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Lembrando papai… MAIA RAMOS E AS RAÍZES*

Maia Ramos, o poeta das cores e da sensibilidade, que conquistou aplausos quando da sua primeira exposição de pintura ao lado de Pavão, Garcês e outros, apresentou-se, agora, na Exposição do Artur Azevedo com uma amostra de escultura, trabalho de raízes que atraiu, para ele, o registro das mais encantadoras impressões.

E é melhor dizer que Maia Ramos recebeu a consagração dum grande público. Não há nenhum exagero nesta nossa afirmativa. E, junto das raízes, dois belíssimos quadros onde o pintor ressaltou, com maestria, o domínio duma concepção artística muito sua.

Maia Ramos cria. Idealiza. Sente as emoções da arte, da sua arte. Atinge os seus objetivos. Impressiona. Mas, com as raízes, surge o escultor admirável. Colhe o material bruto e, nele, realiza o trabalho do aperfeiçoamento, dá forma, dando-lhe vida, corpo e alma. Dá-lhe grandeza e movimenta-o para um realismo que tem algo de imortalidade, do que é eterno.

As raízes tomam, nas mãos de Maia Ramos, a corporificação duma ideia que se humaniza, que se identifica com as impressões. São raízes que falam, que vivem, que têm magia, atores de personagens diversas. Na origem, isto é, na forma natural, indicam uma identificação difícil, mas que o escultor Maia Ramos consegue o milagre da comunicação exterior.

Então, aquela raiz apanhada, bruxa, transforma-se. Surge numa a bailarina na exaltação duma mensagem comovente. Um grito, um agitar de libertação. Seus braços traduzem a mensagem da alma no sentido do voo, de sair da terra, despregar-se da seiva vitalizadora.

Não é possível encontrar a palavra exata para registrar estas impressões. Não. O certo é ficar horas e horas olhando as figuras que se manifestam, que se personificam, que se agitam até. Admirável.

Maia Ramos caminha para o aperfeiçoamento do seu talento artístico. Está sempre criando e produzindo belezas. Sente-se, nos seus trabalhos, a presença das suas emoções mais íntimas. Sua alma no transbordamento da sua “alma de artista”. Sua alma no recolhimento, sua alma no esbanjamento das suas energias criadoras. Força dum pensamento evoluído. Não há em Maia Ramos, neste seu trabalho de raízes, nenhuma influência. Aí ele se isola, aí ele imprime a sua própria individualidade: um artista.

Na pintura, há, também, um muito de independência. Não se deixou envolver pelas exigências desta ou daquela escola. Não. Seus quadros revelam a sua própria maneira de sentir, de conceber, de criar. Dominas as cores, e os seus noturnos têm a pureza dos seus sentimentos libertos, livres do estetismo das “escolinhas de arte”.

Na produção das raízes, Maia Ramos, na Exposição do Artur Azevedo, conquistou, mais uma vez, a preferência do público, da assistência que lá estava.

Alma simples, o artista português, maranhense pelo coração, pelo batismo purificador destes céus, na Natureza Criadora, da Ilha na iluminação do Sol, das estrelas, soube merecer a espontaneidade da admiração de todos. Uma conquista sua, do seu talento, de sua arte.

Maia Ramos surpreendeu a todos e de todos, ao lado da esposa, sua companheira, sua amiga, vibração de inteligência, também de sensibilidade, foi alvo desta homenagem que sublima o espírito e consagra as grandes realizações, os grandes feitos duma inteligência privilegiada.

Este é o nosso pensamento. É a nossa homenagem que tem, acreditamos, a participação da homenagem popular, do povo, dos intelectuais maranhenses.

E repetimos, aqui, aquela exclamação da intelectual maranhense Arlete Nogueira, olhando os trabalhos de Maia Ramos, emocionada: “É uma coisa!”

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 18 de julho de 1967 (terça-feira).