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Oito anos depois*

JOÃO RENÔR FERREIRA DE CARVALHO

(Riachão/MA, 1º/5/1944 – São Luís/MA, 20/3/2016)

– Mestre e doutor em História na França é patrono da Cadeira 22 da Academia João-lisboense de Letras. Foi membro das academias de Letras de Imperatriz e de Pastos Bons e membro correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias. É patrono da Cadeira 17 do Instituto Histórico e Geográfico de Imperatriz (IHGI).

* * *

O dia 20 de março, em 2016, foi um domingo. Naquela data, tive de passar adiante a informação que eu não esperava dar: morrera naquela manhã dominical, no Hospital Carlos Macieira, em São Luís (MA), o professor, doutor em História e escritor João Renôr Ferreira de Carvalho.

João Renôr estava internado em São Luís, desde a primeira semana de março de 2016. Fora submetido a uma intervenção cirúrgica no Hospital Socorrão 1. Amigos fizeram uma “corrente” para que ele fosse transferido para um hospital com mais recursos. Foi para o Hospital Carlos Macieira.

Desde 18/3/2016, por meio do professor e amigo comum Jessé Cutrim, eu ficara sabendo do agravamento do quadro. Um casal de filhos do João Renôr já estava ao lado do pai, acompanhando o que se pretendia fosse sua recuperação.

Mas, naquele domingo, há oito anos, a notícia final. Fatal. João Renôr, historiador e pesquisador dos mais prolíficos do nosso Estado e ainda do Piauí, Amapá e Amazônia em geral, professor de gerações, doutor, ex-reitor, deixava a vida para entrar na História – como, em ambiente trágico, escreveu o ex-presidente Getúlio Vargas.

João Renôr faleceu na manhã de 20/3/2016. O velório teve início às 16h, na funerária Pax União, em São Luís. Na segunda-feira, 21/3/2016, às 10h, o corpo foi à cremação em cemitério do município de Paço do Lumiar (MA). As cinzas foram lançadas no encontro dos rios Solimões e Tapajós, na Amazônia, região que Renôr tanto pesquisou e sobre a qual tanto escreveu.

Como registrava em seu próprio blog, João Renôr Ferreira de Carvalho nasceu em Riachão (*), no sul do Maranhão, “filho de agricultor sem terra e de mãe analfabeta descendente da Nação Indígena Timbira”. Bacharel em História pela Universidade Federal de Pernambuco, em Recife, em 1972. Fez mestrado em Geografia Humana no Institut d'Etudes du Dévéloppement Economique et Social da Universidade de Paris I (Sorbonne, 1975) e doutorado em História Latino-Americana pelo Institut Des Hautes Etudes de L'Amérique Latine na Universidade de Paris III (Sorbonne, em 1979).

Renôr foi professor titular do Departamento de Geografia e História da Universidade Federal do Piauí. Na área de História, tinha ênfase em História do Brasil, História da América Latina, atuando principalmente nos seguintes temas: Indigenismo Brasileiro e Amazônico, Memória, História do Maranhão, História da Amazônia e Etnologia de comunidades tribais do Nordeste.

Além dos muitos encontros em instituições e o sem-número de conversas particulares, João Renôr e eu costumávamos nos encontrar em ônibus que faziam linha pelas estradas do Maranhão – eu, em geral viajando para ministrar palestras ou prestar consultorias culturais, editoriais, jornalísticas ou em administração pública e empresarial. Já o Renôr, sempre cheio de planos, muito produtivo, “elétrico”, energizado. Era um gigante que o corpo miúdo parecia não caber.

Autor de mais de 30 livros, foi reitor da Universidade Federal do Amapá e ensinou na Universidade Estadual do Maranhão, inclusive em Imperatriz, para onde vinha com muita frequência e onde era membro, e meu colega, da Academia Imperatrizense de Letras, entidade que fundei há 33 anos, em 27 de abril de 1991, e que presidi duas vezes.

Em homenagem ao amigo Renôr, em homenagem ao seu trabalho, escolhi seu nome como patrono da Cadeira nº 22, que ocupo na Academia João-lisboense de Letras, no município de João Lisboa (MA).

Aposentou-se como professor da Universidade Federal do Piauí, onde, a partir da capital, Teresina, dividia com um amigo comum, o advogado e acadêmico Celso Barros Coelho, as responsabilidades pela Academia de Letras, História e Ecologia da Região Integrada de Pastos Bons, da histórica cidade de mesmo nome, no sul do Maranhão.

Riachão, Imperatriz, Pastos Bons, o Maranhão, Teresina, o Piauí, o Amapá, o Amazonas e a Amazônia e o Brasil certamente ficaram órfãos dos estudos e do enorme amor pessoal e, sem trocadilho, histórico que João Renôr tinha por essas cidades, por esses Estados, por essas regiões e por nosso país.

E nós, seus amigos e colegas, ficamos órfãos da amizade, do bom humor e de seus trabalhos históricos que nos tornavam mais senhores de nossa própria História.

Depois de tanto caminhar, de tanto caminhar por Estradas, por selvas, por cidades e países, por tribos e academias, João Renôr, cedo ainda, foi descansar o descanso eterno.

Fique em paz, amigo.

*

(*) Alguns registros, inclusive em livro, dão João Renôr como nascido em Fortaleza dos Nogueiras (MA). Pode até ser que o lugar exato onde João Renôr tenha nascido integre territorialmente a área desse município maranhense. Entretanto, além da anotação do próprio João Renôr de que nasceu em Riachão, consigne-se que Riachão, existente desde 1808 e elevado à categoria de vila em 1835, tornou-se município em 1911. João Renôr nasceria aí 33 anos depois, em 1944. Quatro anos depois do nascimento do grande professor e historiador, é que Fortaleza dos Nogueiras, em 31 de dezembro de 1948, passou a integrar oficialmente o território de Riachão, como distrito, conforme a Lei Estadual 269/48, reconfirmada em 1º de julho de 1950 e, novamente, dez anos depois, em 1º de julho de 1960. Apenas no ano seguinte, em 22 de novembro de 1961, quando João Renôr contava 17 anos de idade, o distrito riachãoense de Fortaleza dos Nogueiras foi criado como município, conforme a Lei Estadual nº 2.155/61, obviamente, desmembrado de Riachão.

* EDMILSON SANCHES

FOTOS:

O professor João Renôr, com duas de suas obras (inclusive uma edição anotada, crítica, de “O Sertão”, de Carlota Carvalho). E, devidamente paramentado, em reunião na Academia Imperatrizense de Letras (é o primeiro à esquerda, seguido de seus Confrades Benedito Batista e Jurivê de Macedo (ambos falecidos), professoras Edna Ventura e Liratelma Cerqueira e Edmilson Sanches e José Bonifácio César Ribeiro (Zeca Tocantins).