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O Arquivo Nacional (AN) abre, nesta quarta-feira (8), o 9º Festival Internacional de Cinema de Arquivo – Arquivo em Cartaz. Realizado anualmente, o evento deste ano oferece atividades gratuitas presenciais no Rio de Janeiro e em Brasília, e também on-line, englobando exibição de filmes, debates e trocas de experiência sobre preservação, pesquisa e produção audiovisual com documentos de arquivo. A programação completa do festival, que vai até o dia 18, pode ser acessada aqui.

Segundo o curador do festival, Uilton de Oliveira, cineasta e servidor do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, que é o gestor do Arquivo Nacional, este é um dos poucos festivais que debatem a preservação e a utilização de documentos de arquivo em produções audiovisuais.

A programação é composta de oficinas, debates e exibição de filmes nas formas presencial e on-line.

Na parte presencial, serão mostrados filmes de longa-metragem que usam documentos de arquivo de instituições diversas, no país e no exterior. A Mostra Filmes ocorrerá na televisão, na programação da UnBTV, Canal Educativo e Canal Gov, sempre às 23h, e na plataforma de streaming, com produções que estão em instituições como as cinematecas Brasileira, Pernambucana e do Museu de Arte Moderna (MAM) e a Filmoteca Baiana, entre outras.

“O Arquivo Nacional vai participar com outras instituições. E os filmes que serão exibidos presencialmente são longas-metragens que circularam em festivais e mostras de cinema pelo mundo, com base em acervos de arquivos públicos ou privados. A base da Mostra Arquivo em Cartaz é essa: utilização de documentos de arquivo, sejam eles iconográficos, audiovisuais, pessoais, nos filmes”.

Diferencial

A ideia é valorizar a memória do cinema brasileiro e a importância da preservação dos acervos audiovisuais. Segundo Uilton de Oliveira, os filmes produzidos com esse tipo de material são fundamentais para a compreensão das condições políticas, históricas e sociais do passado e do presente, além de pertencerem à identidade do povo.

Para ele, o grande diferencial deste evento em relação a outros festivais é que o foco são peças de arquivo, como filmes e documentos, usados como fonte para realização das produções. Além da apresentação de filmes, o evento inclui oficinas de preservação e encontro de pesquisadores. “É um festival para públicos diversos, mas de pessoas envolvidas no universo do cinema, da preservação, da pesquisa. É um festival muito legal e uma oportunidade para que cineastas, pesquisadores e estudantes compartilhem experiências e conhecimentos sobre o tema do arquivo”.

Para participar dos debates e assistir aos filmes, não há necessidade de inscrição. “São abertos ao público. É só chegar”, disse o curador. Para as oficinas técnicas, as inscrições estão encerradas.

Prédio histórico

No Rio de Janeiro, os filmes serão exibidos nos jardins do prédio histórico do Arquivo Nacional, localizado na Praça da República, região central do município. A abertura será nesta quarta-feira (8), às 9h, seguida de mesa de debate sobre Política de digitalização: o que, por que e como digitalizar. Nas noites de 8 a 10 deste mês, o festival exibe os filmes da mostra Cine Pátio, com produções recentes do cinema brasileiro que utilizaram arquivos pessoais e públicos como fio condutor de suas narrativas.

O principal destaque da mostra será o documentário Retratos Fantasmas, do premiado diretor Kleber Mendonça Filho, escolhido para representar o Brasil no Oscar 2024 concorrendo na categoria de melhor filme estrangeiro. O longa, que será apresentado no dia 10, às 18h30 no Rio de Janeiro, conta a história da cidade de Recife a partir das salas de cinema e pontos de exibição que marcaram época na sociedade local. Outro documentário, Black Rio! Black Power!, dirigido por Emílio Domingos e premiado no último Festival do Rio, aborda a influência do movimento Black Rio na cultura, na sociedade e nos processos de luta por justiça racial no Rio de Janeiro e no Brasil entre as décadas de 1970 e 1980. O filme será exibido também no dia 8, no mesmo horário.

No Arquivo Nacional de Brasília, a programação presencial do festival inclui os filmes Não É A Primeira Vez que Lutamos pelo Nosso Amor, de Luiz Carlos de Alencar, no dia 9, às 14h, que mostra a luta da comunidade LGBTQIA+ por seus direitos, e O Caso do Homem Errado, de Camila de Moraes, no dia 10, às 10h, que conta a história de um homem negro preso por engano.

On-line

Quem não puder estar presente poderá acompanhar, a partir de amanhã, a exibição de filmes em plataforma de streaming e, pela primeira vez, na TV aberta. Serão exibidos filmes com conteúdo do Arquivo Nacional e de outras instituições públicas e privadas na Mostra Acervos.

Também no formato on-line, o festival promoverá o Encontro de Pesquisadores, no dia 10, às 14h. Este é um espaço já consagrado na programação do evento e dedicado ao debate dos profissionais do setor de arquivos. A edição deste ano contará também com pesquisadores de músicas e sons.

Para ampliar as ações educativas do festival, serão exibidos na Mostra Lanterninha Mágica, no dia 8, às 14h, três filmes de curta-metragem. Os curtas foram produzidos durante a segunda edição da oficina Lanterninha Mágica, que é focada no uso consciente dos equipamentos para gravação de vídeos e nas possibilidades da criação de roteiros. A oficina foi realizada com alunos dos colégios estaduais Souza Aguiar e Júlia Kubitschek, do Rio de Janeiro.

Acervos

O Arquivo Nacional tem um dos maiores acervos do Brasil. A instituição preserva documentos públicos e privados que representam a história e a cultura do país, entre os quais os papéis originais com a assinatura da Lei Áurea e imagens da construção de Brasília.

Já o conjunto de imagens em movimento da instituição ocupa 40 mil latas de película cinematográfica e 4 mil fitas videomagnéticas que são usadas para pesquisas e produções de filmes e documentários.

(Fonte: Agência Brasil)

Nas redes sociais, quem teve um trecho da própria obra transformado em questão do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 no último domingo (5) comentou a prova e até deu palpites de qual seria a resposta certa. Entre as publicações que se destacaram nas redes, estão a do músico Caetano Veloso, dos escritores Itamar Vieira Junior e Jarid Arraes e da liderança indígena Txai Suruí.

Foi Paula Lavigne, esposa de Caetano que gravou o músico analisando a prova. “Alô, turma! Eu perguntei a Caetano Veloso qual alternativa é a correta de uma questão que caiu no Enem 2023 e que usou trechos das músicas Alegria, Alegria e Anjos Tronchos!", disse no X. 

“Quando eu li, eu achei que são todas”, responde Caetano, acompanhado pelas risadas de Lavigne. Depois de analisar com mais cuidado, o músico conclui que a letra B e a letra D “são as mais apuradas”.

A questão traz trechos de duas canções de Caetano, Alegria, Alegria e Anjos Tronchos e pergunta o que essas letras, que são de momentos históricos diferentes, têm em comum. Para Caetano, elas têm a “percepção da profusão de informações gerada pela tecnologia” ou a “busca constante pela liberdade de expressão individual”.  

No Instagram, o escritor Itamar Vieira Junior também publicou o palpite para a questão que traz um trecho do livro Torto Arado. A publicação foi feita em conjunto com o perfil tortoaraders, comunidade na rede social dedicada ao escritor.

“E aí, Itamar Vieira Jr? Acertarias?”

O palpite deixado na publicação é a letra B, seguido de uma explicação:

“A narradora quer arar a terra e falar. O arado torto, troncho está metaforizando a linguagem que ela não dispõe e é sentida por ela como um arado velho que dilacera a terra, assim como a sua língua fora dilacerada, impedindo-a de ter voz”.  

A escritora Jarid Arraes também publicou a questão na qual aparece um trecho de Redemoinho em Dia Quente no Instagram.

“Eu e meu livro Redemoinho em Dia Quente no Enem! Em 2010, o Enem foi um dos caminhos que peguei para mudar minha vida. É incrível me encontrar no presente entre essas páginas. E com minha literatura. Que é nossa. Do nosso sertão, do nosso Cariri, do nosso Ceará, do nosso Brasil. Muito obrigada!”, diz.

Foram os seguidores que deixaram os palpites nos comentários. A resposta que parece provocar mais consenso é a letra A: “revelam as marcas da violência de raça e de gênero na construção da identidade”.

O Enem também contou com trechos de Paulo Freire, de Conceição Evaristo, de Carolina Maria de Jesus, com uma tirinha de Laerte, com imagem e descrição do espetáculo Gira do Grupo Corpo, entre outros.  

A liderança indígena Txai Suruí comemorou, no Instagram, a questão que cita trecho do discurso que proferiu na Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima de 2021 (COP26).

“Povos indígenas no ENEM!”, diz.

Duas questões são citadas na publicação, a primeira, traz um trecho do discurso de Txai: “O clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo e nossas plantações não florescem como no passado. A Terra está falando: ela nos diz que não temos mais tempo”.  

Já a segunda, cita o primeiro grupo de rap indígena do Brasil, Brô Mc’s e aborda a produção cultural contemporânea ligada à realidade dos povos originários do país.

Gabarito oficial

No último domingo (5), os candidatos fizeram as provas de linguagens, ciências humanas e redação. No próximo dia 12, farão as provas de matemática e ciências da natureza.

Os gabaritos oficiais serão publicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) após o segundo dia de exame, até o dia 24 de novembro.

No Canal Educação, no programa Caiu no Enem, professores comentaram as questões do Enem e fizeram a correção ao vivo. O programa está disponível on-line.

As notas das provas podem ser usadas para concorrer a vagas no ensino superior público, pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu); a bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior, pelo Programa Universidade para Todos (Prouni); e a financiamentos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). O Enem também pode ser usado para estudar no exterior.

(Fonte: Agência Brasil)

*

O 5 de novembro, como data comemorativa, tem um nome oficial: “Dia da Cultura e da Ciência”. É só assim, desse jeitinho, com essa grafia e até as aspas, do jeito que está na Lei; não é “Dia Nacional da Cultura e da Ciência Brasileira” nem qualquer outra denominação que se espalha internet adentro e afora.

Essa é Lei sancionada pelo presidente Emílio Garrastazu Médici e o ministro Jarbas Passarinho. Diz a Lei: “Institui o "Dia da Cultura e da Ciência", e dá outras providências. // O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Faço saber que o CONGRESSO NACIONAL decreta e eu sanciono a seguinte Lei: // Art. 1º Fica instituído o "Dia da Cultura e da Ciência", que será comemorado a cinco de novembro de cada ano, como homenagem a data natalícia de figuras exponenciais das letras e das ciências, no Brasil e no mundo. // Parágrafo único. As comemorações a que se refere o presente artigo terão como escopo o Conselheiro Rui Barbosa, nascido a 5 de novembro de 1849. // Art. 2º O Ministério da Educação e Cultura estabelecerá as normas para a divulgação da vida e da obra de Rui Barbosa, principalmente nos estabelecimentos de ensino do País. // Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. // Art. 4º Revogam-se as disposições em contrário. // Brasília, 15 de maio de 1970; 149º da Independência e 82º da República.”

CULTURA

E o que é “Cultura”? Essa palavra tem diversos significados ou sentidos:

1) a cultura que é tratar, lavrar a terra e nela plantar – é a agricultura, onde “agri-” significa “campo”, pois é no campo, na zona rural (mas também em espaços urbanos) que mais se cultivam plantas, vegetais;

2) a cultura que é cuidar de animais, multiplicando-os, abatendo-os para comida, preparando-os para esportes ou competições de qualidade; é o caso da pecuária (que tem a ver com “gado”, isto é, conjunto de animais da mesma espécie, como boi, porcos, ovelhas, cabras etc.;

3) a cultura que tem a ver com o conjunto de, pelo menos, quatro “CCCC” de uma comunidade: conhecimentos, costumes, comportamentos, crenças;

4) a cultura que é o conjunto de talentos, conhecimentos de pessoas e comunidades;

5) a cultura que, como está no “Dicionário Houaiss”, é o “complexo de atividades, instituições, padrões sociais ligados à criação e difusão das belas-artes, ciências humanas e afins”. Existem outras definições e mesmo estas estão incompletas.

Mas, pelo que a Lei registra, pode-se concluir que “Cultura”, com “C” maiúsculo, é essa do item 5 acima. A Cultura como sensibilidade, elaboração, construção / composição, técnica, oferta, aquisição, disseminação de um serviço (cantar, declamar, discursar, palestrar, contar histórias, dançar etc.) e de um produto (um livro, disco musical, uma pintura, foto, escultura, peça de artesanato etc.).

Para mim, no sentido geral, cultura é toda intervenção do ser humano na Natureza. Se quebrou um galho e utiliza esse pedaço de pau para cutucar frutas, coçar as costas, espantar animais etc., está fazendo cultura, está praticando um ato cultural.

Entretanto, retornando ao sentido da Lei que instituiu o Dia da Cultura e da Ciência há 51 anos, a Cultura é não só CAUSA mas também COISA, um algo material ou abstrato que constrói identidade, inicia tradições, inicia, mantém e altera costumes, une e dá permanência a grupamentos humanos... e pode – e deve – ser transformada em objeto de valor e preço. Surge aí o que foi designado “Economia da Cultura” ou “Economia Criativa”. Este tipo de Economia, sem interferir no processo criativo do artista ou criador, “trabalha” a coisa criada – material ou não – e estabelece para seu criador contrapartidas materiais, financeiras, vendendo-as dentro ou fora da comunidade onde o objeto cultural foi criado.

Tão importante é a Cultura também para a Economia que a maior cidade do Brasil, São Paulo, município que é capital do Estado de mesmo nome, tem na Cultura a maior fonte de sua riqueza. Ou seja, dos mais de 748,7 BILHÕES (2020) da economia da cidade de São Paulo, a maior parte não vem de gigantescas refinarias de petróleo, de descomunais montadoras de veículos, de mastodônticas indústrias siderúrgicas: o maior volume de dinheiro que forma o Produto Interno Bruto paulistano tem origem na chamada cadeia ou teia da Cultura, da Economia Criativa. O autor que escreve um romance vai, a partir de seu talento, movimentar e alimentar uma série de pontos: a indústria de tintas, de papeis, de plásticos, de máquinas de impressão, os serviços de profissionais de revisão, de diagramação e desenho, de impressão e acabamento, de “softwares”, de embalagem, de transportes, de eventos, enfim, um mundo de pessoas e empreendimentos, com seus objetos e seus serviços especializados, tudo girando em torno de uma obra gerada na solidão de uma mente em um corpo...

E disso aí em cima se pode dizer também para a Música, a Pintura, a Fotografia, a Escultura, o Artesanato etc. etc. etc. etc. É um mundo sem fim a Cultura e a Economia criativa.

Só há um problema: o desapreço, o desapego, a descrença, a desgraça político-administrativa, que, máxime em municípios, se instala e cresce em cérebros de governantes e outros gestores, que (man)têm outros (des)caminhos para os grandes volumes de dinheiro que todos os dias 10, 20 e 30 entram nos cofres de todas as prefeituras de todos os 5.570 municípios brasileiros...

O problema do Brasil não é governo sem dinheiro – é dinheiro sem governo... (E. SANCHES)

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CIÊNCIA

 Embora divida o 5 de novembro com a Cultura, a Ciência tem outra data: o 8 de julho, quando é comemorado (ou, ao menos, lembrado) o "Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico".

A LEI – O Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador Científico é a denominação de dois "Dias": o Dia Nacional da Ciência, instituído pela Lei federal nº 10.221, de 18 de abril de 2001, assinada apelo presidente Fernando Henrique Cardoso, e o Dia Nacional do Pesquisador, instituído pela Lei federal nº 11.807, de 13 de novembro de 2008, assinada pelo vice-presidente José Alencar Gomes da Silva, no exercício da Presidência. Na lei "alencarina", não há o adjetivo "Científico" após "Pesquisador".

O "Dia Nacional da Ciência" é uma referência à data de fundação, em 8 de julho de 1948, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), grande Entidade de que fui membro por anos e anos, décadas atrás.

A Ciência a que se refere a ancestral Lei 5.579 é aquele “corpo de conhecimentos sistematizados adquiridos via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, e formulados metódica e racionalmente” (Houaiss). Ciência é criar a cobra e mostrar como isso pode ser feito e repetido. (Quem mata a cobra e a mostra morta é a política, senhora absoluta das provações e privações culturais e científicas no Brasil).

Mais que explicar Ciência, melhor é exemplificar Ciência. Alguns casos:

1)    CHOCOLATE – Com 41 mil quilômetros quadrados (km2), a Suíça é menor do que o Rio de Janeiro ou o Espírito Santo, dois dos cinco menores Estados brasileiros. A Suíça não planta um pé de cacau... Mas onde são fabricados os assim declarados melhores chocolates do mundo? É na Suíça ou no Brasil, que está se aproximando de 300 mil toneladas de cacau por ano? É a Suíça que compra chocolate do Brasil ou é o Brasil que importa os caros chocolates da Suíça? Tudo isso tem a ver com Ciência...

2)    SOJA – Com 377 mil km2, o território do Japão é, em sua maior parte, de origem vulcânica e impróprio para cultivo e construção civil. O Japão é um conjunto de 6.852 ilhas. Todo dia tem terremotos e/ou maremotos e/ou vulcões ativos. Falando “grosso modo”, o Japão, com todas as pré-condições para dar errado enquanto país, é um dos mais desenvolvidos do mundo. Por exemplo, importa a soja brasileira e, com sua Ciência, a transforma em medicamento(s), como o fito-hormônio de soja, indicado até para tratamento de câncer de útero e de mama. E o Brasil, que, campeão mundial, produz 135 milhões de toneladas de soja das 342 que o mundo produz, vende seus grãos “in natura” e os recompra sob forma de caros medicamentos... Isso é (falta de ) Ciência...

3)    COCO – Em uma praia ou praça, na esquina de uma rua ou em carrinhos, compramos coco da praia, bebemos seu líquido, quando muito o partimos e comemos a “remela”, a polpa... e jogamos fora o restante, aliás, a maior parte. Pois bem: orientais utilizam a casca (endocarpo) para estofamento dos bancos de seus carros de luxo. Isto é Ciência.

4)    PEDRAS – Antigamente, dos peixes que se capturavam, cortava-se a cabeça, que era jogada fora. Hoje, já há quem praticamente se interesse mais pela cabeça que pelo restante do peixe. Na cabeça, há três pares de pedras, umas menores, outras maiores, como as da cabeça da corvina e do bacalhau. São os otólitos. Já se fala de uso científico dessas pedras e há discretos postos de compra pelo Brasil. Os orientais as querem. É bom começar a estocar pedras de cabeça de peixes.... A Ciência poderá ter bons usos com elas...

5)    CAFÉ – Achou que o 7 a 1 que a Seleção Brasileira de Futebol levou em 8 de julho de 2014 da Alemanha foi a maior surra que os germânicos deram e dão no Brasil? Pois anote aí: a Alemanha compra, todo ano, 18 milhões de toneladas de café do Brasil. Por meio de sua formidável logística, os alemães vendem 12 milhões por um preço várias vezes superior ao que comprou dos agricultores brasileiros. Com os outros seis milhões de toneladas, eles produzem cafés especiais, de preços altíssimos, para mercados sofisticados, que têm poder e não têm pudor de pagar até SETENTA VEZES MAIS CAROS do que os alemães nos compraram!... Isso é Ciência. Para se ter uma ideia, a indústria alemã Melitta, em um país que não planta um pé de café, tem mais de 160 itens fabricados por ela DEDICADOS SÓ PARA CAFÉ, como cafeteiras, filtros (inclusive de papel), máquinas e equipamentos, cafés solúveis etc. etc. etc. Tem fábricas em mais de CEM países, inclusive no Brasil, fornecedor da matéria-prima (“commodity”) em torno da qual giram as indústrias Melitta desde 1908, quando foi fundada. Isso é Ciência, inclusive a ciência de ganhar dinheiro com o produto dos outros...

Faltam CIÊNCIA e CONSCIÊNCIA no Brasil.

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Cultura e Ciência são necessidades de primeira grandeza. Países desenvolvidos são países de grande cultura artística e científica.

O Brasil está cheio de criadores e cultivadores, técnicos, tecnólogos e cientistas.

Sobra talento. Falta apoio.

Há dinheiro. Falta vergonha...

... Vergonha para não dilapidar os recursos que têm origem em cada um de nós.

Até quando abusarão de nossa paciência, seus Catilinas?

* EDMILSON SANCHES

A adolescente Isabela Glycerio, 14 anos, é deficiente visual, mas já foi a várias peças de teatro acessível, depois que descobriu o aplicativo Vem CA – Plataforma de Cultura Acessível, da organização não governamental (ONG) Escola de Gente, com audiodescrição.

“É um jeito que eu consigo ver o que está acontecendo e me sentir igual a todos”. É importante também que ela possa sentir o cenário. “Porque, muitas vezes, só a descrição não é suficiente. É importante sentir o que tem no cenário e os personagens também se descreverem”. No momento, ela espera convite para outras peças com audiodescrição.

Um espetáculo de que Isabela gostou muito foi “Mãe Fora da Caixa”. Ela sempre convida outras pessoas para irem ao teatro acessível para observar como funciona a audiodescrição. Para isso, ela usa fones de ouvido. A jovem estuda no Centro Educacional Espaço Integrado (CEI), na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Apesar de não ser uma escola especializada, o CEI disponibiliza recursos para ajudar alunos com deficiências. A mãe de Isabela, Verônica, afirmou que a escola tem um olhar inclusivo em atitudes e, também, na parte pedagógica.

A mesma sensação de ser incluída é compartilhada por Jéssica Mendes, fotógrafa e conselheira consultiva da Escola de Gente. Jéssica tem Síndrome de Down e deficiência intelectual. Trabalha também na Secretaria Nacional de Direitos Humanos como fotógrafa de eventos. Para ela, a experiência que teve com o teatro acessível da Escola de Gente foi muito boa.

“Eles são muito acolhedores. Percebi que, nas peças, os atores não mexem muito com a boca, mas destacam os movimentos. O corpo é a arte em si. Eu gosto muito dos gestos, da forma de arte acessível, da linguagem simples”. Jéssica destacou ainda que as peças do grupo “Os Inclusos e Os Sisos”, da ONG, têm sempre uma pessoa que explica o espetáculo para as pessoas com deficiências. “É um recurso para a linguagem simples, para a pessoa entender a peça e a linguagem”.

Pioneirismo

O Rio de Janeiro se prepara para ser o primeiro Estado brasileiro a ter o Dia Estadual do Teatro Acessível. O Projeto de Lei 939/2023, de autoria da deputada estadual Elika Takimoto, foi aprovado por unanimidade em primeiro turno de votação na Assembleia Legislativa (Alerj), no dia 21 de setembro e, posteriormente, em segunda votação, no dia 27 do mesmo mês. Agora só falta a sanção do governador Cláudio Castro para que a lei entre em vigor.

Professora de física licenciada do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-RJ), Elika Takimoto é líder da bancada do Partido dos Trabalhadores (PT) na Alerj e tem como principais bandeiras a cultura, a comunicação, a inclusão e a acessibilidade.

Em entrevista à Agência Brasil, Elika disse ver o teatro acessível para todas as pessoas, com e sem deficiência, como uma necessidade primordial. “Primeiro, porque a gente está seguindo o que está na Constituição. É um direito de todas as pessoas ter acesso à educação, à saúde, ao lazer, à arte. A gente está trabalhando para isso”. Ela comentou, contudo, que os equipamentos culturais, com destaque para o teatro, nem sempre têm a parte de acessibilidade. “E a gente vê muitas pessoas querendo participar, ou como plateia ou atuando no palco, e sem condições de fazer isso, porque os teatros não são acessíveis”. Para ela, promover o maior acesso das pessoas com deficiência à cultura envolve falar em um mundo mais inclusivo e acessível.

Quando fala em acessibilidade, a deputada não está referindo-se somente à tradução em Libras, à existência de rampas, audiodescrição e piso tátil. ”A gente está falando disso tudo junto e mais outras coisas. É promover acessibilidade para diversas deficiências”. A própria Elika Takimoto é surda e pôde conversar com a Agência Brasil graças a próteses auditivas. “Sem elas, eu ouço com muita dificuldade de interação”. 

O Dia Estadual do Teatro Acessível será celebrado na mesma data do Dia Nacional e do Dia Municipal do Teatro Acessível do Rio de Janeiro, que é 19 de setembro. “A gente está em consonância aqui”. Elika destacou que o Rio de Janeiro é o primeiro Estado a ganhar uma lei própria. Ela pretende levar o debate sobre o teatro acessível para outros equipamentos culturais como o cinema, por exemplo. “É trazer acessibilidade para a sociedade, para que esta se sinta incomodada quando está em um lugar inacessível. A gente está querendo trazer essa sensibilidade”. 

Outro objetivo é influenciar casas legislativas pelo Brasil a seguirem o exemplo do Rio de Janeiro. A data entrará oficialmente no calendário fluminense. O Projeto de Lei 939/2023 se baseou também na história e trajetória da ONG Escola de Gente, criada pela jornalista Claudia Werneck, em 2002, com o propósito de colocar a comunicação a serviço da inclusão na sociedade, principalmente de grupos vulneráveis como pessoas com deficiência.

Conceito

A expressão teatro acessível foi criada pela Escola de Gente que tem, inclusive, o domínio na internet. “Para nós, o teatro acessível não é nem o teatro feito por pessoas com deficiência, nem o teatro feito para pessoas com deficiência. Para nós, o teatro acessível é o teatro da liberdade, que garante às pessoas com deficiência o direito de participarem da vida cultural de suas cidades como desejarem. Elas podem estar na produção, no roteiro, na plateia, serem artistas, iluminadores, o que elas quiserem, porque o teatro vai estar preparado para contemplá-las em tudo, se tiverem desejo, competência, talento. Mas elas são livres para escolher e para contribuir com as produções culturais”, afirmou Claudia à Agência Brasil.

Claudia diz que esse é o teatro da liberdade porque, no teatro acessível, a pessoa com deficiência vai ter equiparação de oportunidades para fazer o que quiser e participar do jeito que ela desejar e puder participar. Teatro acessível não é só aquele que tem pessoas com deficiência no palco ou na plateia. “Não é esse o conceito da Escola de Gente. É o teatro que garante a qualquer pessoa o direito de chegar e participar, contribuir e desfrutar. Para isso, é preciso ter muita acessibilidade. O teatro acessível tem que oferecer plena acessibilidade sempre, em todos os espetáculos”.

A jornalista acredita que o caminho do futuro é que os equipamentos culturais tenham plena acessibilidade, para que isso não fique como responsabilidade apenas de quem produz o espetáculo. Isso significa que todas as casas de espetáculo devem ter fones de audiodescrição, equipe treinada para receber as pessoas, com intérpretes de Libras desde a fila e com legenda para dar conta da diversidade de surdez, profissionais contratados que saibam a Libra tátil, para o caso de chegarem pessoas surdo-cegas no teatro, além de visitas ao cenário.

“Teatro acessível é tudo isso. Toda a vivência tem que ser acessível e não somente na hora que começa o espetáculo. Tem que ser direcionado para dar conforto e dignidade, independência e autonomia a pessoas idosas, pessoas com autismo”. Claudia defendeu, inclusive, que o programa das peças deve ser feito com letra ampliada e com contraste de cor, para que pessoas que, muitas vezes, não têm dinheiro para comprar óculos possam ler. São várias providências que vão tornando o teatro acessível cada vez mais interessante e cada vez mais próximo das pessoas assistirem.

Mostra

Quando foi sancionada a Lei Nacional do Teatro Acessível, em 2017, a Escola de Gente criou uma mostra para divulgar à população o que é teatro acessível. Essa mostra está na quarta edição, sempre dentro da Lei Rouanet. “É um projeto onde a gente ensina a fazer teatro acessível, onde são feitas oficinas e espetáculos de teatro acessível, justamente para mostrar como se faz e ter sempre essa oferta”, explicou Claudia Werneck. 

Na avaliação de Claudia, sem cultura e sem acesso a teatro, as pessoas ficam muito prejudicadas nas suas decisões, na sua autonomia, no seu modo de perceber o mundo e, até para proteger as suas famílias. Ela acredita, contudo, que está havendo avanços desde a criação da lei nacional. 

O ano de 2024 será especial, segundo Claudia, porque marcará a celebração conjunta das três datas: Dia Nacional do Teatro Acessível, Dia Municipal e Dia Estadual do Teatro Acessível do Rio de Janeiro.

Inclusos e Sisos

A ideia do teatro acessível nasceu com a filha de Claudia, a atriz e apresentadora Tatá Werneck que, em 2003, reuniu outros estudantes de artes cênicas da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) para criar o grupo “Os Inclusos e os Sisos” como um projeto da Escola de Gente. Esse grupo realiza todos os seus espetáculos e atividades com a máxima acessibilidade. “Fico feliz porque a contribuição da nossa família é muito positiva no sentido de mobilizar pessoas para outras causas. Mas a gente tem que lutar todo dia e pensar como praticar melhor. Porque o teatro acessível é um conceito em evolução. Todo dia, eu aprendo mais coisas”.

Durante um espetáculo em Juiz de Fora (MG), por exemplo, a fundadora da Escola de Gente percebeu que crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) não podem entrar na sala antes de começar a sessão. “Quando a lei manda que pessoas com deficiência entrem antes, isso não vale para autismo, porque elas têm muita ansiedade e têm que entrar já na hora de começar o espetáculo. Você vê que isso é uma coisa que não está na lei. É só fazendo e enfrentando desafios que você aprende. Desde esse dia, pessoas com autismo entram nos nossos espetáculos na hora de começar”, afirmou Claudia Werneck. 

(Fonte: Agência Brasil)

Como em todos os anos, o tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) tem ampla repercussão no país. Na tarde desse domingo (5), primeiro dia das provas do Enem 2023, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou o tema do texto dissertativo exigido pelo exame: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”.

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua 2022, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, enquanto os homens utilizam 11,7 horas. Ao detalhar a proporção do trabalho doméstico entre as mulheres, a pesquisa verificou que as pretas têm o maior índice de realização das tarefas (92,7%), superando as pardas (91,9%) e brancas (90,5%).  

Essa situação, na avaliação de especialistas ouvidas pela reportagem, pune, excessivamente, as mulheres, principalmente negras, criando barreiras para entrada no mercado de trabalho em igualdade de condições, bem como para a participação na vida pública e em outros espaços sociais ainda dominado por homens.

“É uma realidade para a qual não se presta muita atenção, há uma naturalização de que a tarefa de cuidar das pessoas é algo que compete às mulheres, algo que se entende como uma natureza feminina. Isso tem a ver como uma forma que se organiza as tarefas de gênero na sociedade, a provisão de recursos, o que sobrecarrega as famílias”, aponta a socióloga Laís Abramo (foto), secretária nacional de Cuidados e Família, órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). 

Para ela, que está à frente de um grupo de trabalho (GT) para elaborar a Política Nacional de Cuidados, o tema ter sido cobrado na redação do Enem é algo muito necessário. “Sabemos da importância dessa prova em termos de democratização do acesso ao ensino superior e de que todos os temas colocados na redação são momentos de reflexão. Quando vi, fiquei muito contente”, comentou em entrevista à Agência Brasil.

A expectativa de Laís Abramo é que, em maio do ano que vem, o governo federal apresente propostas de um marco normativo que reconheça efetivamente o direito ao cuidado, e os direitos de quem cuida, além de fomentar a ampliação de políticas públicas já existentes e, até mesmo, a criação de novos direitos.

A jornalista e pesquisadora Ismália Afonso, oficial para os temas de gênero e raça do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no Brasil, também destaca o alcance que o assunto ganhou ao ser cobrado na prova do Enem, “que tem uma força para pautar do debate público”. “Além disso, o tema da redação parte da ideia de que a gente olha para desigualdade, não se discute se o problema existe ou não. Isso nos coloca em outro patamar de discussão”, observa.

Autora do livro Nem trabalha nem estuda? Desigualdade de gênero e raça na trajetória das jovens da periferia de Brasília (Appris, 2018), a pesquisadora também argumenta que a invisibilidade do trabalho de cuidado feito por mulheres, não apenas no Brasil, é uma expressão da desigualdade de gênero, ou seja, da estrutura social que valoriza homens e mulheres de maneiras diferentes. “Homens não são preparados para naturalizar certos tipos de trabalho, enquanto mulheres são socialmente construídas para isso. Ainda que haja legislações que remunerem mulheres pelo trabalho de cuidar, a gente precisa fomentar uma mudança cultural”, defendeu em entrevista à Agência Brasil.

Referências internacionais

A retomada das políticas sociais por igualdade de gênero no país, que foram descontinuadas nos últimos anos, também busca colocar o Brasil no patamar de outros países latino-americanos que avançaram nos últimos anos. Um decreto editado pelo governo argentino, em 2021, passou a reconhecer o cuidado materno como tempo de serviço considerado para a concessão de aposentadoria.

“Estamos, desde o começo dessa discussão, olhando muito para as experiências internacionais. Existem vários países da América Latina que estão mais avançados na estruturação de políticas nacionais de cuidado”, aponta.

Laís Abramo cita uma experiência de Bogotá, capital da Colômbia, que instituiu os chamados Quarteirões do Cuidado, que são equipamentos públicos como lavanderias coletivas, cozinhas solidárias e restaurantes populares concentrados em um raio territorial pequeno, como forma de mitigar o tempo e o esforço do trabalho de cuidado.

No Brasil, a secretária nacional de Cuidados e Famílias destaca, por exemplo, o pagamento adicional de R$ 150 aos beneficiários do programa Bolsa-Família com crianças até 6 anos de idade, que foi instituído em março. “O cuidado é um direito humano. Todas as pessoas precisam de cuidado. E a gente entende que o cuidado é um trabalho, que implica muitas horas diárias ao longo da vida inteira. Você não pode fazer com que a provisão desse cuidado recaia sobre as mulheres de maneira não remunerada”, argumenta Laís Abramo.

Na próxima quarta-feira (8), em Brasília, o governo federal vai sediar um seminário internacional, com altas autoridades da área de assistência social dos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), justamente para debater o fortalecimento de políticas públicas sobre o cuidado. O evento ocorre no contexto da presidência temporária do Brasil à frente do bloco regional sul-americano.  

Propostas em debate

Entre as propostas que estão em debate no GT criado pelo governo federal está a ampliação da licença-maternidade para mães que estão fora do mercado de trabalho. A licença-paternidade, atualmente de apenas 5 dias para trabalhadores com carteira assinada, é considerada insuficiente por especialistas. Também está em estudo a ideia de instituir uma licença-parental, que seria um período de afastamento a ser dividido entre os pais ou responsáveis legais da criança.

Há, também, metas na área da educação que têm impacto direto na mitigação desse trabalho não-remunerado, como a meta de ampliar o acesso à creche para 50% das crianças de 0 a 3 anos. Atualmente, essa cobertura está em 35%. A ampliação da escola em tempo integral desde o ensino fundamental também é considerada medida fundamental para evitar que mulheres tenham que abdicar de trabalho ou carreira para cuidar dos filhos durante o turno em que não estão na escola.

Para Ismália Afonso, enfrentar esse desafio requer um leque amplo de medidas, inclusive um novo pacto social. “Precisamos atuar tanto do ponto de vista das políticas públicas quanto do ponto de vista de um novo acordo social, sobre quem faz o quê dentro das famílias, dentro do mundo do trabalho não remunerado e dentro da estrutura social que atribui poderes diferentes para homens e mulheres”, diz. 

 (Fonte: Agência Brasil)

Prefácio ao livro “Simplesmente Crônicas”, de Vítor Gonçalves Neto, uma seleção “post-mortem” feita pelo escritor caxiense Quincas Vilaneto [Joaquim Vilanova Assunção Neto].

* * *

Se ler, como diz a Etimologia, é um ato de juntar, escrever é a arte de cortar.

Reunir palavras é leitura. Escrever é incisão, supressão – corte e costura.

Está aí algo em que era alfaiate, cirurgião e mestre Vítor Gonçalves Neto, o mais maranhense dos piauienses, o mais caxiense dos teresinenses.

Como a reconfirmar que “nos menores frascos, as melhores fragrâncias”, as crônicas contidas do Vítor perfumista da palavra são assim textualmente curtas... e olfativas. E táteis. Auditivas. Visíveis. Sensitivas.

Repare você nas crônicas “vitorianas” a concisão rima e recurso de precisão. Os períodos breves – e os prolongados sentidos, como gotas de essência odorando o ar, sem se volatilizar.

“Simplesmente Crônicas”, esta nova obra “post-mortem” de Vítor Gonçalves Neto, sai sob o esforço e a responsabilidade do escritor Quincas Vilaneto, que não é outro senão o caxiense de boa cepa e ótimas letras Joaquim Vilanova Assunção Neto.

São 28 textos que trazem um Vítor cronicando sobre o crônico urbano que é política, problema e paisagem e sobre a paisagem que é natural, política, social, cultural, artificial. E coisa e tal. Leia-se, por exemplo, as/nas crônicas “O Bairro”, “Necessidade”, “Questão”, “Trânsito”, “Mudez”, “Crepúsculo”, “Beco”, “Vereança”, “Chatice”, “Surpresa”, “Açúcar”, “Tragédia”, “Giro”...).

São 28 textos que trazem do Vítor uma amostra de seu escrever poético e espírito bem humorado. As sacadas de gênio. Comparações. Analogias. Construções. “Finesse”. “Humour”.

Sinta-se como Vítor descreve a necessidade de um amigo: “(...) lhe faltava qualquer coisa. Que (...) não existia nas vitrinas. Nos prostíbulos nem nos bares. Nem mesmo nos olhos puros das crianças. (...) Faltava-lhe paisagem. Coisa de que seus médicos não haviam cogitado (...). E que o curou radicalmente após quatro crepúsculos vespertinos num campo muito verde aonde garças muito brancas brincavam de cegonha. (...)”.

Vítor mostra que no vinho não há apenas verdade (“In vino veritas”), mas também humor. Humor de verdade. Na crônica “Inocência”, o “humour” “vitoriano” mostra-se, leve, enométrico: “Fui ver o falado filme ‘Marcelino, Pão e Vinho’. Mais por causa este último que esse negócio de Pão não interessa muito... e Marcelino muito menos. Todavia percebi decepcionado logo de início que o Vinho lá é muito pouco”.

O talentoso Vítor, adestrador da língua, sem o academicismo da Linguística, comete crônicas metacrônicas, metajornalísticas, metaliterárias, metalinguísticas. Como em “Sistema”: “Difícil é tão somente o começar. Aquele namoro íntimo com as palavras buscando um título”.

E em “Seriedade”: “Meu desejo mesmo era mudar o rumo deste bate-papo diário para coisa que valesse. (...) Falar de coisa séria como reforma cambial ou a energia atômica. (...) Não! Diabos me carreguem se isso tudo não for pura embromação para encher tempo e espaço... e saco também”.

Em “Insistindo”, Vítor esclarece sobre seu próprio espaço no jornal em que escrevia: “Quero contudo insistir junto aos leitores na diversidade do que vai acima e abaixo do nome deste que lhes escreve. (...) Não se espantem quando eu escrever acima um necrológio e abaixo publicar um samba de Carnaval. Ou vice-versa”. (...)

Mas, além do humor às vezes sereno e muitas das vezes sarcástico – ou sacana –, é na palavra poética, na metáfora singular, que Vítor Gonçalves Neto se revela domador de palavras, sentidos, sensações, sentimentos. A pouquidade deste livro recomenda contenção nos exemplos. Eis alguns momentos em que este “Simplesmente Crônicas” é simplesmente poesia:

“Um livro aberto lê para meus olhos um poema de saudade”. (Nesta crônica, “Tristeza”, Vítor subverte a condição “natural”, resultando que, ao invés de os olhos lerem um poema do livro, é este – o livro aberto -- que “lê” para os olhos).

“Agora dentro em mim o silêncio – cresce feito espiga”. “Galos em atraso na hora”. (“Mudez”)

“Um silêncio de peixe morto invade as águas da memória”. (“Solidão”)

“O sol espia o ocaso com um longo olhar de suicida”. (“Crepúsculo”)

“Vento sem pátria nem fronteiras que baila e assovia e é quente e frio e é brisa e aragem e furacão. Vento danado que vem do céu”. (“Inveja”)

“Quem conhece de perto a emotividade de sua gente. A ternura de seu povo. Só quem viveu a vida daquelas vielas. Quem vadiou aquelas ruas e percorreu suas ladeiras”. (“Tragédia”)

E para parar: “Agora a noite chega de manso como um ladrão ciente. Lá vem a aragem do acabar da tarde mais doce que a esperança. Mais presente que a saudade. O céu nesta hora visto é muito mais belo que a ternura. E dentro em nós perdura um tanto a poesia do anoitecer”. (“Suavidade”)

*

Bom seria se os textos de Vítor Gonçalves Neto fossem tão de todos quanto o são de tudo. Que fossem de conhecimento do mundo como são dos amigos e conhecidos.

Ao trazer a público mais uma mancheia de textos “vitorianos” enfeixados em livro, Quincas Vilaneto contribui para relembrar e realumbrar o grande escritor que é Vítor Gonçalves Neto.

Caxias e o Maranhão e o Brasil poderiam fazer mais pelo Vítor, o cronista, o poeta. No dia 23 de junho de 1989, às duas e meia da madrugada, meu amigo Vítor Gonçalves Neto mudava de vida. Assim, discreto.

Ou, como (d)escreveu em “Tristeza”, crônica aqui incluída, morreu “um tanto assim muito de manso”.

Saudades, Vítor.

LIVRO DO MAIS CAXIENSE DOS PIAUIENSES COMPLETOU 50 ANOS DE LANÇAMENTO EM 2013 E 60 ANOS DE ESCRITO EM 2014

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Vítor Gonçalves Neto escreveu, em 1954, romance "Roteiro das 7 Cidades", publicado em 1963

O jornalista e escritor Vítor Gonçalves Neto completaria 89 anos em 8 de novembro de 2013, mas faleceu há 25 anos, em 23 de junho de 1989, em Caxias. Ele dirigiu por décadas os jornais caxienses “Folha de Caxias” e “O Pioneiro”.

Nascido no Piauí (Teresina) em 4 de novembro de 1925 e calejado por andanças e fazimentos por todo o país, Vítor Gonçalves é autor de “Roteiro das 7 Cidades”, livro que completou – sem repercussão – meio século de lançamento em 2013. O romance, cheio de referências da realidade da época, como protagonista o Assunção, "poeta, jornalista, escritor, filósofo, boêmio, doido" e tem como majestoso cenário as Sete Cidades, formações rochosas que se estendem entre os municípios piauienses de Piracuruca e Piripiri.

Na ilustração, a capa do livro. Em (re)lembrança, colocarei aqui alguns textos para os que se interessarem em conhecer mais e melhor a vida e obra(s) de Vítor Gonçalves Neto, que, quando eu tinha 13 ou 14 anos de idade e era menor estagiário do Banco do Brasil em Caxias, me convidou para escrever no jornal “O Pioneiro” (eu à época era diretor cultural da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) e redigia o jornal da –entidade, "O Sabiá", de cujas edições o Vítor – que vez ou outra visitava a agência bancária -- deve ter tomado conhecimento; daí o convite).

Vítor Gonçalves Neto faleceu em Caxias em 23 de junho de 1989. Só soube de sua morte dias depois, a tempo de, eu morando fora, chegar a Caxias para a missa do sétimo dia, quando pude apresentar condolências à viúva, Dona Edna, professora, e aos filhos Jandir (meu amigo e colega de turma no ensino médio do Colégio São José), Miridan e Jorge Eugênio, jornalista, prestes a se formar em Direito, que por uns tempos seguiu o ofício – e sacrifício – do pai, ficando à frente do jornal “O Pioneiro” em heroica tentativa de mantê-lo circulando. Jorge Eugênio e sua mulher, a professora Ana Lúcia, em Caxias, desejam revitalizar a Fundação Vítor Gonçalves Neto.

* EDMILSON SANCHES

(Texto escrito em junho de 2012)

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 traz à luz uma questão estrutural da sociedade brasileira: mulheres que cuidam de familiares, de filhos, de companheiros e da casa e que, muitas vezes, têm duplas ou triplas jornadas diárias sem opção de escolha e sem remuneração ou reconhecimento. Para professores de redação entrevistados pela Agência Brasil o tema segue a linha de temas anteriores, chamando atenção para uma problemática social. Apesar disso, pode ser bastante desafiador para os candidatos do exame.  

tema da redação deste ano é "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil".

Ao ler o tema, a professora de língua portuguesa e produção textual do Colégio Mopi Tatiana Nunes Camara comemorou: “Eu adorei. Eu acho que é bem interessante porque nós, mulheres, temos realmente tantos trabalhos e não temos reconhecimento nenhum. São tantas mulheres com tantas jornadas de trabalho dentro e fora de casa”, diz.  

Segundo a professora, o tema é atual e está em linha também com acontecimentos recentes deste ano. Um deles é o lançamento e o sucesso de bilheteria do filme Barbie. O filme discute a organização patriarcal da sociedade em contraposição ao mundo da Barbie, onde as mulheres ocupam a centralidade e os cargos de liderança. O filme, de acordo com a professora, pode servir de repertório para a elaboração do texto.  

Além disso, o governo brasileiro anunciou, este ano, a criação de um grupo de trabalho para a elaboração da Política Nacional de Cuidados. A política é voltada para aqueles que cuidam de crianças, de adolescentes, de pessoas com deficiência ou com alguma limitação, trabalho majoritariamente realizado por mulheres. Segundo o grupo, as mulheres dedicam ao trabalho de cuidados não remunerado no interior dos seus próprios domicílios em média 22 horas por semana (o dobro do tempo dos homens).   

“Eu acho que o aluno que estudou, que acompanhou as notícias e toda essa trajetória de assuntos está bem preparado e vai conseguir fazer”, diz Camara. Um dos erros que os estudantes podem cometer é, segundo a professora, questionar se esse trabalho é invisível ou mesmo se é um trabalho. “[O candidato] vai ter que ter cuidado para entender que o tema foca na invisibilidade do trabalho de cuidado. Ou seja, não é para questionar se é ou não invisível. Ele é invisível. Tem que partir de que o Inep já está dizendo que é invisível”.  

Os estudantes precisam também elaborar uma proposta de intervenção, ou seja, o que é preciso fazer para buscar uma solução para a questão. “A gente pode pensar em subsídios fiscais para empresas contratarem mulheres, em investimento público em creches públicas, porque muitas mães não conseguem trabalhar porque não têm com quem deixar os filhos e na criação de leis que garantam subsídios a essas mulheres cujo trabalho muitas vezes, quase nunca é reconhecido”, diz.  

Para o professor de língua portuguesa Noslen Borges, da plataforma Clube do Noslen, o tema segue a linha de edições anteriores da prova. “Eu acho que vem dentro do histórico do Enem, que trabalha com problemáticas brasileiras, focando em grupos deixados de lado. Isso faz parte da estrutura do Enem”, diz.

Segundo ele, mais do que uma discussão pertinente, é uma realidade há muitos anos não só no Brasil, mas em todo o mundo. “Com certeza, esse trabalho invisível é um tema pertinente e profundo, mas não sei o quanto os adolescentes conseguem discutir sobre isso. E que esse tema não fique só no Enem, mas que essa discussão venha para a sociedade”, acrescenta.

Segundo o professor, os estudantes devem buscar qualificar a discussão. Citar filmes e livros e situações em que isso acontece pode ser formas de qualificar o texto. Em relação à proposta de intervenção, ele diz que um caminho é propor a criação de leis para que esse trabalho saia da invisibilidade e que as pessoas recebam suporte e mesmo bolsas para essas atividades. 

A professora de redação da plataforma de estudos Descomplica Roberta Panza diz que é importante os candidatos se aterem ao que está sendo pedido na prova. Um caminho é discutir no texto por que é tão difícil combater a invisibilidade desse trabalho. “É muito importante que o aluno entenda a força da palavra enfrentamento. Estamos falando de combate a uma perspectiva. Tem que refletir por que é tão difícil combater a invisibilidade desse tipo de trabalho”, explica 

De acordo com Panza, o tema chama atenção não apenas para um recorte de gênero, por ser um trabalho mais realizado por mulheres, mas também para o recorte racial, já que muitas vezes são as mulheres negras que desempenham essas atividades. Outro ponto a ser levado em consideração é que historicamente esse tipo de trabalho é relegado às mulheres, mas as tarefas domésticas podem ser feitas por todas as pessoas que moram na casa. “É um risco associar só à mulher”, diz a professora.

Ela aponta ainda como uma das problemáticas que podem ser incluídas no texto o fato de que mudanças poderiam ser feitas por meio de leis, mas as leis são feitas majoritariamente por homens, que são maioria nas casas legislativas. Segundo dados da Câmara dos Deputados, as mulheres ocupam 17,7% das cadeiras da Casa. 

Enem 2023

Os participantes do Enem 2023 fizeram, neste domingo, as provas de linguagens, redação e ciências humanas. No próximo domingo (12), os candidatos farão as provas de ciências da natureza e matemática. Ao todo, são 180 questões, sendo 45 de cada área do conhecimento.

O Exame Nacional do Ensino Médio avalia o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. O Enem é a principal porta de entrada para a educação superior no Brasil, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Programa Universidade para Todos (Prouni) e do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). A nota também pode ser usada para ingresso em universidades no exterior.  

O Canal Educação transmite, neste domingo, o programa Caiu no Enem, com a participação ao vivo de professores que irão analisar as principais questões que caíram na prova, das 20h às 22h. A primeira hora do programa também será exibida pela TV Brasil e emissoras da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP), das 20h às 21h. A Rádio Nacional retransmitirá a íntegra do programa para os ouvintes, a partir das 20h. O público pode participar enviando dúvidas e comentários para os perfis do Canal Educação nas redes sociais @canaleducacaobr e usando a hashtag #CaiuNoEnem.

(Fonte: Agência Brasil)

Apresentação ao livro “Crônicas das Andanças”, incluindo o mais completo roteiro bibliográfico desse escritor caxiense nascido no Piauí. Texto revisto, atualizado e ampliado em 23/11/2020; escrito e publicado originalmente em 1995.

* * *

No “roteiro” biográfico-sentimental que escrevi em 1989, e que se inclui neste livro com algumas alterações e atualizações, digo que o terceiro livro que Vítor Gonçalves Neto pretendia publicar tinha o título de “Sem Compromisso –100 Crônicas”.

Contei mal. Vamos começar do começo: os registros do próprio Vítor, cruzados com os de outras testemunhas, revelam que o primeiro livro que ele escreveu foi “Santa Luzia dos Cajueiros”, classificado como romance por Hindemburgo Dobal, embora o próprio autor o tivesse como novela. Romance ou novela, o texto foi escrito em algum espaço de tempo de 1943 a 1950, período que vai da época dos incêndios criminosos dos casebres de palha de Teresina, os quais deram “munição” para o texto, até o ano anterior à publicação do conto “Fogo”, em 1951, numa antologia baiana de contos regionais.

O conto “Fogo” foi escrito na Bahia e era, segundo seu autor, uma versão “espremida” (mais ou menos 12 páginas) de “Santa Luzia dos Cajueiros”, que tinha 25 capítulos (Santa Luzia era uma das ruas do Cajueiros, à época “o bairro mais sujo de Teresina, refugo de mulheres perdidas, homens embriagados, crianças que não queriam estudar”, também ameaçado pelos incêndios anônimos). Os originais do livro, conforme depoimento do autor, “ficaram perdidos em meio à biblioteca do poeta conterrâneo Martins Napoleão”. O conto “Fogo” foi republicado, como “plaquette”, em 1988, pela Editora Corisco, de Teresina.

Registre-se que, como subproduto do conto “Fogo”, Vítor escreveu, ainda na década de 50, um roteiro para uma companhia carioca de cinema. As autoridades de então impediram o filme de ser rodado.

Vítor Gonçalves escreveu também “Paissandu, nº 9” e “Caminho das Águas Turvas”, romances inacabados e, claro, não publicados. Rua Paissandu, número 9, era o endereço de uma “casa de mulheres perdidas na zona grã-fina”, como está no conto “Fogo”. Por sua vez, “Caminho das Águas Turvas” referia-se às águas barracentas do Rio Parnaíba, o caminho d’água dos barqueiros.

Em março de 1957, efetivamente, foi impresso o primeiro livro: o “clássico” "Conversa Tão Somente". Feito na Tipografia São José, em São Luís, o selo editorial, entretanto, era de Teresina (Caderno de Letras Meridiano). O livro reúne trinta crônicas, escritas de 1953 a 1957. A primeira parte é dedicada ao folclore. São cinco crônicas: uma sobre bumba-boi, três sobre “assombrações” e outra sobre brincadeiras de criança. Todos os textos são datados de 1953 e foram escritos em quatro diferentes localidades do Rio de Janeiro (Vila Isabel, Duque de Caxias, Nilópolis e Laranjeiras).

A segunda parte tem vinte crônicas e foi escrita em São Luís, de 1955 a 1957. É um registro das lembranças e elaborações do cronista acerca de cidades, viagens, mulheres, animais, coisas, ambientes, impressões. As últimas cinco crônicas formam “O livro de Edna”, dedicado naturalmente à futura mulher. "Conversa Tão Somente" saiu com sobrecapa, cuja “orelha” é assinada por Bandeira Tribuzi, nome de respeito e referência na história literária recente do Maranhão. A apresentação é do já citado Hindemburgo Dobal.

Em "Conversa Tão Somente" Vítor já manifestava sua intenção de publicar um “livro de memórias”, aproveitando o título de uma das crônicas: “Ponta de Calçada”, referência à Rua Pacatuba, uma antiga “rua de subúrbio da capital piauiense” que “daria um romance”.

Em agosto de 1963 apareceu o segundo livro. Diferentemente do anterior (que fora impresso no Maranhão, mas com edição do Piauí), este foi impresso no Piauí (Imprensa Oficial, Teresina) para as Edições Aldeias Altas, de Caxias, Maranhão. Era o "Roteiro das 7 Cidades" (assim mesmo, com o numeral sete), romance de 179 páginas ambientado no conhecido sítio de formações rochosas dos municípios piauienses de Piracuruca e Brasileira (este, criado em 1993). Ilustra a obra uma dúzia de fotografias e desenhos copiados dos originais de Ludwig Schwennhagen, historiador e filólogo austríaco que defendia terem sido os fenícios os primeiros habitantes do Piauí.

O livro foi escrito em 1954, no Piauí, e os originais com preciosas anotações/alterações à mão foram “esquecidos num banco da Praça Benedito Leite”, em São Luís, na noite de 12 de junho de 1955, um domingo. Oito anos depois, sem que o texto anotado fosse devolvido, Vítor Gonçalves publicou a cópia "in natura" que restava em seu poder. O livro não traz prefácio; apenas o nome do autor do desenho da capa e das três pranchas, Murilo Couto. Esqueceram-se de registrar o autor das fotos (teria sido o próprio Vítor?).

No verso da falsa folha de rosto do "Roteiro das 7 Cidades", a relação de obras do autor traz, como o próximo livro “a sair”, "Gentes e Chãos Eternos", com certeza outro livro de crônicas.

Portanto, desde 1963, Vítor Gonçalves Neto alimentava a ideia (porque o material, os textos, ele já os tinha) de publicar um novo livro. Desse modo, quando em 1977 ou 1978 eu o acompanhei até o Sioge (o Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado [do Maranhão]) e testemunhei sua conversa com o diretor Jomar Moraes para publicação de um novo livro de crônicas (ao qual já dera o título: "Sem Compromisso – 100 Crônicas"), essa obra seria, pelo menos, a de número nove, caso as intenções do autor se realizassem e as condições permitissem.

A lista ficaria assim:

1) o romance (ou novela) "Santa Luzia dos Cajueiros" (escrito de 1943 a 1950; não publicado);

2) o conto “Fogo” (escrito na Bahia e publicado originalmente em 1951, republicado em outras antologias e, isoladamente, em 1988; republicado como “4ª edição” em 2002, número 4 da Coleção Contar, da Livraria e editora Corisco Ltda., de Teresina (PI). O “copyright” dessa edição está em nome do filho Jorge Gonçalves);

3) o roteiro para cinema baseado no conto “Fogo”;

4) e 5) os romances inacabados, provavelmente perdidos, "Paissandu, nº 9" e "Caminho das Águas Turvas", ambos de antes de 1957;

6) o livro de crônicas "Conversa Tão Somente", publicado em 1957;

7) o romance "Roteiro das 7 Cidades", publicado em 1963, dedicado a Luís da Câmara Cascudo, que Vítor chama de “o mestre”, a Odylo Costa, filho (“o amigo”) e “para Rachel de Queiroz, que – quando eu [Vítor] tinha 5 anos – foi minha primeira namorada”). “Roteiro das 7 Cidades” saiu também, como “3ª edição”, em 2015, número 47 da Coleção Centenário, da Academia Piauiense de Letras;

8) o livro (supostamente de crônicas) "Gentes e Chãos Eternos", anunciado em 1963; e

9) "Sem Compromisso – 100 Crônicas", esperado para 1978. Acerca deste, testemunhei também o Vítor passando as crônicas a limpo, rebatendo-as nas tiras de papel-jornal que ele usava como padrão para laudas do semanário que ele dirigia, "O Pioneiro". Não estarei enganado se disser que vi o maço de papéis com a centena de crônicas, datilografadas em vermelho.

Em 1995 foi publicado o décimo livro de Vítor Gonçalves Neto, edição “post-mortem” realizada por amigos de Caxias e Imperatriz: "Crônica das Andanças, dos Bichos, das Fêmeas e Outras Coisas Que Tais". O título do livro vem do nome da coluna, com pequena redução: no original, o nome da coluna tinha mais palavras, como “dos vivos e dos mortos”.

É importante ressaltar que Vítor já divulgara sua intenção de publicar um livro que reunisse crônicas dessa coluna, tanto que chegava a anotar ao final delas: “Reproduzida após revisão e seleção para livro em preparo” (sublinha nossa). Textos com essa observação podem ser vistos em edições de “O Pioneiro” dos primeiros meses de 1989. Do mesmo modo, conforme já anotei aqui, Vítor Gonçalves pretendera publicar, uma década antes, um livro de crônicas da mesma coluna, à época intitulada “Sem compromisso”.

"Crônica das Andanças (...)" reúne 25 pequenos textos de grande intensidade poética e imaginativa.

Embora modesta em forma, a obra é produto da consciência, da estima e dos esforços muitos de muitas pessoas: os poetas Renato Menezes e Jorge Bastiani, que fizeram a seleção dos textos; a família Gonçalves, na pessoa de dona Edna Silva Gonçalves, que deu o “de acordo” para a publicação; os autores dos textos que engrossam o livro e ratificam seu respeito, admiração e saudades do Vítor; novamente Renato Menezes, pela Editora Caburé (Caxias) e Adalberto Franklin (um piauiense maranhense que nem o Vítor) e equipe da sua Ética Editora, pelo empenho e especial carinho com que cuidaram da edição. À distância, mas chegando junto por intermédio dos onipotentes e onipresentes recursos da Informática e das teletecnologias, auxiliei na coordenação e formatação da edição. E assim este livro saiu em exatas duas semanas.

Em 2012, é publicado “Simplesmente Crônicas”, livro de Vítor Gonçalves Neto, com seleção de textos e organização de Quincas Vilaneto (Joaquim Vilanova Assunção Neto), escritor e pesquisador caxiense, e prefácio de Edmilson Sanches. A edição teve o apoio da Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FAPEAD), criada em 2003 e vinculada à Universidade Estadual do Maranhão.

*

A obra publicada nunca coincide com a obra produzida. Esta será sempre maior; a outra nunca necessariamente a melhor.

Muita coisa do Vítor e sobre o Vítor ainda está para ser feita. Precisa ser feita. Tem de ser feita. Vai ser feita.

Sua obra em verso (afora a poesia da sua prosa).

Os trabalhos feitos no Rio, em Salvador e São Luís, para citar só as cidades de primeira lembrança.

Seu material iconográfico.

Os livros que recebeu, autografados e dedicados.

Levantamento de seus personagens.

Mapeamento de localidades.

Indexação de assuntos.

Frequência vocabular.

Suas relações com grandes nomes do jornalismo, da literatura e da cultura regional e nacional.

... É um mundo de coisas que tem para ser recuperado, (re)trabalhado, divulgado, discutido. Afinal, Vítor Gonçalves começou nas redações aos dez anos de idade. Quase 55 anos de batente, vendo e escrevendo. Ouvindo e indo.

Com certeza os milhares de textos (artigos, crônicas, reportagens, poemas) de Vítor Gonçalves Neto no Piauí, Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro etc. formariam dezenas de livros, caso autoridades públicas e empresários financiassem a pesquisa, organização e publicação desse extenso material. Mas isto, e esperando saudável desmentido, só mesmo no mundo da imaginação...

O lançamento de "Crônicas das Andanças (...)" foi mais que uma homenagem ao Vítor que renascia setentão naquele 4 de novembro de 1995: foi também um exemplo, um estímulo e um alerta para as gerações caxienses de hoje e dos dias que hão de vir: não devemos esquecer as referências básicas da História e da Cultura de nossa comunidade. E Vítor Gonçalves Neto é uma dessas referências.

Talvez Vítor nem gostasse de tanto bafafá e ti-ti-ti. Porém chega um tempo em que não podemos fazer nossos gostos: é quando deixamos de ser realidade semovente e nos tornamos saudade permanente. As situações se invertem. Por exemplo, como jornalista e escritor, Vítor não podia escrever sem história.

Agora, não se pode escrever a História sem ele.

EDMILSON SANCHES

Ilustrações:

Capa dos livros "Crônica das Andanças", de 1995, “Conversa Tão Somente” (1957), “Roteiro das 7 Cidades” (1963), “Fogo”, 4ª edição, 2002), “Simplesmente Crônicas” (2012) e revista “Verbo”, da Academia Imperatrizense de Letras, número 17, março de 2005. O livro "post-mortem" “Crônicas das Andanças” traz na capa rara foto de Vítor Gonçalves Neto. A foto foi feita por Edmilson Sanches, com Vítor andando na larga calçada em frente à Associação Comercial, em Caxias, na década de 1980, durante visita do jornalista gaúcho Mário Gusmão, que era presidente da Associação Brasileira de Jornais do Interior (ABRAJORI).

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) deste ano é: “Desafios para o o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. 

A informação foi divulgada, neste domingo (5), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Além da prova de redação, na tarde de hoje, os candidatos inscritos no Enem fazem as questões de linguagens e códigos e de ciências humanas. A prova começou às 13h30, e o horário de término é 19h (horário de Brasília).

A prova de redação exige a produção de um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política. O candidato deverá defender um ponto de vista apoiado em argumentos consistentes, estruturados com coerência e coesão, formando uma unidade textual.

Também deve elaborar uma proposta de intervenção social para o problema apresentado no desenvolvimento do texto. Essa proposta deve respeitar os direitos humanos.

Ao elaborar a redação, os participantes devem ficar atentos às cinco competências que serão exigidas do texto:

* Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa;

* Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa;

* Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista;

* Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação;

* Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.

Entre os critérios que podem conferir nota 0 à redação, estão a fuga ao tema, texto com até sete linhas, trecho deliberadamente desconectado do tema, desobediência à estrutura dissertativo-argumentativa e desrespeito à seriedade do exame.

(Fonte: Agência Brasil)

A atriz Lolita Rodrigues morreu na madrugada deste domingo (5), aos 94 anos, em João Pessoa, capital da Paraíba. Ela estava internada para tratar de uma pneumonia. Lolita, que era atriz, cantora e apresentadora, foi também uma das pioneiras da TV brasileira.

Batizada como Sylvia Gonçalves Rodrigues Leite, Lolita adotou o nome artístico e iniciou a carreira participando de radionovelas, logo despontando como cantora de rádio. Passou pelas rádios Record, Bandeirantes, Cultura e Tupi, chegando a ganhar dois Troféus Roquette Pinto como Melhor Cantora.

Na inauguração da TV Tupi, em 1950, cantou o hino especialmente feito para aquela ocasião, o Hino da Televisão Brasileira, com letra do poeta Guilherme de Almeida. Apresentou os programas Almoço com as Estrelas e Clube dos Artistas, na TV Tupi de São Paulo.

Como atriz, interpretou a cigana Esmeralda, sua primeira protagonista, na telenovela O Corcunda de Notre Dame. Participou também da primeira telenovela diária, a 2-5499 Ocupado, formando um triângulo romântico com Glória Menezes e Tarcísio Meira. Atuou também em A ViagemUga UgaKubanacanZorra Total e Viver a Vida.

Lolita participou de um momento icônico no programa de Jô Soares. No dia 7 de abril de 2000, ela ocupou o mesmo sofá das amigas Hebe Camargo e Nair Bello.

Nas redes sociais, famosos e amigos despedem-se e prestam homenagens à Lolita. O apresentador Serginho Groisman postou: “Lolita hoje se junta a Nair, Hebe e Jô. Risadas garantidas no céu”.

Em uma postagem no Instagram, a atriz Lilia Cabral contou que tinha 8 anos quando conheceu Lolita. “Nunca esqueci”, relembrou. 

“A Lolita era uma grande mulher, forte, inteligente, elegante, muito talentosa e linda. Jamais irei esquecer seu carinho e seu olhar tão responsável pelos profissionais da TV e seu amor. Meus sinceros sentimentos à família. Lolita, querida, as nossas conversas dariam um belo capítulo. Obrigada”, acrescentou. 

O apresentador Cid Moreira postou um vídeo na conta do Instagram: “Me despeço da última do trio mais alegre que conheci na TV. Meu abraço aos familiares de Lolita Rodrigues que vai reencontrar suas amigas Hebe e Nair Bello e juntas vão se divertir no céu!”.  

A TV Brasil também prestou uma homenagem à atriz. “Hoje, o Brasil se despede de uma das atrizes pioneiras da TV Brasileira. Lolita Rodrigues faleceu nesta madrugada, 5/11, aos 94 anos. A atriz, cantora e apresentadora estava internada para tratar de uma pneumonia. Todo nosso carinho aos fãs, familiares e amigos de Lolita”. 

(Fonte: Agência Brasil)