / divaga na aldeia / do vale sem pressa / das trutas d’águas nevadas / dos abrigos rochosos, / com o vinho branco dos chãos de Cabral”.

E “Sob a ponte”, o poeta canta: “O Tejo risca negro à esquerda / na maré incandescente / dos sons da ribeira”. Se em vez do Tejo fosse o Douro, diria que Daniel teria se amesendado à Ribeira do Porto, a “comer uma francesa” [sanduíche com queijo e ovo] e a degustar um fino “Dão”, colhido dos vinhedos estendidos em arroios pertinho desse cenário...

De aqui, ele vai ao “Algarve”, no extremo sul de Portugal, entre Lagos e Faro, onde se estende uma pintura de praias, cheias de casas caiadas em despenhadeiros baixos, a revelar todo o azul da Península Ibérica. Ouçamo-lo: “Quando extensos dias / comprimem exíguas noites, / a Lua espelha águas mediterrâneas / na Rua da Bateria, / quando o Sol grita / pelo mar das falésias / da praia de São Rafael, / é verão em Portugal”.

E volta, e vê-se “insone” em Lisboa, em cuja “Revelação”, pleno no Terreiro dos Paços, nos diz: “No Sol das vinte horas, / as marolas do Tejo / tem o dom de ler almas / na Praça do Comércio, / através do arco da Rua Augusta”.

E no veio de tudo oculta-se um poema, de onde dele se retira o pão e o vinho para a sagrada comunhão da vida; e quase sempre, o subjetivismo da dor que nos faz sofrer, o mais que suficiente para que o poeta trabalhe a palavra e esprema o verbo. E é neste “Oculto” que Blume nos diz: “Há um poema que nunca se deu. / Um poema intocado quase impossível. / Há um poema que jamais escrevi. / Um poema sem página como pintura sem tela. /Talvez haja um rosto / na nuvem do poema oculto”.

E em “Distância”, o poeta nos brinda com mais este haicai: “Com taças de ilusão / brindemos a um amor mirífico”.

Eis aí o poeta Daniel Blume a aportar os umbrais do nosso Panteão com mais estas “Delações”, seu quarto livro de poemas, a nos trazer uma poesia de corte moderno e participativa, a nos cantar tudo que sabe, sem, no entanto, nos mostrar quem é, como na magia deste poema, no qual, como um prestidigitador, retira uma “Carta na manga” para nos dizer por fim: “Sabem tudo o que revelei / não tudo o que sou”.

Um poeta, com certeza, digo eu sem titubear!

* Fernando Braga, in "Conversas Vadias", antologia de textos do autor.

Biblioteca do Trinity College, em Dublin, Irlanda.

(Inauguração da Biblioteca Nacional, em 29/10/1810, no Rio de Janeiro)

VOCÊ QUE LÊ LIVROS, JÁ HAVIA LIDO ESTAS PALAVRAS SOBRE ELES?
QUAL A QUE LHE PARECEU MAIS ESTRANHA OU MAIS LHE CHAMOU A ATENÇÃO?

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“BIBLIOTERMOS”
(alguns termos relacionados ao livro)

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ARISTOBIBLIOFILIA – sentimento de amor aos livros de luxo.

BIBLIOCIMELIOFILIA – sentimento de amor aos livros raros.

BIBLIOCIRURGIA – técnica que salva do deterioramento a parte ainda sã do livro.

BIBLIOCLEPTOMANIA – subtração de livros, por furto, roubo ou não restituição.

BIBLIOFILIA – atribuição de valor ao livro, pela mensagem, pelo material, pela importância histórica.

BIBLIOFOBIA – indevida incompreensão do valor dos livros.

BIBLIOFOTOGRAFIA – técnica da reprodução fotográfica de livros, preservando-o em seu feiçoamento original.

BIBLIOGNOSIA – conhecimento dos livros.

BIBLIOGRAFIA – disciplina que agrupa os livros segundo critérios sistemáticos vários.

BIBLIO-HISTORIOGRAFIA – história do livro.

BIBLIOLATRIA – adoração ao livro, sem excluir seu uso, gozo e proveito.

BIBLIOLOGIA – examina o livro do ponto de vista de sua sistematização.

BIBLIOMANIA – preocupação obsessiva com os livros e a vontade de possuí-los.

BIBLIOMÁTICA – aplicação de processos informatizados na produção e difusão dos livros.

BIBLIOMETRIA – aplicação da análise estatística à bibliografia geral (MACROBIBLIOGRAFIA) e específica (MICROBIBLIOGRAFIA).

BIBLIOPATOLOGIA – disciplina aplicada (química / física / parasitologia) que estuda o deperecimento (desaparecimento gradativo) material do livro sob a influência do meio, do tempo, de ações parasitárias.

BIBLIOPROFILAXIA – técnica de proteção do livro contra as influências/ações de deterioração.

BIBLIOSOFIA – conjunto dos saberes relacionados ao livro.

BIBLIOTAFIA – amor exagerado aos próprios livros (lidos ou apenas possuídos), a ponto de ocultá-los ou torná-los inacessíveis para outrem.

BIBLIOTECNIA ou BIBLIOTÉCNICA – corpo de técnicas relacionadas à produção do livro, do ponto de vista de seus elementos materiais.

BIBLIOTECNOGRAFIA – exposição sistemática dos princípios e normas de bibliotecnologia.

BIBLIOTECNOLOGIA – sistematiza o corpo de técnicas da bibliotecnia.

BIBLIOTECOCIRURGIA – técnica que salva do deterioramento progressivo coleções e bibliotecas.

BIBLIOTECOGRAFIA – cuida da disposição sistemática das coleções de livros.

BIBLIOTECOLOGIA – disciplina dos livros como coleções agrupadas.

BIBLIOTECONOMIA – armazenagem, acesso e circulação dos livros.

BIBLIOTECOPATOLOGIA – disciplina aplicada (arquitetura / administração) que estuda o deperecimento e a deterioração das coleções e bibliotecas.

BIBLIOTECOPROFILAXIA – técnica de proteção às coleções e bibliotecas.

BIBLIOTECOTECNIA ou BIBLIOTECOTÉCNICA – técnicas relacionadas à criação de bibliotecas.

BIBLIOTECOTECNOGRAFIA – exposição sistemática dos princípios da Bibliotecotecnologia.

BIBLIOTECOTECNOLOGIA – sistematiza técnicas / conhecimentos da Bibliotecotecnografia.

BIBLIOTECOTERAPIA – técnica de restaurar coleções e bibliotecas.

BIBLIOTERAPIA – técnica de recuperação/restauração de livros materialmente deteriorados.

ECDÓTICA – arte de descobrir e corrigir erros de um texto e, a partir daí, estabelecer uma edição o mais perfeita possível (“edição crítica” ou “edição exegética”).

EDITORAÇÃO – preparação técnica de originais de um livro para publicação, envolvendo revisão de forma e de conteúdo e, em outra fase, a organização para a edição impressa.

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Se já não bastassem essas "palavronas", que são próprias da Biblioteconomia / Bibliologia, criei algumas palavras relacionadas aos livros. Consultei o Google e o “Dicionário Houaiss” e não há menção aos termos nem a seus significados, com essa formação léxica / lexical:

BIBLIOSMIOFILIA – Gosto do cheiro de livros.

BIBLIOSMIÓFILO – Aquele que gosta do cheiro de livros.

NEOBIBLIOSMIOFILIA - Gosto do cheiro de livros novos.

NEOBIBLIOSMIÓFILO - Aquele que gosta do cheiro de livros novos.

As palavras são formadas a partir dos elementos de composição para “novo” (NÉOS-), “livro” (BIBLION), “cheiro” / “odor” (OSMÓS) e “amigo”, aquele que deseja, quer ou gosta (-PHILOS).

* EDMILSON SANCHES

O deputado federal Juscelino Filho (DEM-MA) enalteceu a criação da Frente Parlamentar Mista pelo Fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS). Ele foi um dos mais de 190 deputados e 20 senadores que apoiaram a criação do colegiado. Entre os objetivos, estão o de ampliar os recursos orçamentários e garantir a qualidade dos serviços prestados à população, sobretudo no período pós-pandemia.

“O nosso SUS tem reforçado, durante a luta contra a Covid-19, toda a sua importância para os brasileiros. Sem ele, teríamos milhares de mortes a mais pelo coronavírus. Por isso, é muito importante discutirmos formas de garantir mais verbas, aprimorar a gestão, ampliar e melhorar o atendimento. Apoiei a criação da Frente e participarei dos trabalhos, pois garantir uma saúde de qualidade para todos é prioridade”, afirma Juscelino Filho.

Criado pelos constituintes de 1988, o Sistema Único de Saúde proporciona a todo cidadão brasileiro acesso integral, universal e gratuito aos serviços. É considerado um dos maiores e melhores sistemas públicos do mundo. Segundo a Fiocruz, o SUS beneficia cerca de 180 milhões de brasileiros e realiza cerca de 2,8 bilhões de atendimentos por ano, desde procedimentos ambulatoriais simples a atendimentos de alta complexidade

“O SUS é atenção primária nos bairros, pré-natal, Samu, vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental, remédio de graça, tratamento contra o câncer, transplante de órgãos. É tanta coisa que, conforme apontam as pesquisas, muita gente nem imagina que usa o sistema público. Claro que existem gargalos, problemas, mas vamos atuar para resolvê-los, com modernização e mais recursos, para contemplar mais brasileiros”, diz Juscelino.

O texto de instalação da Frente Parlamentar destaca: “A bandeira do SUS precisa ganhar uma nova dimensão e muito maior espaço na agenda do Congresso Nacional e da sociedade para que seja fortalecido com impacto imediato nos Estados e municípios”. O grupo será presidido pelo deputado federal Márcio Jerry (PCdoB-MA) e terá como vice-presidente o senador Weverton Rocha (PDT-MA).

(Fonte: Assessoria de comunicação)

Empresas, sociedade civil, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançaram, nesta quarta-feira (28), uma iniciativa chamada Um Milhão de Oportunidades. O foco reúne adolescentes e jovens de 14 a 24 anos, em especial os que estão em situação de vulnerabilidade – como negros e pardos, indígenas, moradores de periferias urbanas e áreas rurais e pessoas com deficiência.

A meta, segundo os idealizadores, é criar, nos próximos dois anos, um milhão de oportunidades em quatro pilares: acesso à educação de qualidade; inclusão digital e conectividade; fomento ao empreendedorismo e protagonismo de adolescentes e jovens; e acesso ao mundo do trabalho em oportunidades de estágio, aprendiz e emprego formal.

Plataforma

Por meio de uma plataforma digital, a iniciativa pretende auxiliar adolescentes e jovens a buscar informações, por regiões, de qualidade sobre oportunidades e formação para o mundo do trabalho.

Todas as oportunidades poderão ser acessadas no “site” e no aplicativo, que terão um monitoramento sobre o preenchimento efetivo de cada oportunidade pelas empresas participantes por meio de um acordo de adesão.

“ Devemos cuidar, incentivar e apoiar o ensino de todos os jovens, principalmente os que se encontram em situação de vulnerabilidade, pois neles creditamos a esperança de um Brasil mais justo e igualitário. Temos que trabalhar para garantir mais oportunidades para todos”, disse Juliana Azevedo, executiva da P&G Brasil.

Adolescentes e jovens

Com uma população de 48 milhões de pessoas entre 10 e 24 anos, o Brasil tem hoje a maior geração de adolescentes e jovens de sua história, segundo o Unicef. Um dado preocupante é que um em cada quatro adolescentes e jovens não estuda, nem trabalha. O ensino médio é a etapa com maiores índices de evasão escolar. Em 2018, mais de 458 mil adolescentes deixaram a escola.

“Diante da pandemia da covid-19, esses números podem aumentar ainda mais. É essencial investir agora nos adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade, criando oportunidades para que se mantenham aprendendo e consigam ingressar no mundo de trabalho. Só assim será possível quebrar o ciclo de pobreza que afeta tantas famílias”, explicou Florence Bauer, representante do Unicef no Brasil.

Ainda na avaliação dos especialistas, a velocidade dos avanços tecnológicos pode aumentar ainda mais as desigualdades no Brasil, excluindo adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade e sem formação profissional.

“Um dos efeitos da crise é que o futuro do trabalho está chegando com uma rapidez maior do que antecipado. Isso oferece riscos e oportunidades para a inserção no mercado de trabalho formal de jovens que estão se formando e começando a trajetória profissional, em especial para aqueles em situação de vulnerabilidade. Como a procura das empresas por novas competências e qualificações vai crescer, é preciso preparar a juventude para esse cenário com ações inovadoras”, disse Martin Hahn, diretor do escritório da OIT no Brasil.

(Fonte: Agência Brasil)

A kitesurfista maranhense do Time Fribal, Socorro Reis, está pronta para mais um desafio. Neste fim de semana, a atleta estará em Santa Catarina, para a disputa do Floripa Foil Festival, competição que ocorrerá na Praia de Canajurê, a partir deste sábado (31). Considerada uma das principais kitesurfistas do país, a maranhense, que é patrocinada pela Fribal e pelo governo do Estado por meio da Lei de Incentivo ao Esporte, chega à capital catarinense com boas chances de conquistar mais um troféu para sua carreira.

Realizado pelo Jurerê Vela Clube, em parceria com a Confederação Brasileira de Vela (CBVela), a Federação Náutica Catarinense, a IQFoil Brasil e a Associação Brasileira de Kitesurf, o Floripa Foil Festival tem grande importância na preparação dos atletas para a disputa do Campeonato Brasileiro e da etapa do Campeonato Mundial (Hydrofoil Pro Tour), dois eventos que serão realizados, simultaneamente, a partir do dia 3 de novembro, em Itajaí (SC).

“O Floripa Foil Festival é um campeonato local, mas que vai reunir atletas do Brasil inteiro. Esse é um evento importante porque vai servir de treino para o Campeonato Brasileiro, que será realizado entre os dias 3 e 6 de novembro, em Itajaí (SC). E, junto com o Brasileiro, vai ocorrer uma etapa do Mundial (Hydrofoil Pro Tour), que contará com atletas do mundo todo”, explicou a maranhense do Time Fribal.

Vivendo grande fase na carreira, Socorro Reis é um dos nomes mais importantes da modalidade no país. No fim de agosto, ela brilhou na disputa da Fórmula Kite Ceará, competição realizada na Praia de Iracema. Na categoria feminina, a maranhense não deu chances às adversárias e ficou com o primeiro lugar. Já na classificação geral, que contabiliza resultados de homens e mulheres, a kitsurfista do Time Fribal terminou na terceira posição.

Vale destacar que a atleta do Maranhão é a atual tricampeã brasileira de hydrofoil e, na semana que vem, entrará no mar em busca do tetracampeonato. Além disso, Socorro Reis venceu o Campeonato Centro e Sul-Americano do ano passado e representou o Brasil nos Jogos Mundiais de Praia.

(Fonte: Assessoria de comunicação)

– O babaçu é o boi das matas. O boi é o babaçu dos pastos

“A ÁGUA DESTE LIVRO É BOA; É DA MELHOR. ENTRETANTO, PARA BEBÊ-LA, NÃO BASTA TER SEDE”.

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A Botânica até pode nos dizer que poesia não é árvore. Mas tem raiz. Tem origem. Filiação. “Pedigree”.

O melhor da interpretação, da declamação, da poesia e Cultura regional foi visto, ouvido e aplaudido em uma noite, há cerca de três anos, no Teatro Ferreira Gullar. Era Lília Diniz, atriz, poeta, artista, da Academia Imperatrizense de Letras, mulher que prende por sua Arte e empreende em toda parte.

Lília é a ponte entre a capital do país e seu interiorzão. Vive em Brasília e revive e convive em Imperatriz e região.

Além dos muitos conteúdos que traz, Lília traz Cora Coralina dentro de si. E a bota para fora, em poesia, canto e encanto – no espetáculo. “Cora Dentro de Mim”, que Lilia interpreta, declama, produz e o levou para diversos Estados brasileiros.

Em uma dessas apresentações, durante um daqueles lapsos de 15 segundos, Lília Diniz convidou-me – com carinho e dengo, do jeito que só ela sabe convidar – para fazer o texto de apresentação da nova edição de seu livro “Miolo de Pote”, cujo lançamento aconteceu naqueles dias e noites de bom gosto, Arte e Cultura.

Sobre Lilia, escrevi:

Varinha de marmelo, de condão,
faça essa mistura em um caldeirão:

um pouco daquela (e)terna menina
(o nome dela: Cora Coralina);

o canto de um pássaro de fé
– cante lá, Patativa do Assaré –;

mais Catulo da Paixão Cearense
(apesar do nome, é maranhense)

– dessa química ou mágica feliz,
distinto público: Lília Diniz!

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Reproduzo a apresentação que vai no livro.

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APRESENTAÇÃO

O babaçu é o boi das matas. Dele, sabe-se, nada se perde. Artesanato, alimento, combustível, medicamento. E mais: entre os muitos aproveitamentos e utilidades do babaçu também está a celulose, o papel. Vale dizer, assim, que de babaçu também se faz um livro. Este, por exemplo.

E se do boi – o babaçu dos pastos – o cantor nordestino Ednardo aproveitou até o berro, Lília Diniz empresta voz à mudez do fruto e movimento à imobilidade da palmeira. Voz e movimento, denúncia e sentimento pendem aqui em cachos de letras.

É com muita razão e sensibilidade que a escritora, “bicho do mato”, traz o babaçu para as primeiras páginas desta obra. Lília, cabocla, sabe das brenhas onde se embrenha, dos matos das matas que se desmata. É íntima das palmeiras e das conversas delas com o vento, quando farfalham e gargalham. Lília sabe da essência do babaçu, do âmago das amêndoas. É um gongo que fala – sobretudo, alerta.

O líquido batismal de Lília deve ter sido azeite, que lhe marcou a fronte e a vida – vida povoada de sonoridades, cheiros, sabores e histórias que vêm a partir dos palmeirais, dos cocos que se desprendem, das mãos que os (a)colhem.

Mas uma vida rica de vivências, sofrências, persistências, ardências, consciência e coerência até pode ter um batismo de babaçu... porém há outras plantas e plantações na selva da existência. Daí “MIOLO DE POTE DA CACIMBA DE BEBER” ir além das lembranças e essências da terra e das palmeiras. Lília sabe que há outros “elementos”, como dizem as xilogravuras que anunciam cada uma das quatro “partes” do livro: “Terra”, “Fogo”, “Água” e “Ar”, as quatro substâncias que sábios pré-socráticos diziam formar tudo e que, neste livro, compõem um quadrifólio poético – quatro pétalas, mesma flor.

Se “Terra” é “essência”, que identifica, e “estrume”, que fertiliza, “Fogo” é luz e calor, energia e amor, que ilumina desejos e paixões e incendeia corpos e corações: é a mulher ardente em brasa, “acesa” em casa, “com tanto desejo a queimar”... até que, ao final, “as verrugas do tempo” tragam um certo “enfado” e uma (in)certa esperança de rever o ser objeto de tanto sentimento, tanta chama e incandescência.

“Água” é a parte líquida e certa deste “miolo de pote”. Dela, dos últimos versos do poema “Alimento”, a autora tirou, com concha de comprido cabo, o título do livro. Neste segmento, a água soletra um “abc”, pois está presente, real e metaforicamente, na cheia dos açudes, no molhado dos beijos e no chocalho cuja água as faladeiras parece que tomaram. Águas e mais águas que lembram as lavadeiras, rios e ribanceiras, poços e pororocas, mares e amares – águas onde corpos são lavados, roupas enxaguadas, sonhos banhados e sentimentos, quarados.

Em “Ar”, quarta e última parte, Lília Diniz, com a autoridade natural de quem é dona e maior conhecedora de si mesma, traceja traços (auto)biográficos desde a nascença, pois que ela, deverbal, é sujeita derivada de “alicezear”, verbo formado pela união da cearense Alice com o carpinteiro Zé, dos quais é filha.

Sem necessidade de esclarecimentos sobre manhas e artimanhas, mumunhas e mungangos de exercícios poéticos, somos levados a, sem reparos, reparar no poema “Buchuda” a solução visual com que a autora tratou a disposição dos versos, uma mulher grávida. Este recurso formal, de ascendência concretista, foi inicialmente utilizado na parte primeira do livro, em “Tanta terra”, onde os conceitos intelectuais são visualizados nas palavras postas em cruz.

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O “miolo” deste livro não é do pote. É da poeta. Verdadeira e visceral como é, Lília, em linhas, sublinhas e entrelinhas, revela muito de amor e dor. Muito de dignidade e indignações. Muito de talento e Arte. Muito de sua Vida.

A água deste livro é boa; é da melhor.

Entretanto, para bebê-la, não basta ter sede.

* EDMILSON SANCHES

Fotos:
1 – O livro "Miolo de Pote", já em 5ª edição, em sua caixa-embalagem artesanal;
2 – O cartaz do espetáculo de Lília Diniz em Imperatriz;
3 e 4 – A artista Jô Santos Maria, Edmilson Sanches, a aniversariante Lília Diniz e o multi-instrumentista, produtor musical e ativista cultural Chiquinho França.

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Não posso negar: de todos os viventes que tiveram contato com meus livros, os cupins foram os que mais gostaram deles...

Gostaram tanto que os comeram.

Não queira ter uma experiência com esses bichinhos – você sempre sairá perdendo...

Não é sem razão que, quando foram dar a eles um nome, os índios tupis-guaranis buscaram uma palavra ou expressão de sua fala que lembrasse o resultado da ação daninha do inseto. Assim, esse serzinho foi chamado de “cupim”, pois o tupi-guarani “kupi’i” significa “aquilo que é roçado”. E, aqui, “roçar” tem nada a ver com dar uma esfregada de leve..., uma passada de mão boba..., uma fricçãozinha numa encoxada e coisa e tal.

Esse “roçado” tem a ver com o significado mais antigo do verbo “roçar”, que é “cortar”, “corroer”, “desgastar”, originado do sentido mais ancestral do termo: “limpar um campo de matos e ervas”, do latim vulgar “ruptiare”, com visível descendência do verbo (no passado) “ruptus”, por sua vez provindo do verbo “rumpere”, que significa “romper”.

Os latinos deram-lhe o nome de “térmitas” ou “térmites”, proveniente de “termes”, “termitis”, conexo com o grego “téredon” ou “téredonos” -- em todos os casos com o significado de “verme que rói a madeira”.

Só os termos e sentidos das palavras nos quatro idiomas (tupi-guarani, latim, grego e português) já provoca calafrios a quem tenha como vizinhos ou hóspedes esses mocinhos.

Como disse no início, tive uma devastadora experiência com essa turminha de insetos. Em uma das casas em que residi, depois que retornei de Brasília, havia – e só fui saber após desastre – as pequenas galerias ou microtúneis subterrâneos por onde transitavam e a partir de onde os cupins detectavam a presença de comida, na superfície. Ardilosos, astutos, manhosos, os cupins comem só até determinado ponto, deixando uma “parede” externa, que dá a ilusão (ao proprietário) de que está tudo bem... Na verdade, os cupins fazem isso por autopreservação: eles não resistem à luz solar.

Cupins podem passar anos e anos dentro da madeira de móveis e estruturas de imóveis. Eles me lembram os “sleepers”, pessoas que permanecem dentro de uma sociedade por anos para, no momento certo, atacarem.

Concorrentes das traças, cupins também gostam, e muito, de livros – na verdade, da celulose que neles há. Assim, onde tem celulose tem – ou pode vir a ter – chance de aparecer cupim.

Mas se engana quem acha que cupins só comem “coisas” de madeira e de celulose em geral. Praticamente omnívoros, eles roçam, capinam, fazem o pente-fino: madeira (assoalhos, esquadrias, forros, madeiramentos, móveis, parquetes e outros artefatos de madeira), gesso (que recebe reforço com fibras de celulose; gesso acartonado, “drywall”), livros e outros itens de celulose (papel, cartão, papelão...), os discos de vinil e o vinil de outros objetos, cereais (arroz, milho, feijão...) e até culturas agrícolas e florestas implantadas.

Os cupins fazem moradia, se precisar, em couro e em tecidos, concreto e alvenaria, fundações e “radier”, paredes e lajes, cabos de eletricidade e de telefone, alumínio, chumbo e plástico... E tudo isso, se não comerem, eles estragam, corroem, destroem... Passam o rodo em quase tudo.

Há registros de até ferro e aço serem pacientemente corroídos pelos cupins, se esses elementos estiverem interpondo-se entre aqueles insetos e a comida que eles detectaram.

São quase três mil espécies de cupins; no Brasil, estão perto de trezentas delas. Em uma colônia, são mais ou menos um milhão de cupins. São postos de dois mil a três mil ovos... por dia.

Indígenas da Amazônia comem cupins, assados ou cozidos e ainda os usam como condimento, pois teriam gosto de sal. Como os grupamentos humanos não índios não adotam esse saudável hábito, os bichinhos vão prosperando em nossas comunidades, urbanas, suburbanas e rurais. Além de fazerem o mal para nós, esses bichinhos ainda nos fazem inveja:

a) para começar, têm a propriedade da neotenia, isto é, ao se tornarem adultos, retêm suas características de jovens;

b) estão no topo da chamada eussocialidade, ou seja, o mais alto grau de organização social complexa dos animais, comparados às formigas e às abelhas; portanto, têm seu reino, são praticamente majestades...;

c) podem desenvolver a capacidade de voar (tanto que tem o termo “asa” em grego no nome científico: “isóptero”, do grego “iso-”, ‘igual, e “-ptero”, ‘asa’. Ou seja: que tem asas iguais);

d) e, só para finalizar, desde novinhos têm órgãos sexuais e reprodutores de adultos bem formados, prontos para “atuarem”...

Com algo de xenófobo, pelas redes sociais veem-se mensagens do tipo “C” de “coronavírus”, “C” de “covid”, “C” de “China”... Imagine se soubessem de onde vêm os cupins – da Ásia...

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Todo tempo é tempo de cupim. Se o os dias são de chuva ou se faz calor gostoso, ele diz: “Está pra mim”, pois todo tempo é tempo de cupim...

Nesta toada, se gostassem dos clássicos, os cupins adorariam Vivaldi e “As Quatro Estações”...

* EDMILSON SANCHES

A Academia Brasileira de Letras (ABL) lançou nesta segunda-feira (26), em seu portal, o projeto Novas Palavras, que oferece ao público curiosidades sobre palavras e termos da língua portuguesa, revelando seus significados, derivações e categorias gramaticais.

“O projeto consiste no aprofundamento do que vem sendo produzido pelo setor de lexicografia e lexicologia, o cuidado com as palavras, e na divulgação do trabalho”, disse à Agência Brasil o presidente da ABL, Marco Lucchesi. Segundo o professor, a academia tem um setor importante, dirigido pelo acadêmico Evanildo Bechara, que tem, entre suas atribuições, o arcabouço ortográfico da língua portuguesa, com base nas instruções de Bechara a um corpo seleto de filólogos.

Lucchesi informou que, agora, a ABL teve a ideia de dar maior visibilidade a essas novas palavras por meio de seu “site”, que se tornou, com a pandemia do novo coronavírus, “uma grande janela de sociabilidade e de comunicação, enquanto não se encontram meios de conter e mitigar a pandemia”.

Antena sensível

Palavras como “covid”, que não faziam parte do vocabulário do brasileiro antes da pandemia, estarão explicadas no projeto. De acordo com Lucchesi, o que se pretende é manter uma espécie de antena sensível, que capte alguma relevância específica, porque são palavras novas que, não necessariamente, foram criadas do nada e estavam ou pertenciam a alguma família, situação ou franja semântica.

“A academia vai trazer à tona um pouco da história dessas palavras e dar um determinado contorno e precisão para os meios de comunicação, as escolas que se interessem, sobre a melhor forma de se pronunciar aquela palavra e significação de que a palavra é portadora”, afirmou Lucchesi.

Ele disse que isso se aplica também a palavras que ganharam um novo sentido e lembrou que a vida das palavras é marcada por um sentimento de tempo, que é a diacronia, e um sentimento de permanência, que é a sincronia. “Mas, na verdade, tudo tem o seu movimento. Às vezes, pequenas diferenças que estão em franjas semânticas ou neologismos, a academia colocará um pouco essa história no site.

A instituição já tem o serviço ABL Responde, que tira dúvidas sobre expressões e questões ortográficas, de modo geral. No momento, a Comissão de Lexicografia e Lexicologia está elaborando o Dicionário Machado de Assis, que deverá ficar pronto em um ano. “A academia está empenhada em cuidar do que os seus estatutos dizem, que é o cultivo da língua e da literatura nacionais”, concluiu Lucchesi.

Acesso

O projeto poderá ser acessado por meio de um “link” próprio, que será definido e alimentado toda semana. Os termos escolhidos são palavras ou expressões que passaram a ter uso corrente na língua portuguesa.

Segundo a assessoria de imprensa da ABL, na página, será possível encontrar informações sobre a categoria gramatical da palavra, as palavras derivadas, definição, abonações, informações complementares e referências bibliográficas. O interessado poderá ainda pesquisar sobre as palavras anteriores disponibilizadas no portal.

(Fonte: Agência Brasil)

Eclipse parcial da Lua

O Observatório Estratosférico de Astronomia Infravermelha (Sofia, na sigla em inglês) da Nasa, a agência aeroespacial norte-americana, anunciou, nesta segunda-feira (26), a descoberta de água na superfície iluminada da Lua.

Moléculas de H²O foram achadas na cratera Clavius, localizada no hemisfério sul lunar, uma das maiores crateras visíveis do satélite natural. Observações anteriores já haviam mostrado a presença de hidrogênio no local, mas essa é a primeira vez que água é detectada na Lua.

A quantidade de água observada é o equivalente a 354,9 mililitros, um pouco mais da metade de uma garrafinha de água mineral. O líquido está contido em um metro cúbico de solo espalhado pela superfície lunar.

“Tínhamos indicação de possibilidade da presença de H²O no lado iluminado pelo Sol da Lua”, afirmou Paul Hertz, diretor da Divisão de Astrofísica da Nasa, durante o evento de divulgação da descoberta. “Agora, sabemos onde está. Essa descoberta desafia nossa compreensão da superfície lunar e levanta questões intrigantes sobre recursos na exploração do espaço profundo”, concluiu.

Recurso escasso

Apesar da importância da descoberta, a quantidade de água achada em solo lunar serve para confirmar novamente uma afirmação antiga da ciência: a água é um recurso extremamente escasso e raro na natureza. Segundo dados da Nasa, em comparação, o Deserto do Saara tem 100 vezes a quantidade de água detectada em solo lunar.

“A água é um recurso precioso, tanto para propósitos científicos quanto para os nossos exploradores”, disse Jacob Bleacher, chefe de Exploração Científica da Nasa. “Se pudermos usar o recurso na Lua, podemos levar menor quantidade [de água] e mais equipamento para ajudar em novas descobertas científicas”, salientou.

(Fonte: Agência Brasil)

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Na efervescência daquele decênio de luz [lê-se 1960], apareceu o movimento literário Academia Maranhense dos Novos (Amano), composta por Carlos Cunha, Fernando Sá Vale, Américo Azevedo Neto, José Maria Nascimento, Marconi Caldas, Murilo Sarney, Edson Vidigal e Fernando Braga....

Discutíamos nossos projetos editoriais para o futuro, declamávamos poemas nossos e dos outros, a trocar ideias sobre os últimos livros lidos ou ainda em leitura. A exemplo do Cenáculo Graça Aranha fundado pela juventude maranhense de 30, pelo Grupo Ilha e pelo Centro Cultural Gonçalves Dias, já submetidos a um estudo socioliterário pelo nosso ensaísta Rossini Corrêa, em seu fantástico livro “O Modernismo no Maranhão”, São Luís, UFMA, 1982. 108 p.

Nesse meio tempo, acontecia, em São Luís, a “Exposição Eleuteriana”, nome em homenagem ao mecenas português Eleutério da Silva Valério, fundador do Teatro União, depois São Luís e hoje Artur Azevedo. Essa exposição foi uma criação imortal do professor, poeta, historiador e grande animador cultural Carlos Cunha, um movimento sem precedentes na História Literária do Maranhão.

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A seguir... Artigo de José Chagas – “Vá à Exposição”, “Jornal do Dia”, 15/7/67.

Quero hoje pedir aos meus leitores que façam uma visita ao “hall” do Teatro Artur Azevedo, onde foi, anteontem, inaugurada uma exposição de arte e que, sem dúvida nenhuma, constitui um dos fatos mais importantes para nossa vida cultural. Começa por ser algo diferente de tudo quanto já se fez aqui no Maranhão nestes últimos anos. Qualquer coisa que vale a pena ver, não apenas por curiosidade, mas para sentir de perto a verdade clara de que uma nova mentalidade congraça todos os intelectuais da terra, para um movimento digno de situar-se no plano de nossas melhores tradições.

A exposição que já agora tomou o nome de “eleuteriana”, o que, no caso, significa conciliação, harmonia, uma homenagem ao fundador do Teatro União, que hoje se chama Teatro Artur Azevedo. O português Eleutério da Silva Varela é o homenageado. Evocando a figura quase nunca lembrada desse luso empreendedor, e, ao mesmo tempo, o velho nome do teatro que ele fundou, os nossos artistas procuram, assim, buscar, no passado, inspiração e estimulo para as suas manifestações atuais. E por isso, pondo de parte escolas e pontos de vista diferentes, deixando de lado as divergências improdutivas, uniram-se agora, naquele mesmo teatro, velhos e novos, passadistas e modernistas, acadêmicos e não acadêmicos, todos sob o empenho de corporificar o espírito de nossa gente, dando forma definida ao conjunto de nossas atividades tão dispersas antes.

Que ninguém deixe de visitar a exposição onde poetas de todas as escolas, pintores de correntes diversas, escultores em madeira e em gesso, estão ao alcance do povo, que tem, agora, feliz oportunidade de contemplar, de uma só vez, os nossos principais artistas e ter uma ideia bem aproximada do que se está fazendo em São Luis, dentro do setor cultural.

Lá, você terá poesias de Assis Garrido, de Fernando Viana, de Paulo Nascimento Moraes, de Bernardo Coelho de Almeida, de Nascimento Moraes Filho, de Arlete Nogueira da Cruz, de Antônio Almeida, de Nauro Machado, de Jomar Moraes, de José Maria Nascimento, de Carlos Cunha, o idealizador da exposição, de Bandeira Tribuzi, de Jamerson Lemos, de Fernando Braga, de Américo Azevedo Neto e muitos outros entre os quais também estou.

Lá, você verá as esculturas em gesso do garoto Santos Neto, uma revelação, e as esculturas em madeira do nosso já conhecido Luís Carlos Santos, que, desta vez, se apresenta com esplêndidos trabalhos.

Lá, você verá a pintura de Garcês, surpreendentemente evoluída, numa prova de que o moço reafirma o seu talento já demonstrado numa exposição outra realizada neste ano, e também verá a pintura de Virgínia Eftimie, artista romena, que se acha em São Luís, há mais de seis anos, e só agora encontrou ambiente para chegar ao conhecimento de todos nós. Ela está prestigiando, com seu talento, a exposição e é uma descoberta de Maia Ramos, que, desta vez, expõe trabalhos em raízes, diante dos quais você terá ensejo de deleitar-se com verdadeiros achados, autênticas maravilhas de formas a que a sensibilidade do artista soube tão bem dar vida. E, coroando a exposição, você encontrará o talento maior de Antônio Almeida, apresentando, ali, alguns desenhos cuja expressividade artística e verdade estético-formal revelam, mais uma vez, a consciência absoluta do pintor mais seguro que São Luís tem atualmente. Os desenhos são esboço de um painel que Almeida está pintando em um dos nossos bancos.

Todos esses artistas estão à sua espera. Vá. Não custa nada. O teatro está aberto para você até quinta-feira.

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Nesses apontamentos, o poeta Bandeira Tribuzi, em sua Coluna “Assim é, se lhe Parece!”, no “Jornal do Dia”, de 16 de julho de 1967, fala sobre os jovens talentos do Maranhão que expunham seus trabalhos na chamada “Exposição Eleuteriana”. Leia...

Note-se: não estou aqui comentando os artistas consagrados. Note-se: não estou, com isso, querendo dizer que os artistas consagrados não estejam bem representados. Penso, porém, que, quem já está consagrado menos precisa de encômios. E mesmo que iria eu aqui acrescentar a um José Chagas, um Nauro Machado, um Antônio Almeida?

Falo dos “novos” assim entendendo os que, há menos tempo, estão participando da vida intelectual e artística. Maia Ramos, por exemplo, que já se constituíra excelente surpresa na recente mostra coletiva, revelando um mundo de alegre cor em mistura sutil de inocência e malícia, volta agora e sobretudo com suas raízes-esculturas e consegue coisa de grande beleza e vigor.

Os escultores Luís Carlos e Santos Neto expõem trabalhos que merecem observação demorada, sobretudo o primeiro que está aprimorando rapidamente sua capacidade e já chegou a algumas formas bem modernas e puras. São aristas de inquestionável vocação, jovens ainda e com um extraordinário futuro.

Dois poetas, igualmente jovens, comparecem com boa poesia a revelar não apenas sensibilidade aguçada, mas até mesmo bom domínio do artesanato poético: Fernando Braga e Azevedo Neto.

Mas é, sobretudo para o exuberante talento de Antônio Garcez que desejo chamar a atenção. Participou ele, recentemente, da mostra coletiva de pintura e ali misturara, ao lado de exercícios bastante acadêmicos, experiências novas e pessoais que indicavam a abertura para o pintor, de um novo caminho. Chegou a ele já como se vê agora: perspicácia no uso da cor, coragem na modelação das formas, dando a seus trabalhos marcante plasticidade. É, sem dúvida, extraordinária vocação.

Estou certo de que todos estes nomes darão muito que falar no futuro.

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Ainda sobre a “Exposição Eleuteriana”, Paulo Nascimento Moraes, no “Jornal do Dia”, de 23 de julho de 1967, voltava ao assunto. Leia...

Carlos Cunha leva, para o “hall” do Artur Azevedo (fato inédito na vida artística da cidade), uma admirável exposição de arte que honra e dignifica as nossas tradições de cultura e inteligência. O demolidor do histórico milagre teve como pretensão: demolir, por alguns instantes, as igrejinhas e unir os intelectuais e crucificá-los em painéis e paredes da nossa tradicionalíssima casa de espetáculos. E a exposição que já conquistou o nome de eleuteriana, pois ela significa uma homenagem ao fundador do Teatro União, hoje Artur Azevedo, o português Eleutério da Silva Varela, motivo e causa da realização da referida amostra de arte. A exposição marcou um acontecimento importante na vida artística e social da cidade.

E é preciso agora que o povo e que a sociedade prestigie a Exposição com suas presenças, visitando-a, tonando conhecimento da presença dos intelectuais e dos artistas maranhenses que lá estão com seus quadros e com suas produções poéticas. Sim. Isto é preciso. Que o povo vá ao Teatro Artur Azevedo e, lá, encontrará as poesias de José Nascimento Moraes Filho, de Arlete Nogueira da Cruz, de Nauro Machado, de José Maria Nascimento, de Lauro Leite Filho, de Carlos Cunha, de Fernando Braga e de tantos outros. Lá, encontrarão os artistas do pincel, trabalhos admiráveis, todos numa exaltação do que há em nossa terra, da grandeza intelectual, como Antônio Almeida, Ambrósio Amorim, Newton Pavão e tantos... Um grupo de valores mentais no cultivo da inteligência. E, diante de todos, estão ainda Garcês, com uma nova técnica, com uma nova expressão de arte. E, depois, entrará em contato com este fabuloso Maia Ramos, o poeta dos Noturnos, das cores, apresentando outro aspecto de sua capacidade artística, de criar, de produzir belezas. Com Maia Ramos, agora, os seus trabalhos em raízes. Aí, fica mais a descoberto a sensibilidade do artista português. (...) E a exposição foi uma consagração da vida artística de nossa terra.

* Fernando Braga, in “Travessia” [“Memórias de um aprendiz de poeta e outras mentiras”], livro em construção.