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Lembrando papai… NO PELOURINHO DAS INTERROGAÇÕES II*

E continuamos diante do governador Newton Belo. Temo-lo hoje na recordação do antigo Liceu Maranhense, aluno que foi de homens, cada um, um exemplo de altas virtudes cívicas, cada um, um exemplo de energias indomáveis, de atitudes inconfundíveis.

Em cada um, a firmeza das resoluções inabaláveis, transmitindo, para os seus alunos, a lição duma rígida educação moral e intelectual, tais como Juvêncio Matos, Machadinho, Luís Viana, Antônio Lopes, Nascimento Moraes e tantos outros que transmitiram para o aluno Newton Belo, na decorrência da vida pública de cada um deles, os mais fortalecidos ensinamentos de honra e de dignidade humana.

E, com tais lembranças, continuamos a perguntar ao atual governador do Estado:

“V. Exª  vai mesmo deixar a consumação de um inquérito irregular, estropiado, nulo, servir como amparo, visando afastar da ação punitiva da JUSTIÇA os verdadeiros mandantes e executores do crime de que foi vítima o fiscal José Nascimento Moraes Filho por ter cumprido uma mínima parte das determinações recebidas pelo seu secretário de Fazenda?

Será que V.Exª vai mesmo aceitar o “monstrengo inquérito” do tenente Nepomuceno em que aparecem os surradores-fantasmas, testemunhas falsas, para com a cumplicidade de V.Exª permitir que de fora fiquem os verdadeiros executores da tentativa de morte de que foi vítima o fiscal de Renda do Estado, executor das ordens de V.Exª que agia de acordo com V.Exª, pois que estava pondo em prática um novo plano de fiscalização que mereceu tanto de V.Exª , como do secretário de Finanças do governo de V.Exª, amplo apoio, que teve a aprovação de V.Exª?

Será que V.Exª foi mesmo quem mandou que o seu confuso e frágil e temeroso chefe de Polícia, inutilizasse, com outra portaria, o inquérito que fora aberto na Delegacia Auxiliar, da capital, determinando outro com a preocupação de que, neste, tudo se faça sob medida, sob o protecionismo criminoso que objetiva apenas pôr fora da identificação criminal a participação no espancamento, como um dos mandantes, o pai do genro de V.Exª?

Será mesmo que V.Exª vai chegar ao ponto de se voltar contra V.Exª, pois que a violência sofrida pelo fiscal Nascimento Moraes Filho atingiu, em cheio V.Exª, o chefe do Poder Executivo?

Será que V.Exª vai deixar ficar adormecidas as reações extraordinárias do caráter de V.Exª, da formação moral de V.Exª?

Será que V.Exª vai justificar tudo isto que já se tem dito de V.Exª, ser V.Exª um homem incapaz de reagir quando está em jogo os interesses políticos de V.Exª, dos amigos de V.Exª?

Será que V.Exª, em vez de escolher a melhor posição, a melhor atitude, tenha V.Exª resolvido se deixar ficar com os braços cruzados, o olhar perdido na culpa de V.Exª, deixando que se faça um inquérito sem consistência jurídica, sem o realismo dos acontecimentos que se verificaram na estrada de Lima Campos, no limite com Coroatá onde se realizou o massacre do fiscal Nascimento Moraes Filho?

Será que V.Exª, em vez de exigir que se faça um inquérito rigoroso, honesto, imparcial, deixando que apareçam, no processo, os elementos indicados pela vítima como seus agressores, que se identifique os mandantes, procure V.Exª, concorrer com a ajuda de V.Exª, para que tudo fique solucionado dentro de um plano de ação condenável com o propósito de afastar da cumplicidade o deputado e comerciante Francisco Sá, só pelo fato dele ser pai do genro de V.Exª?  Será isto V.Exª?

Será que V.Exª, tomando conhecimento do que de monstruoso se passou com o fiscal de Renda do Estado, não tenha provocado em V.Exª, ao menos, uma parcela de solidariedade humana?

Já teria pensado V.Exª no estado moral de nossa mãe, ao ver o filho chegar em casa espancado, chutado, pisado no rosto, esmurrado que foi na cabeça, o filho que não roubou, que não matou, que não cometeu indignidades, mas que estava cumprindo com o seu dever, que estava em serviço do Estado, dos interesses do Estado, dos interesses do governo de V.Exª?

Não pôde V.Exª sentir isto?  Será mesmo V.Exª, que V.Exª, vai cooperar com a canalha interessada para que não haja punição para os verdadeiros culpados, mandantes e executores?

Estará V.Exª disposto a arcar com a responsabilidade do crime cometido, deixando que a “missão Nepomucena” prossiga com o objetivo de afastar das acusações feitas pela vítima contra os seus verdadeiros espancadores, contra um dos principais mandantes, que é esse comerciante Chico Sá? Será V.Exª?

Será que V.Exª quererá chegar ao fim do governo de V.Exª com esta acusação de ter atraído para V.Exª a cumplicidade do atentado de morte de que foi vítima um dos seus mais dignos e eficientes funcionários do serviço de fiscalização de renda do Estado na declaração feita pelo secretário de Finanças quando em ofício solicitava ao chefe de Polícia de V.Exª a abertura do 1º inquérito?  Será V.Exª?

Bem, cabe a V.Exª responder a essas perguntas, respostas pelas quais, intranquila, espera a família Nascimento Moraes, na pessoa emocional de nossa mãe, a mãe de José Nascimento Moraes Filho, na sua avançada idade de 82 anos, ainda lúcida, ainda admirável, ainda ungida pela fulguração dos sentimentos maternos que também pergunta a V.Exª: “Será governador Newton Belo que o meu José vai mesmo ficar, agora, sendo vítima da injustiça de V.Exª, que V.Exª vai mesmo ou já está mesmo protegendo os espancadores do meu filho, acobertando os covardes mandantes do meu filho? Será V.Exª?”

E nós dizemos a V.Exª, repetindo: V.Exª ainda poderá voltar atrás e reagir, salvando a dignidade de V.Exª, do governo de V.Exª. Ainda pode.

* Paulo Nascimento Moraes. “A Volta do Boêmio” (inédito) – “Jornal do Dia”, 19 de janeiro de 1964 (domingo).